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Quando todos assumem a toga, não há justiça – por Pryscila Marins

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Artigo
Por Pryscila Marins Advogada
3 de julho de 2022 - 0h01

Nesses últimos dias, a internet virou um verdadeiro júri. Muitos cidadãos resolveram vestir a toga e se sentir no direito de julgar! Julgaram comportamentos de terceiros de acordo com uma visão ortodoxa e engessada, com base em valores inerentes à cada cultura. Simplesmente transformaram vítimas em vilões, comprometendo ainda mais a saúde mental de quem já está com o mundo completamente abalado!

Dois casos envolvendo estupro e gravidez ganharam repercussão no país nesta semana, como todos pudemos acompanhar. Em um deles, uma criança de 11 anos grávida, tentava interromper a gravidez por se tratar de um estupro, sendo afastada de sua casa e sua família por quem deveria garantir-lhe um direito previsto em lei! No segundo caso, uma atriz é atacada por julgamentos públicos e é obrigada a expor sua dor e explicar aos julgadores desavisados que não praticou nenhum ato ilegal, pois seu ato está amparado pela lei!

Vejam como a hipocrisia e a falta de sensibilidade prolongaram a dor de duas vítimas de estupro! Essa execração pública é o que impede muitas mulheres de denunciar estupradores, justamente pelo dedo apontado, pela falta de empatia e por todos se acharem capazes de vestir uma toga e sair por aí julgando!

Sabe por que existem leis? Justamente para que uma sociedade possa ter regras a seguir, para que as pessoas tenham seus direitos amparados! E, sim, a lei prevê o aborto em caso de estupro. É uma criança de 10 anos, praticando ou não relação sexual consensual é considerado estupro de vulnerável! A lei também prevê a entrega a adoção e, pasmem, de qualquer mãe, não apenas daquela que foi estuprada! Não há abandono de incapaz nesse caso! Portanto, antes de julgar, vamos buscar entender a lei e, acima de tudo, vamos ter empatia com vítimas de violência, pois precisam de acolhimento e não de julgamentos!

Determinar o que o outro precisa fazer é fácil. E se fosse você a pessoa estuprada? Já pensou nas dores emocionais que estaria passando? E se estivesse grávida? Teria condições de amar? Estaria completa para isso? Mais acolhimento e menos julgamentos, por favor! Não seja você mais um a violentar uma vítima de estupro!