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Pesquisa estimula cultivo de soja na região Norte do Estado

Campos, que já foi grande produtora de cana, faz aposta em novas culturas com auxílio da ciência

Agricultura
Por Gabriela Lessa
30 de maio de 2022 - 0h05
Potencial | Pesquisadores identificaram 10
cultivares de soja adequados à região

Terra que já foi grande produtora de cana-de-açúcar, Campos dos Goytacazes, assim como toda a região Norte Fluminense, vive um novo cenário de desenvolvimento no agronegócio. A cultura da soja é a atual aposta dos produtores e pesquisadores locais. De acordo com pesquisas realizadas pela Embrapa Solos, nos últimos cinco anos foi possível identificar áreas propícias ao cultivo de soja na região, com grande potencial para exportação, inclusive.

O doutor em Ciência do Solo e pesquisador da Embrapa Agrobiologia Jerri Zilli explica que a cana-de-açúcar entrou em decadência na região nas últimas décadas e as pesquisas acerca da soja foram motivadas por uma demanda de produtores locais.  

“O Norte Fluminense já foi grande produtor de cana. Eram cultivados mais de 220 mil hectares na década de 90. Por diversos motivos essa cultura entrou em decadência e, hoje, estima-se menos de 20 mil hectares cultivados. Dificilmente este setor conseguirá se reerguer e competir com São Paulo e Centro Oeste. Fizemos um estudo levantando as áreas propícias ao cultivo de soja e chegamos à conclusão de que são mais de 300 mil hectares (ha) que poderiam ser cultivados com soja no norte. No passado houve outras iniciativas para a introdução dessa cultura na região. Porém, como o foco era cana, e devido à falta de uma cadeia de produção estruturada, foi impedido o avanço”, detalha Zilli.

Os estudos retornaram entre as safras de 2017/2018 e 2021/2022, em que foram realizados dezenas de experimentos com a soja nas condições da região. De acordo com o engenheiro agrônomo e pesquisador da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Josimar Nogueira, as condições climáticas podem influenciar no resultado da safra.

“Em Campos, dependendo da condição climática, distribuição de chuvas, os valores podem ser alcançados acima de 4.000 kg/ha. Nas pesquisas deste ano, resultados surpreendentes de mais de 3.500 kg/ha, sem uso de irrigação (mas com manejo correto de incorporação de gesso e calcário, adubação correta, semeadura sobre palhada de Brachiaria, etc). Já com o uso de irrigação suplementar, também conhecida como de ‘salvamento’, nesta mesma área, os valores saltaram para cerca de 4.900 kg/ha”, fala.

Ao longo das últimas cinco safras, foram testados mais de 50 cultivares, identificando cerca de 10 com bom potencial. Jerri Zilli diz que a soja é uma cultura originada de regiões de clima subtropical/temperado.

“O Brasil foi o país que reconhecidamente tropicalizou a cultura. Entretanto, o Norte Fluminense está muito próximo do nível do mar e destoa muito de outras regiões produtoras. Não que a cultura fosse imprópria para a região, mas a falta de uma cadeia produtiva estruturada a limitava. As condições agora são um pouco melhores, pois no sul de Minas está se produzindo muita soja e as distâncias não são grandes. Além do que, a cana declinando deixou de ser o foco e o preço da soja disparou mundialmente. Isso abriu os olhos de muita gente”, esclarece Jerri.

Possibilidade de exportação  
Além disso, Jerri complementa. “Nós acreditamos na soja, porque o Rio depende muito de importação de outros estados. Ou seja, há mercado local. Além disso, o Porto do Açu agora pode ser uma opção tanto de exportação de grãos quanto para a entrada de fertilizantes. Isso certamente traz competitividade pelos menores custos de produção”.

Produção | Pesquisas resultaram em até 4,9 mil quilos por hectare

Segundo o economista Alexandre Delvaux, do ponto de vista da economia local, o cultivo da soja em escala é um empreendimento muito importante para o município. “O agronegócio em Campos e no estado perdeu força nos últimos anos. O Rio de Janeiro é importador de alimentos em função da fragilidade das atividades do setor agrícola. Esse cenário reforça a importância do sucesso dessa experiência, iniciada recentemente, de cultivo da soja em Campos. Se focamos na nossa cidade, os maiores problemas estão relacionados com a forte dependência da economia local em relação aos recursos públicos, em especial os recursos provenientes dos royalties do petróleo”, analisa.

Delvaux também enfatiza a necessidade de Campos não continuar dependendo apenas dos bons momentos do setor do petróleo ou de verbas públicas derivadas dele. “A diversificação é o caminho mais curto e rápido para resolver isto. Ou seja, diminuir a crônica dependência. Além disso, o agronegócio se encaixa perfeitamente na vocação da região, com terras abundantes, clima propício e, agora, com a proximidade do Porto do Açu. Se a tecnologia permitir que algumas limitações sejam superadas, esta é a grande oportunidade para dar o salto”, finaliza.