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Ambientalista analisa investimentos em usinas termelétricas na região

Aristides Soffiati se preocupa com riscos de desequilibrio ambiental em cidades do Norte Fluminense

Entrevista
Por Ocinei Trindade
8 de julho de 2022 - 9h49
Aristides Soffiati é ambientalista e historiador

A reportagem especial do Terceira Via desta semana, “Com 13 novas termelétricas, região Norte produzirá mais energia que Itaipu” (clique aqui), ouviu diversos especialistas em energia elétrica, sobre investimentos deste segmento em Macaé, São João da Barra, São Francisco de Itabapoana e Campos. O historiador e ambientalista Aristides Soffiati não esconde ser um crítico severo a esse modelo de energia que, segundo ele, compromete uma série de questões ambientais e econômicas na região.

Como avalia a criação dessas unidades para geração de energia nas cidades da região?

Parece uma irracionalidade do ponto de vista puramente econômico. Ou a região terá um parque industrial que exija muita energia; ou essa energia será exportada para outras regiões; ou ainda esses empreendimentos correm o risco de falir por falta de demanda.

Como observa a utilização de terme´létricas, suas vantagens e desvantagens para o país?

O tempo das termelétricas a carvão, óleo e gás já passou. Os cientistas demonstraram que todo combustível fóssil emite CO2 e contribui para mudanças climáticas que ameaçam a própria economia que contribui para elas. No tempo em que o Complexo Industrial-Portuário do Açu era ainda controlado por Eike Batista, houve projetos de termoelétrica a gás e a carvão defendidos por técnicos e cientistas nas audiências públicas. Eles diziam que os críticos dessas fontes de energia estavam defasados. Que novas técnicas de aproveitamento do carvão estavam reabilitando esta fonte fóssil de energia. Esse argumento não se sustentava há dez anos e se sustenta menos ainda na atualidade.

Do ponto de vista econômico e ambiental, como observa a utilização das termelétricas e qual o impacto que elas causam nessas áreas?

Já tive a oportunidade de me posicionar oralmente e por escrito sobre os projetos de termoelétricas em Macaé, no Açu e em São Francisco de Itabapoana. Além da contribuição que todas elas vão dar para as mudanças climáticas, as termoelétricas projetadas para Macaé serão resfriadas com água do Rio Macaé, que está no seu limite. Esse rio fornece água para abastecimento público de Macaé e Rio das Ostras e atende a Petrobras. Na década de 1970, ele foi dragado e canalizado, jogando no mar uma imensidão de água doce formadora do Brejo da Severina. Os cientistas do Nupem-UFRJ já demonstraram que o rio Macaé corre o risco de colapsar. Como então atender, então, ao consumo de água por outras tantas termoelétricas?

A questão do abastecimento é o que mais chama à atenção? Quais alternativas sugere?

O Porto do Açu deveria estar investindo em parque eólicos no continente e no mar, de onde vem a água para resfriamento das duas termoelétricas. No caso de São Francisco de Itabapoana, o projeto portuário e energético é megalomaníaco. O empreendimento compromete o córrego de Barrinha e a comunidade quilombola do mesmo nome. A água virá do Rio Itabapoana, já em franco processo de esgotamento pelas centrais hidrelétricas instaladas nele. E o mais grave é que o governo do Estado do Rio de Janeiro licencia tudo em nome de uma concepção de progresso já superada. O empreendimento de São Francisco de Itabapoana é perfeitamente dispensável. No máximo, ele deveria construir um parque eólico no mar.

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