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José do Patrocínio, quem foi?

Neste 13 de maio, conheça a história do abolicionista, escritor e jornalista que contribuiu ativamente em favor da libertação de escravos no Brasil

José do Patrocínio. Acervo do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes.

“Se toda propriedade é roubo, a propriedade escrava é um duplo roubo, contrária aos princípios humanos a que qualquer ordem jurídica deve servir”. Dono de uma retórica inflamada de inspiração socialista era o que se poderia esperar de um dos jornalistas mais polêmicos do Brasil. Filho do vigário João Carlos Monteiro com uma escrava quitandeira, Justina Maria do Espírito Santo, o então conhecido José do Patrocínio, nascido no dia 9 de outubro de 1853, na cidade de Campos dos Goytacazes, sabia do que falava e escrevia muito bem, pois era senhor por parte de pai e escravo por parte de mãe.

Seu nascimento é cheio de polêmicas históricas, visto que se criaram falácias na cidade sobre José do Patrocínio ter sido entregue na “roda dos expostos”, também conhecida como “roda dos enjeitados”, da Santa Casa de Misericórdia de Campos, como forma de esconder sua paternidade. No entanto, tal versão histórica ainda não foi comprovada documentalmente, indicando ser mais uma lenda em torno da “roda”.

Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Acervo da Biblioteca Nacional.

Apesar de nunca ter reconhecido a paternidade de José do Patrocínio, o vigário João Carlos criou seu filho em sua fazenda, na Lagoa de Cima. Com isso, desde pequeno, o menino conviveu com a violência empreendida contra os escravizados.

Cabe destacar que este personagem histórico nascido em nossa planície goitacá, considerada um dos maiores polos escravista do país, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a vida como servente de pedreiro. Pagando pelos próprios estudos, formou-se em Farmácia e, em 1875, descobriu a sua verdadeira vocação ao fundar o jornal – “Os Ferrões”. Assim começou sua carreira de jornalista, com seu estilo destemido e arrojado, assinando com o pseudônimo de “Proudhon”. Tornou-se um articulista famoso, o que levou a conhecer a Princesa Isabel.

Fundou outro jornal, a “Gazeta da Tarde”, no qual lhe projetou de tal forma que chegou a ser chamado de “Tigre do Abolicionismo”. Em maio de 1883, criou, com André Rebouças, uma confederação unindo todos os clubes abolicionistas do país. A revolução se iniciara. “E a revolução se chama Patrocínio”, disse Joaquim Nabuco.

Em 1885, foi promulgada a Lei dos Sexagenários, que concedeu a liberdade aos escravos com idade igual ou superior a 65 anos. Patrocínio retornou em visita para sua cidade natal, onde foi saudado pela população. De volta ao Rio de Janeiro, levou a mãe, idosa e doente, que viria a falecer no final desse mesmo ano. O sepultamento transformou-se em um ato político em favor da abolição, tendo comparecido personalidades como o ministro Rodolfo Dantas, Rui Barbosa e os futuros presidentes Campos Sales e Prudente de Morais.

Jornal “A Gazeta de Notícias”, sobre a extinção da escravidão e José do Patrocínio. Acervo da Biblioteca Nacional.

Mas infelizmente a trajetória de José do Patrocínio, que andava muito bem, passou por uma mudança repentina logo após a assinatura da Lei Áurea e depois de beijar as mãos da Princesa Isabel. Ele foi acusado de defender a monarquia no momento em que surgem diversos movimentos republicanos no país. Patrocínio era visto como porta-voz da monarquia por meio de seu novo jornal, “A Cidade do Rio”, fundado em 1887.

Rotulado como um “isabelista”, ele também foi acusado de estimular a formação da “Guarda Negra”, composta por escravos ex-escravizados que agiam com violência nos comícios republicanos. Neste mesmo período, publicou seu famoso romance “Mota Coqueiro”. Já o romance “Os Retirantes”, foi publicado em 1889, inspirado na seca do nordeste do Brasil, na qual presenciou de perto em suas visitas em prol da causa abolicionista.

Após a proclamação da República em 1889, entrou em conflito em 1892 com o governo de Marechal Floriano Peixoto ao apoiar a Revolta da Armada contra o regime republicano recente, sendo detido e exilado na Amazônia.

Em 1893, Patrocínio voltou para o Rio de Janeiro e continuou atacando o “Marechal de Ferro”. Sem apoio, seu jornal foi fechado, a falência bateu em sua porta e Patrocínio mudou-se para o subúrbio. Por anos ocupou-se de um projeto extravagante de construir um dirigível de 45 metros de comprimento, mas esse projeto jamais se ergueu do chão. Patrocínio também ficou conhecido por ter importado da França o primeiro automóvel que circulou no Brasil no ano de 1892.

Em 1905, o “Tigre do Abolicionismo” morreu, sendo considerado um monarquista, desamparado e imenso em dívidas. Anos depois seu corpo e o de sua esposa, Maria Henriqueta do Patrocínio, foram levados para o Pantheon dos Heróis Campistas, localizado no Palácio da Cultura de Campos.

Graziela Escocard – Historiadora

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