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Tecnologia e redes sociais são alternativas na cultura de Campos

O diretor teatral Fernando Rossi avalia o momento de crise no setor artístico e aponta caminhos em tempos de coronavírus

Entrevista
Por Ocinei Trindade
21 de maio de 2020 - 14h59

Fernando Rossi dirige o Teatro de Bolso Procópio Ferreira (Foto: Fernando Cerqueira)

Jornal Terceira Via destaca esta semana como reportagem especial o futuro dos empreendimentos em Campos após a pandemia de Covid-19. Fernando Rossi, diretor do Teatro de Bolso Procópio Ferreira, é um dos entrevistados, juntamente com outros profissionais de diferentes segmentos da economia. Ele dirigiu a montagem “Traídas e traidoras: somos todas Capitus”, de Arlete Sendra, protagonizado por Katiana Rodrigues. A peça foi o único espetáculo teatral realizado em Campos este ano, no mês de março, quando foi decretado pelos governos estadual e municipal o início do isolamento social. Nesta edição, o artista aborda a crise do setor cultural com o advento da pandemia do novo coronavírus. Segundo ele, ainda são muitos os desafios e as incertezas para lidar, mas há apostas na tecnologia para promover arte e cultura.

Com a Covid-19, o setor de cultura parou. Como avalia este momento?

O momento é de calma e escuta, e de se cuidar também. Refletir nesta situação é também uma forma de ação.

Acredita que levará muito tempo para o setor se recompor e se recuperar?

Já vinhamos de momentos bens difíceis com o desmonte do Ministério da Cultura/Minc. Isto fez da Fundação Nacional de Artes/ Funarte um território para a propaganda de ideologias de ultradireita.  O vírus que nos fragilizou e adoece há pelo menos duas décadas, levando um contingente enorme de trabalhadores da Cultura a acreditar nas “oportunidades” do “empreendedorismo” de mercado, revelado agora,  diante de coronavírus, em sua perversidade, em sua potência de morte.

Como deve ser o futuro do teatro, cinemas, salas de espetáculo por causa da pandemia?

Há uma mutação em curso na cultura. Pautadas em objetivos financeiros e emergenciais ou no mero gesto criativo, essas iniciativas estão operando um giro nas artes da cena.

Arrisca dizer sobre o futuro do setor cultural  no país e no mundo?

No momento, não temos a dimensão onde o giro viral das artes da cena nos levará provocado pelo Coronavírus, uma potência de reinvenção, de criatividade, de inovação, que estamos longe de prever.

O que  pensa sobre o uso da tecnologia para divulgar arte neste momento?

Ao que tudo indica, uma relação de oposição às tecnologias não será mais possível. São elas que estão permitindo tanto o controle do vírus quanto a sobrevivência de muitos artistas no plano financeiro; são elas que estão assegurando o mínimo de contato humano e de comunitarismo; a circulação de informações vitais; bem como a manutenção de alguma saúde mental (alívio) nos espaços de confinamento, sobretudo os urbanos.

O que mais chama a atenção?

Professores de dança dão aulas online; coros cantam também pela web; grupos de teatro disponibilizam espetáculos filmados na integra em plataformas como Youtube; videoconferências de mestres do teatro são compartilhadas entre admiradores e aprendizes; em solo ou coletivamente, artistas performam para câmeras de celular ou computadores ao vivo; debates sobre teatro acontecem no formato live pelo Instagram; dramaturgos compõem textos colaborativamente pela rede; chamadas para dramaturgias sobre quarentena são lançadas nas redes sociais; textos teatrais são lidos em horário marcado, via net , a fim de reproduzir experiência de expectação comunal.

Que lições público e artistas podem aprender?

O teatro, a performance, a dança, o circo não morrerão, talvez se transmutem. Uma vez que o próprio vírus é mutável, seria no mínimo inteligente aprender a arte da mutação. Acolhendo o giro viral (tecnologia), mais que resistindo a ele.