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Meu pai é uma peça

Dramaturgo, escritor e compositor, entre outras funções, Winston Churchill dá exemplo de paternidade

Comportamento
Por Aloysio Balbi
14 de agosto de 2022 - 0h01

Winston Churchill Rangelé abraçado por um dos herdeiros, Sebastian

Poderia ser um livro; ele escreveu 14. Poderia ser uma música; ele compôs cerca de 60. Poderia ser um filme; ele dirigiu quatro. Mas o filho Sebastian Rangel prefere definir seu pai, Winston Churchill Rangel, como “uma peça”, parafraseando o saudoso ator Paulo Gustavo, que acabou virando nome de lei de apoio à Cultura na relação com a mãe, Dona Hermínia. É uma história de um pai que afastou todos os preconceitos e coisas ruins do filho e serviu um cálice das boas coisas. De um pai que dirigiu o filho na vida e no palco; um pai que colocou letra na música composta pelo filho e assim caminham. Filho que o pai ensinou a andar e ser andarilho sem necessariamente sair do lugar.

Destaque teatral do autor

Winston Churchill ensinou Sebastian não só a andar, mas também a falar, e hoje o filho domina idiomas. Sebastian leciona línguas, fazendo jus ao nome do pai, que a avó batizou em homenagem ao estadista inglês.
“Aqui em Campos, como em muitas cidades do mundo, tem uma avenida com meu nome, mas já avisei que não é em minha homenagem”, brinca o pai.

Winston Churchill, na verdade, é pai de uma prole — Ana Maria, Ana Cláudia, Paulo, Thiago, Marco Vinícius e Alexandre. Com 80 anos e essa filharada toda, muitos que o conhecem de perto certamente querem ser filhos dele também.

Assim como fez com seus filhos, ele pavimentou a estrada para artistas de Campos viverem um outro tipo de cultura. Não era a cultura a linha reta. Ele permitiu uma certa curva ou uma linha torta. Churchill abriu portas, quando fazer arte de forma diferente era uma possibilidade remota.

Churchill e os filhos

O filho Sebastian completa a tradução do pai em “peça”, estabelecendo a Ambos, por exemplo, frequentaram juntos igrejas e terreiros. Sebastian tem menos da metade da idade do pai, mas diz ter o dobro do tempo em amizade. O pai retruca e diz não ser verdade, colocando todos os sentimentos de um pelo outro em pé de igualdade. No meio de conversa aberta, entra em cena Maria Antônia, a neta, que ainda engatinha e que é apaixonada pelo avô.

“A peleja do Doutor Nilo Peçanha contra o Dragão da Ignorância”, encenada em 2013 nas escadarias da Câmara de Vereadores de Campos, foi uma das peças de teatro em que o pai dirigiu o filho.

“Como pai, ele é libertário, mas, como diretor de teatro, ele é britanicamente exigente. Naquelas escadarias, neste dia, eu percebi que na vida ele me ensinou a subir degrau por degrau, e nunca empurrar ninguém para baixo. A peça foi escrita por ele e assim posso dizer que meu pai é uma peça”, afirma o filho.

Cena de Meu Pai é uma Peça

Além de tudo já dito sobre ele, restou citar que se formou em Direito e que talvez nesta área o seu maior feito, tenha sido o fato, de meio maltrapilho e maltratado, ter sido eleito por duas Comarcas o advogado mais mal vestido.

Cultura de herança

Além dos livros, filmes, músicas e peças de teatro, Churchill deixa poucos pertences para seus herdeiros, coisa de quem nunca ligou para dinheiro. “Nunca liguei mesmo, tanto que nem o tenho. Eu gosto mesmo é de gastar dinheiro”, diz ele.

Protagonista de suas próprias histórias, Winston tem uma que vai muito além de uma peça. Era no final dos anos 60, quando, com filhos de ricos usineiros de Campos, amigos de noitadas, ele, em uma boate de gente chique, conheceu uma jovem senhora da alta sociedade carioca.

Teatro em ação

“Contei todas as mentiras do mundo. Me travesti de bilionário e disse que tinha usinas em Campos, gado do Mato Grosso e até mina de pedras preciosas na África do Sul. Conquistei a moça”, conta ele, dando sequência à narrativa: “acabei convidado para terminar a noite tomando um vinho em seu apartamento em Ipanema. Antes dela abrir a porta, lembrou de perguntar meu nome, pois até então só perguntava sobre dinheiro. É Winston Churchill, eu disse. A moça ficou furiosa, dizendo que estava percebendo que eu era um grande mentiroso. Meu nome foi a única verdade que eu disse durante toda a noite e ela não acreditou. Por isso não gosto de dinheiro”.

Churhill com a neta Maria Antônia

Winston Churchill não vai deixar dinheiro. Mas, seu legado como, se diz por aí, é um bom bocado e vai muito além de uma fortuna. Ele afirma que vai custar a reconhecer firma no cartório, pois pretende estar com os filhos nos próximos 20 Dia dos Pais, no mínimo.

Para as futuras gerações, como a da neta Maria Antônia, vai valer a pena conhecer cada palavra escrita pelo patriarca. A história não tem pressa: leiam o livro, assistam ao filme e vejam a peça.