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Campos, uma cidade universitária com mais de 25 mil alunos

Transporte e insegurança são as maiores queixas dos alunos

Educação
Por Camilla Silva
10 de setembro de 2023 - 0h01
Uenf | Atrai estudantes de todo o Brasil (Fotos: Silvana Rust)

Em meio às múltiplas facetas de Campos, uma das suas características essenciais muitas vezes passa despercebida: o papel que desempenha como ponto de encontro para milhares de estudantes universitários, muitos deles vindos de diversas regiões do país, em busca de oportunidades e que deixam um impacto na economia e na cultura locais. De acordo com dados do Fórum Interinstitucional de Dirigentes do Ensino Superior de Campos (Fidesc), a cidade abriga cerca de 25 mil estudantes matriculados em instituições de ensino superior públicas e privadas, além de mais de 30 programas de mestrado e doutorado. Isso coloca o município como um centro de excelência na pesquisa científica e inovação, embora pesquisadores argumentem que esse potencial ainda não tenha sido totalmente explorado. No entanto, desafios como a infraestrutura limitada, especialmente no transporte público, e questões de segurança, muitas vezes afastam os estudantes das atividades acadêmicas.

Fomento | Alto fluxo de estudantes nas universidades do
município faz a economia local girar

O número de estudantes matriculados em cursos de nível superior no município, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), fornecidos pela Fidesc, é de 26.392, sendo 6.088 da rede federal, 2.827 da rede estadual e 17.407 em instituições particulares.

Ana Beatriz Xavier

“Campos tem uma dinâmica muito particular nesse sentido. Ela é uma cidade do interior, mas com um contato frequente com a capital do Estado, e com uma diversidade de instituições de ensino superior muito grande. Poucos municípios tão distantes dos grandes centros urbanos possuem três universidades públicas e mais um volume significativo de universidades privadas. Isso naturalmente vai impactar na dinâmica do município, não apenas social, mas também em nível econômico. Um exemplo disso é a quantidade de pessoas  vindo estudar aqui, pagando aluguéis durante o período letivo.”, explica a pesquisadora, doutoranda em Sociologia Política da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Ana Beatriz Severo Xavier.

Alcimar Chagas

Se na década de 90 o ensino de Campos se destacou regionalmente por concentrar diversas faculdades particulares, atualmente, é o setor público que possui maior relevância na modalidade presencial, conforme explica o economista e professor universitário Alcimar Chagas. “Nesse processo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que distribui as vagas para o país inteiro, os estudantes têm essa possibilidade de se encaminhar para onde conseguem passar. Então, isso tem sido muito importante realmente”, defende.

Economia dinamizada

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Campos, Maurício Cabral, ressalta que atualmente o município atende a demanda do Espírito Santo, dos municípios fronteiriços de Minas Gerais, atingindo até o sul da Bahia. “A atividade tem um efeito multiplicador na economia local, ampliando a demanda nos setores de alimentação, serviços em geral, setor imobiliário, comércio varejista, entre outros”, explicou o presidente do Sindivarejo.

Mauricio Cabral

Segundo o diretor de imobiliária Magno Benin, o impacto dos estudantes no setor de imóveis campista é bastante relevante, principalmente em relação aos contratos de aluguel, e não foi abalado nem no período da pandemia. “Os alunos costumam buscar apartamentos mobiliados e semi mobiliados. A procura aquece o mercado sempre próximo ao início dos semestres, em dezembro e junho”, ressalta o corretor imobiliário.

No comércio, também houve reflexos. “Quando saímos de 2 mil alunos para esse número tão expressivo, realmente foi uma virada de chave na nossa cidade, de comportamento não só econômico, mas também social. No consumo, houve um comportamento diferenciado. A gente costumava dizer que nossa cidade ficava deserta no período de janeiro e fevereiro, de férias. Mas agora não, as universidades costumam começar cedo. Janeiro e fevereiro agora tem todo um movimento”, defende o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Campos, Edvar Chagas. Ele ressalta, ainda, que o empreendedorismo passou a ganhar destaque no município.

Falta de transporte e insegurança

São 643 km que separam Campos de Camanducaia, no sul do estado de Minas Gerais, mas essa distância não foi obstáculo para Vitória Guimarães. Ela tomou conhecimento da Uenf por meio de um professor de pré-vestibular, que, curiosamente, também se formou na instituição. Atualmente, Vitória cursa o 10º período de Medicina Veterinária. “Eu vim de uma cidade muito pequena. O município de Campos para mim é muito bom em alguns pontos. Aqui tem quase tudo que você procura, tanto em questão de produtos, médicos, veterinários. Por outro lado, me assustei um pouco com a violência, pobreza e alguns casos de falta de educação”, comentou.

Formatura do IFF: Demanda |Com variedade de cursos, Campos atrai alunos do Brasil inteiro em busca de formação

Mas não são apenas as distâncias que precisam ser superadas. O licenciando em Geografia do Instituto Federal Fluminense (IFF), Edivan Manhães, é morador de Saturnino Braga, na Baixada Campista, a cerca de 22km do Centro do município, e a falta de transporte público foi um grande obstáculo para sua formação. “Transporte de campos é muito ruim. Para quem mora mais afastado da cidade, como é o meu caso, conseguir chegar até a universidade, que geralmente está situada na região central, é muito difícil, é bem trabalhoso. Eu conheço muitas pessoas que desistiram de cursar o ensino superior por conta do transporte”, conta o estudante.  Apesar desses problemas, o campista comemora poder estudar o que desejava no município. “Eu não estudaria fora, porque como Campos é um polo universitário, tem muitas opções de curso. No meu caso, não tive necessidade de procurar em outro local”, disse.

Vitória Guimarães estuda Medicina Veterinária

As principais reclamações dos alunos de Ensino Superior, em Campos, são sobre a falta de segurança e de transporte público. No final do último mês, o Diretório Central dos Estudantes da Uenf informou que protocolou um ofício informando os recentes relatos de assaltos a estudantes nas imediações do campus Leonel Brizola e solicitou que a reitoria demande junto aos órgãos de segurança o aumento do policiamento na região, em especial nos trechos das avenidas Alberto Lamego e Arthur Bernardes, bem como para que seja solicitado à Prefeitura de Campos melhoria da iluminação pública na Alberto Lamego. O relato de assaltos é recorrente, também, entre estudantes de outras instituições.

A equipe de reportagem entrou em contato com o 8º Batalhão da Polícia Militar sobre as demandas de falta de segurança, que não respondeu até o fechamento da reportagem. Sobre a falta de iluminação, a Subsecretaria de Iluminação Pública informou que detectou pontos apagados e já realizou os devidos reparos. “Em vários locais, a rede apresentava danos provocados por atos de vandalismo”, destacou.

Em relação ao transporte, o Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) disse que, desde o ano passado, tem ampliado o número de horários de ônibus e vans para diversas áreas, bem como retomado a circulação de algumas linhas que tinham sido paralisadas pelos operadores no período da pandemia. 

Ofício | Representantes da Uenf pedem mais segurança no campus

“Tenho mantido diálogo permanente com os estudantes para buscar melhorias no sistema. Já recebi, aqui no Instituto, representantes do IFF, da Uenf e da UFF para organizar questão de horários e atendimentos de linhas. Ainda temos algumas carências que estão sendo revistas para o novo sistema de transporte que será implantado até o final do ano”, destaca Nelson Godá, presidente do IMTT.

Na última terça (5), o prefeito Wladimir Garotinho e o secretário de Educação, Ciência e Tecnologia, Marcelo Feres, lançaram oficialmente o Programa Municipal de Transporte Universitário e Alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). “O objetivo é atender, gratuitamente, estudantes dos distritos e bairros mais afastados do Centro da cidade. Em alguns dias será aberto um cadastro on-line para que os interessados possam se inscrever”, acrescentou o município em nota. Não foi informado, no entanto, o início de circulação dos ônibus.

Apoio a eventos e maior integração

Phellipe Rangel, presidente da atlética IFFÊNIX, coach do CheerIFFÊNIX e aluno do curso em teatro do IFF, defende que haja uma maior integração dos alunos com a cidade, inclusive com o apoio para a realização de eventos universitários.

Equipe Atlética

“A cidade de Campos é uma potência em várias modalidades, o cheerleading é uma delas, mas falta apoio para que o trabalho duro desses atletas seja valorizado e recompensado. Muitas atléticas precisam sair de Campos para participar de campeonatos e trazem títulos para cidade em grande parte das competições. A participação destas atléticas nas competições requer um custo que quase sempre as instituições as quais elas representam não podem arcar. Acredito que caso o diálogo entre o município e as atléticas fosse mais efetivo, atencioso e respeitoso, um auxílio poderia existir e, talvez, em um futuro próximo, a juventude universitária não precise sair da Planície para competir e sim outras atléticas poderiam vir até nossa cidade para entender e prestigiar nossa potência no âmbito do esporte”, defendeu.

Cheerleading (ou liderar uma torcida, ao pé da letra) é um esporte de origem estadunidense e que está em ascendência no Brasil.

Qualificação

Possuir graduação no Brasil tem relação direta com a qualidade de vida. A mesma pesquisa do Inep, realizada em 2018, afirma que, em média, trabalhadores com nível superior recebem 2,4 vezes mais que os de nível médio. Esse valor sobe para 4,5, caso o profissional tenha pós-graduação. Mas essa não é a única consequência da formação. Além de uma força de trabalho altamente qualificada, a pesquisa realizada nas universidades não só gera resultados práticos de notável importância econômica e social, mas também desempenha um papel crucial no avanço de novas tecnologias e na capacitação.

Reitor do IFF, Jefferson Manhães
de Azevedo

Para o presidente da Fidesc, Jefferson Manhães Azevedo, que também é reitor do IFF, o capital educacional da cidade pode ser melhor articulado com os poderes públicos locais e os atores regionais. “Nós temos que saber aproveitar essa vantagem estratégica, esse conjunto de especialistas, de profissionais que estão sendo formados e que são formadores, para serem envolvidos na discussão da cidade, do Estado, do nosso país, e com isso, como falei, superar os inúmeros déficits que nós temos na perspectiva econômica, na perspectiva social e de convivência”, disse.

A pesquisadora, doutoranda em Sociologia Política da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Ana Beatriz Severo Xavier lembra que ter um alto volume de universidades significa, naturalmente, um alto volume de profissionais formados por essas instituições. “Mas a questão da mão-de-obra é muito particular, porque ela depende de uma dinâmica interna que consiga absorver esses alunos formados. Se não houver, é natural que eles se desloquem para outros municípios. Então, isso vai variar bastante de área de formação. Mas o mercado do petróleo e da engenharia civil tendem a ficar ou no município ou na região. Exatamente por ser uma área que emprega um número significativo de pessoas. Assim como da área educacional, devido ao grande volume de demanda do serviço educacional na cidade. Então, a permanência do profissional formado depende de uma quantidade muito grande de questões que fica difícil definir com tanta certeza esse ponto em específico”, afirma.

Henrique da Hora

Produção de conhecimento subaproveitada

Pesquisador e diretor da Tec Campos, Henrique da Hora afirma que essa produção de conhecimento é subaproveitada no município e que é preciso que haja a criação de espaços de diálogo, como incubadoras e parques tecnológicos. “Não basta ensinar os conhecimentos que estão nos livros. É preciso pesquisa, descobrir novos conhecimentos. E não basta tão somente descobri-los. É preciso disponibilizá-los à sociedade, que é a extensão. Cumprimos muito bem o primeiro, estamos indo bem no segundo, mas precisamos nos dedicar ao terceiro para que o município, a região e o país se beneficiem do que acontece dentro dessas instituições de excelência”, disse.

Serviços à sociedade

As universidades oferecem, ainda, uma ampla gama de serviços, que incluem atendimento hospitalar, instalações culturais e outras atividades de extensão destinadas a servir à população. Elas proporcionam serviços (médicos, psicológicos, jurídicos, etc.) em laboratórios que complementam a formação dos estudantes. Além disso, são oferecidos cursos para a comunidade local e disponibilizados espaços para a realização de atividades de interesse coletivo.

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