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Autor da Lei Estadual que criou a Uenf avalia as três décadas da universidade

O jornalista e ex-deputado estadual Fernando Leite relembra os desafios para tornar realidade a Universidade Estadual do Norte Fluminense

Entrevista
Por Ocinei Trindade
22 de agosto de 2023 - 12h18
Ex-deputado estadual Fernando Leite avalia sobre os 30 anos da Uenf que ajudou a criar em 1991 (Foto:Acervo Pessoal)

O jornalista Fernando Leite foi eleito como deputado estadual para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, em 1989. O seu mandato na Alerj foi marcado pela autoria da Lei Estadual 1.740/91 que autorizava o Poder Executivo a criar a Universidade Estadual do Norte Fluminense. Na ocasião, vários políticos, intelectuais, professores e estudantes de Campos dos Goytacazes participaram de uma intensa campanha pela instalação de uma universidade pública na cidade.

A Uenf foi inaugurada oficialmente em 16 de agosto de 1993. Neste mês, o J3News destaca reportagem (clique aqui) e entrevistas sobre as três décadas da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Nesta entrevista, Fernando Leite relembra o período de lutas e desafios políticos para criar a Uenf.

Passados mais de 30 anos, desde quando era deputado estadual, quando ajudou na aprovação da Lei de sua autoria que criou o início da Uenf, o que avalia desse período?

O tempo era efervescente, final da década de 1980, primeiros anos da década de 1990. Politicamente, acabávamos de eleger o primeiro presidente civil pelo voto popular, depois da longa noite de chumbo. O Collor e modo contínuo, o povo na rua, a estudantada, proclamava o seu impedimento por envolvimento em corrupção. Brizola era eleito governador do Estado do Rio de Janeiro e, aqui, na Planície, as forças populares e democráticas já havia se antecipado e feito cravar na Constituinte de 1988 a criação da ansiada UENF.    

É verdade que três décadas, historicamente, são um hiato temporal, mas a nossa universidade, além de se situar como um centro nervoso de saberes, simbolicamente apontava para o “descoroamento”, da desconstrução dos velhos coronéis da política em latu senso, e o movimento “Muda Campos” hasteava sua bandeira da modernidade.

Um dos prédios do campus da Uenf (Fotos:Silvana Rust)

Qual importância da Uenf para Campos e região?

Devo fazer um esclarecimento aqui. A Universidade Estadual do Norte Fluminense foi a causa do meu mandato de deputado estadual, entre 1990 e 1994, do século passado. Fui eleito com esta missão, uma vez que a grande bancada metropolitana, amplamente majoritária, num colégio de 70 parlamentares,  seguindo lobby da UERJ, fez constar no texto da lei de meios que, se a universidade não estivesse efetivamente implantada num prazo de dois anos, a partir de sua criação, ela deixaria de existir e a UERJ interiorizaria alguns de seus cursos.

Era uma armadilha, considerando a complexidade de instalação de uma universidade do terceiro milênio, erigida sob o conceito do sociólogo Darcy Ribeiro. Eu sofri, como quem passa pela dor do parto. Para você ter uma ideia, nem no meu partido, o PDT, eu tinha apoio para a votação do projeto autorizativo que abria as portas da nossa UENF. Chorei muito no banheiro.

Centro de Convenções Oscar Niemeyer (Apitão) da Uenf

O que poderia contar sobre a luta pela criação da Universidade Estadual do Norte Fluminense e o que mais lhe chamou à atenção no início dos anos 1990?

A despeito da nossa Uenf se apresentar como a síntese das experiências de Darcy como semeador de universidades pelo mundo. Constituir-se num templo de saber vocacionado para a antiga Capitania de São Thomé, a porta de entrada para um mundo novo. Não fossem, as figuras políticas de Leonel de Moura Brizola e Darcy Ribeiro, nós não teríamos a nossa Uenf. Estes dois senhores, potentados da política, últimos estadistas, foram protagonistas. Nós outros, coadjuvantes.

Como observa o desempenho da Uenf atualmente?

Eu estive a um passo de frequentar um Mestrado de Cognição e Linguagem, mas, lamentavelmente, tive um diagnóstico de Parkinson, o que me impediu de me envolver mais intensamente com o fazimento de novos conceitos educacionais; avaliar, como beneficiário desta usina de conhecimento.

As crises que assolam nossa Universidade vão deixá-la, ao final, mais robusta, e imune a politicas menores que, via de regra, colocam o Governo como grande vilão e a Universidade como vítima, numa relação, absurdamente beligerante, quando, na essência, são (e deverão ser) parceiros incondicionais.

Sem o Governo,inexiste o indispensável ensino público e gratuito; sem a universidade a administração é um mero modelador de obras físicas, mas não edifica o futuro.

O que espera do futuro para a universidade?

Há uma expressão muito utilizada pela mídia que é “ocupar seu lugar de fala”. Nesse sentido, as universidades tiveram papel destacado durante a recente pandemia da Covid-19; falaram e agiram como centros de ciência e desenvolvimento humano. Quero que assim, como o coronel Ponciano de Azeredo Furtado (personagem de O Coronel e o Lobisomem, de José Cândido de Carvalho), levou para o mundo a cultura da baixada da égua, os luminares da Uenf levem o nosso conhecimento afora.

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