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Pesquisador avalia o impacto das usinas termelétricas na região

Luiz Fernando Rosa Mendes é doutor em Ciências Naturais pela Uenf, e professor do Instituto Federal Fluminense

Entrevista
Por Ocinei Trindade
4 de julho de 2022 - 11h30
Luiz Fernando Rosa Mendes é professor do IFF e doutor em Ciências Naturais (Arquivo)

O professor do Institituto Federal Fluminense, Luiz Fernando Rosa Mendes, é doutor em Ciências Naturais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense. Ele é um dos especialistas entrevistados na reportagem especial do Terceira Via desta semana, “Com 13 novas termelétricas, região Norte produzirá mais energia que Itaipu” (clique aqui). Aqui, ele faz uma ampla análise sobre os prós e contras que considera a respeito dos investimentos no setor energético da região Norte Fluminense.

Como avalia a criação dessas unidades para geração de energia nas cidades da região?

Com certa cautela, pois a implantação das unidades de geração de energia elétrica precisa ser avaliada a partir dos aspectos sociais, econômicos e ambientais, e debatida em conjunto com a sociedade civil organizada dessas cidades, para buscar um equilíbrio dos três aspectos apresentados.

Como observa o custo para o funcionamento de uma unidade termoelétrica?

Bom, isso depende basicamente de alguns fatores, tais como: a tecnologia empregada e, consequentemente sua eficiência; o tipo de combustível empregado; a logística de entrega do combustível à termoelétrica, etc. Dessa forma, a título de comparação, no leilão de energia realizado em 2019, o custo da geração termoelétrica a gás natural, por exemplo, ficou em cerca de R$ 189,00 por Megawatt-hora (MWh), enquanto que a hídrica ficou em R$206,00 por MWh; a energia eólica ficou em R$99,00 por MWh; e a solar R$84,00 por MWh. Mas, em se tratando do custo de construção, podemos tomar como base o custo da termoelétrica GNA I no Complexo do Porto do Açú, que foi estimado em US$ 2,090 bilhões de dólares.

Qual a vantagem e a desvantagem para o uso de usinas termoelétricas no país?

A vantagem da utilização desse tipo de usina no país está relacionada com a segurança energética, pois elas podem atender demandas emergenciais a curto e médio prazo, em momentos de crises hídricas como verificadas entre os anos de 2013 a 2015, e também no ano passado.

Entretanto, a desvantagem para o país está no fato de que a maioria destas usinas termoelétricas utilizam combustíveis de origem fóssil, como o gás natural. Com isso, “sujamos” a nossa matriz elétrica, isso porque nela predomina as fontes renováveis de energia. Além disso, outro ponto é o custo do combustível utilizado nas termoelétricas, pois quando essas usinas são acionadas acarretam em aumento das tarifas de energia elétrica para todos os consumidores.

GNA 1 no Porto do Açu (Arquivo)

Do ponto de vista econômico e ambiental, como observa a utilização das termoelétricas, e qual o impacto que elas causam nessas áreas?

Do ponto de vista econômico, os impactos são positivos, tais como:

1) geração de empregos diretos e indiretos; 2) geração de receitas para os municípios; 3) fomento de outros negócios relacionados ao empreendimento termoelétrico. Do ponto de vista ambiental, podemos observar os seguintes impactos negativos, como:

1) a maioria das fontes de energia usadas nas usinas tem origem não renovável (gás natural ou carvão), que contribui para “sujar” a matriz elétrica brasileira;

2) por melhor tecnologia empregada na usina, a queima dos combustíveis fósseis não é completa; por exemplo, liberando assim muitos poluentes na atmosfera, como o dióxido de carbono (CO2) entre outros;

3) os poluentes liberados na combustão podem ocasionar chuvas ácidas, alterando o solo, a água e corroendo estruturas;

4) a emissão dos gases poluentes contribuem para a intensificação do efeito estufa no planeta e as mudanças climáticas globais;

5) elevado consumo de água durante o processo de geração de eletricidade. Entretanto, o gás natural é considerado um combustível de transição energética, ou seja, do ponto de vista das emissões de gases poluentes, queimar gás natural é melhor que queimar carvão mineral (combustível mais “sujo” e amplamente utilizado na geração de eletricidade mundial). Por outro lado, em termos ambientais, usar gás natural para produção de eletricidade não é melhor que usar fontes renováveis de energia (hídrica, eólica e solar), todavia as renováveis ainda não conseguem suprir boa parte da demanda por energia elétrica.

Obras da Usina Termelétrica Marlim Azul, em Macaé

A criação de um parque termoelétrico na região pode implicar em que tipo de desenvolvimento?

Bom, a concretização da região como um grande parque termoelétrico é inevitável, e vem se tornando uma realidade. Sendo assim, acredito que o desenvolvimento regional dependerá de como as políticas públicas municipais, as instituições de pesquisa e a sociedade civil organizada irão dialogar com os empreendimentos termoelétricos no intuito de buscar um maior equilíbrio social, econômico e ambiental para promoção desse desenvolvimento. Mas, podemos vislumbrar que os empreendimentos necessitarão de mão de obra e, essa por sua vez, poderia ser local. E como os empreendimentos necessitam de mão de obra qualificada, essa demanda poderia ser sanada a partir de integração entre os empreendimentos e as nossas instituições de ensinos técnico e superior. Outro ponto é a criação de um ambiente que promova e incentive a instalação de outras empresas na região. Por último, existe o Decreto Estadual nº 41.318/08 que dispõe sobre o mecanismo de compensação energética de térmicas a combustíveis fósseis a serem instaladas no Estado, instituindo o Mecanismo de Compensação Energética (MCE) como parte do Plano de Abatimento de Emissão dos Gases de Efeito Estufa, para combater o aquecimento global e reforçar a oferta energética no Estado do Rio de Janeiro, cabendo então a todos nós a cobrança para o efetivo cumprimento do Decreto.

Usina de Furnas em Campos

Para o consumidor ou contribuinte, o uso da energia termoelétrica reflete na hora de pagar a conta. Como avalia essa questão?

Em relação à matriz elétrica brasileira, a inserção de mais termoelétricas constitui em um retrocesso. Pois, como já mencionado, o custo da energia elétrica produzida pelas as termoelétricas é mais elevado em função do combustível utilizado, em geral gás natural, e como isso quem acaba “pagando a conta” é o consumidor final de energia. Além disso, o custo da eletricidade incide em vários produtos do nosso dia a dia.

O que gostaria de destarcar ainda sobre as termoelétricas na região?

Quero acrescentar a importância no desenvolvimento de sistemas de monitoramento, e também pesquisas que foquem na qualidade do ar em nossa região. Já pensando nessa nova configuração da região Norte Fluminense no futuro como um grande polo termoelétrico, que cada vez se torna mais real para todos nós.