No finalzinho de maio, pesquisa do conceituado Datafolha, dando 21 pontos a Lula à frente de Bolsonaro, causou certa surpresa pelas circunstâncias do período e diferença em relação a outros institutos. Evidente que o petista pode somar 21, ou 31 pontos, liquidar a fatura no 1º turno e assunto encerrado. Contudo, o que trouxe certa estranheza foi o momento em que essa diferença se expandiu de forma tão acentuada.
Isso porque a larga diferença a favor de Lula (48% a 27%) chegou praticamente no mesmo período em que Bolsonaro apresentava melhoria de desempenho, enquanto o adversário amargava caminho inverso, com declarações desfavoráveis. Primeiro, sobre ser a favor da legalização do aborto. Depois, ao afirmar que o presidente da Ucrânia era tão responsável pela guerra quanto Putin – o que repercutiu de forma negativa no mundo inteiro.
A intenção de voto captada pelo Datafolha chamou atenção, também, por destoar de outros levantamentos feitos por diferentes institutos no mês de maio. Ou seja: não obstante todos coloquem Lula na frente, observa-se certa coerência nos números apurados pela XP/Ipespe, PoderData, Genial/Quaest e, por último, também o Paraná Pesquisa, que não refletiram tamanho crescimento em período tão curto.
Percentuais bem distintos
Dando exemplo em números, na apuração da Ipespe do dia seguinte ao do Datafolha (sexta, 27/05)), o ex-presidente Lula aparece com 45% e Bolsonaro com 34%. Logo, diferença de 11 pontos – o que é bem distante de 21.
Antes, levantamento feito pelo PoderData, entre os dias 22 e 24 de maio, apontou Lula pontuando com 43% e Bolsonaro com 35%. Nesta pesquisa, portanto, a distância é de apenas 8 pontos e ainda mais distanciada dos números do Datafolha.
O mesmo vale para o Paraná Pesquisa, que em levantamento mais recente, divulgado em 1º de junho, apurou 41,4% para o ex-presidente e 35,3% para Bolsonaro – a menor das diferenças, de apenas 8 pontos.
Curiosidades: Lauro Jardim e as ruas
Ainda no terreno especulativo, não deixa de ser intrigante que há algumas semanas o jornalista Lauro Jardim tenha publicado em sua prestigiada coluna no Globo nota com o seguinte título: “PT acende sinal de alerta com projeções que colocam Bolsonaro e Lula empatados”.
E no corpo da matéria… “projeções internas do partido, segundo aliados do ex-presidente, mostram que Bolsonaro e Lula podem empatar nas pesquisas às vésperas do 1º turno das eleições”.
Em se tratando de jornalista da reputação de Jardim, ou o próprio PT errou feio nas projeções, ou em tão pouco tempo (e sem maior oscilação na corrida presidencial), ocorreu uma guinada prá lá de inusitada.
Ruas – Ainda no terreno da especulação e sem a menor base científica – logo, desprovido de qualquer indicativo de precisão – pergunta-se: não se afigura curioso a impressão – ao menos, a impressão – de que a receptividade de Bolsonaro nas ruas não condiz com o que apontam algumas pesquisas?
E outra indagação: não é visível que o presidente seja entusiasticamente recepcionado por verdadeiras multidões, bem diferente do que se vê em relação a Lula da Silva? Estaria o eleitor do PT acanhado? Ou, ao contrário, de tão seguro da vitória, nem sai de casa? A resposta virá em outubro.
Tudo relativo – Bem entendido, não se está colocando dúvidas sobre a credibilidade do Datafolha, sabidamente um dos institutos mais respeitados do Brasil. Além do que, a simples diferença da metodologia empregada entre as empresas especializadas em pesquisas podem suscitar grandes distancias do apurado.
De mais a mais, vemos quase que diariamente uma multiplicidade de pesquisas encomendadas por grandes empresas, entidades e bancos, cujos resultados mostram, muitas vezes, significativas diferenças.
Fotografia – Enfim, vale lembrar que pesquisas de intenção de voto, por mais qualificadas que sejam, reproduzem o sentimento do eleitor relativamente à fotografia daquele momento. Em sentido contrário, como dizia o grande Leonel Brizola, ‘a gente cancela a eleição e empossa quem estiver na frente das pesquisas’.