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Editorial: Mandetta resiste a fritura e Bolsonaro queima seu filme

Presidente foi convencido a manter no cargo o ministro da Saúde, apesar das discordâncias públicas entre os dois

Editorial
Por Editorial
7 de abril de 2020 - 7h52

Ao tentar fisgar o peixe que mais cresceu no lago do Palácio do Planalto, o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, para fritá-lo, o presidente Jair Bolsonaro por pouco não morde o próprio anzol. Dizem que quem fala demais acaba morrendo pela boca, e o presidente não tem conseguido conter sua língua, insatisfeito com o embate com Mandetta, que não aceita a intuição de Bolsonaro que insiste em considerar o isolamento social uma bobagem, o que equivale dizer que a ciência é desimportante.

Ontem, a frigideira ferveu no Palácio do Planalto, em uma reunião de todos os ministros. Bolsonaro já tinha sacado sua caneta e até mesmo escolhido um novo nome para substituir Mandetta. Só que, enquanto a frigideira fervia, ministros funcionaram como bombeiros, pois havia não apenas o risco de fritar um ministro, mas de provocar um incêndio no Governo Federal, com queimaduras de graus diferentes, pois o óleo iria atingir todos.
Colocar não panos quentes, mas compressas geladas, foi a missão de quase todos os ministros que participaram da reunião de ontem. Enquanto a reunião acontecia e bombeiros já estendiam uma rede de proteção, esperando a queda livre de Mandetta, moradores de Brasília batiam frigideiras e panelas, algumas de pressão, e pressionaram, formando a trilha sonora da maior crise do governo Bolsonaro com seu primeiro escalão.

Coube ao vice-presidente Mourão anunciar que a cozinha do Palácio do Planalto tinha sido arrumada, e os anzóis, recolhidos. Mandetta, sabendo que era o peixe da vez, se antecipou e mandou que funcionários esvaziassem as gavetas da mesa do seu gabinete no Ministério de Saúde. Não queria morder a isca e teria decidido sair antes, tamanho desconforto.

O peixe fora d’água morre asfixiado, como muitos brasileiros estão morrendo por causa do coronavírus, que ataca os pulmões. A ação dos demais ministros parece que oxigenou momentaneamente a situação e o ministro Mandetta sai da crise bem. Já o presidente Bolsonaro, longe de ser fritado, porque é o dono da cozinha, saiu chamuscado no mínimo.

Bolsonaro claramente tem outros peixes para pescar, e na mira do seu anzol estão os governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro, Estados com maiores número de casos de coronavírus no país, como também o maior número de mortes.

O presidente não precisava, no curso da maior pandemia desde o início do século passado, provocar uma endemia de desentendimento, exatamente com o ministro que está na linha de frente desta crise, cujo trabalho tem merecido elogio de todos, independentemente de partidarismo e ideologia.
O ministro ficou bem na foto, enquanto Bolsonaro, nesta questão, queimou seu filme.

Aloysio Balbi