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Prefeita de Quissamã Fátima Pacheco: Governo com olhar social

Bem avaliada, a chefe do executivo fala sobre o desempenho de seu município durante a pandemia, agricultura e turismo

Entrevista
Por Aloysio Balbi
23 de maio de 2022 - 0h01

Assistente Social formada pela Universidade Federal Fluminense, Fátima Pacheco sempre teve a política correndo em suas veias. Logo na criação do município de Quissamã há 32 anos, quando se emancipou de Macaé, ela foi uma das primeiras profissionais da área no município, assumindo, logo depois, o posto de secretária de Promoção Social. Após alguns anos, tornou-se a primeira vereadora da Câmara do município.

A partir daí, Fátima se destacou como força política e rompeu com o grupo do qual fazia parte. Depois de uma disputa apertada para a Prefeitura com esse grupo em uma eleição que perdera, ela se elegeu prefeita em 2016 e foi reeleita em 2020. Bem avaliada, Fátima se orgulha do desempenho do município durante a pandemia do novo coronavírus.

Garante que Quissamã não perdeu vagas de trabalho, porque sete programas sociais colocaram para circular quase R$1,5 milhão/mês fazendo o dinheiro girar no município, e nenhuma loja do comércio fechou após a volta ao chamado “novo normal”.

Agora, mesmo administrando os efeitos colaterais da pandemia, lança um pacote de investimento de R$ 30 milhões para obras de infraestrutura, como construção de creches, duas novas estações de tratamento de esgoto e uma ponte que há 30 anos era esperada.

A prefeita aposta também na agricultura e no turismo e fala de projetos do Cidennf, consórcio de municípios presidido por ela que vai implantar o “Caminho do Açúcar” na região. Também anuncia a criação de um Mirante no Parque Nacional de Jurubatiba, considerado a joia da coroa pelos pesquisadores em biodiversidade na área de restinga.

Você está no curso do seu segundo mandato como prefeita de Quissamã. Quando concluí-lo, qual será o futuro político da sempre política Fátima Pacheco?

Gostei da expressão “sempre política”. Serei mesmo um ser sempre político e isso vem da minha profissão de assistente social. Eu fui secretária de Promoção Social nos primeiros anos de emancipação de Quissamã. Depois me tornei a primeira vereadora. Disputei a primeira eleição para Prefeitura em meio a uma elite política que se alternava no poder e perdi por pouco. Na sequência, disputei e venci as eleições em 2016 e fui reeleita em 2020.

Lógico que temos posicionamento nas eleições deste ano, mas meu foco está concentrado na gestão municipal. Meu primeiro mandato foi aprovado e, consequentemente, fui reeleita. Agora, tenho que dar sequência a esse modelo de administração e eleger meu sucessor, porque Quissamã não pode retroceder politicamente e neste contexto eu sou política 24 horas por dia. A minha agenda no momento é essa, ou seja, a de gestão. Tenho muito trabalho para fazer neste segundo mandato.

Então, falando da agenda administrativa, você acaba de anunciar um pacote de obras da ordem de R$ 30 milhões. O que será priorizado com esse investimento?

Saúde e Educação estarão sempre no topo, sublinhados. Esses investimentos se referem a infraestrutura, como reformas e construção de escolas, creches, saneamento com novas estações de tratamento, a ponte do Canto de Santo Antônio, uma obra aguardada há 30 anos, além de investimentos em Machadinha e Barrado Furado, distrito com o qual temos uma grande dívida social. E, exatamente agora, depois de sanarmos as dívidas herdadas e enfrentarmos a pandemia da Covid, é que estamos com fôlego para fazer investimentos estruturantes. Essa projeção de R$ 30 milhões certamente será superada, pois tenho certeza de que podemos fazer mais, já que existe muita coisa por fazer.

Como foi o trabalho de resolver a questão fiscal e enfrentar a pandemia da Covid-19?

Foi árduo no sentido mais profundo da expressão. Quissamã fez o dever de casa. Logo no primeiro momento da pandemia, fomos um dos primeiros municípios a se alinhar com a Fundação Oswaldo Cruz. Antes da vacina chegar, adotamos com rigor os protocolos sanitários, o que implicou na suspensão das aulas. Era uma permanente preocupação com a Saúde e com a Educação, sem se descuidar da Economia. Foram momentos difíceis. Na infraestrutura na Saúde além das unidades básicas, criamos 17 leitos de UTIs. Ao mesmo tempo, tivemos a preocupação com a Educação, fazendo com que as crianças tivessem internet e computadores para as aulas remotas, bem como alimentação com o Cartão Nutricional. Além da merenda escolar, reforçamos a alimentação com kits de verduras e legumes comprados dos pequenos produtores do município levados à casa de cada aluno. Diferentemente de outras cidades, não tivemos desemprego. Com sete programas sociais implantados, conseguimos movimentar a economia. Quando as atividades econômicas foram retomadas, o comércio não desempregou ninguém; o mesmo acontecendo nos outros segmentos da atividade econômica, como a Agricultura. Fomos o terceiro município do estado do Rio de Janeiro a concluir o ciclo vacinal e ainda estamos atentos a tudo isso, esperando que o pior já tenha realmente passado.

Esses projetos sociais então garantiram também a economia de Quissamã?

Como assistente social, eu sou plenamente interessada em gestão de pessoas. A pessoa é o sujeito de qualquer oração e o resto é consequência. Para pessoas, criamos uma rede de proteção social composta de sete programas sociais. A soma desses projetos faz movimentar por mês R$ 1 milhão e 400 mil, um dinheiro que circula no município. Todos tiveram acesso ao atendimento médico, às vacinas. A Educação foi priorizada em uma experiência nunca vista. Os alunos onde a internet não chegava receberam o material didático em casa com orientação pedagógica. Tanto que a volta às aulas, depois de quase dois anos, está sendo tranquila. Porém, foi preciso cuidar das pessoas, consequentemente como digo da economia. Não atrasamos pagamento e isso foi outro fator importante.

Então agora você finalmente entra com fôlego nos projetos de infraestrutura?

Sim, mas é bom destacar que a Educação continua necessitando de uma atenção bem mais especial neste retorno. Essa é a maior sequela da pandemia, pois nossos alunos terão que recuperar o tempo perdido e a Secretaria de Educação está atenta a essa situação, criando projetos para minimizar. É coerente que esses projetos também contemplem a Saúde, e por isso, como já disse, teremos investimentos pesados em saneamento básico com duas novas estações. Quando falei da hipoteca social com Barra do Furado e que vamos quitar, me referi, por exemplo, à construção de uma creche. Toda base destes investimentos se concentra em resultados em Saúde e Educação o que resulta em melhor qualidade de vida para as pessoas.

Você falou em Barra do Furado, na divisa com Campos. Como está aquele projeto do Complexo portuário?

Temos esperança de avançar com ele, mas não depende só de Quissamã. O projeto caminhou bem em terra, mas estacionou diante da necessidade da dragagem para permitir um passe navegável, uma obra complexa de engenharia que se feita viabilizará o estaleiro que atenderá as necessidades de reparos em embarcações que prestam serviços na Bacia de Campos. Eu acredito que iremos avançar sim, porque já foram feitos investimentos pesados e sua conclusão é tecnicamente viável para a economia não só de Quissamã, mas de todo o interior do Rio de Janeiro.

O governo do estado acena com interesse em concluir esse projeto?

Sim. Temos uma convivência de ótimo nível com o governador Cláudio Castro. Diria que desde então temos um governo de estado mais presente no interior. O governador tem nos atendido em diversos pleitos. Por outro lado, temos que entender que essa parte final do Complexo da Barra do Furado implica em um investimento elevado, mas o governador está sensível a essa necessidade. Reconhece a importância da conclusão desse projeto e isso já é um grande passo. Em momento algum tratamos esse assunto de forma secundária, até porque ele é realmente de suma importância. Temos conversado sobre isso com parlamentares, como o deputado Jair Bittencourt. Talvez se não tivéssemos tido todos esses problemas gerados pela pandemia estaríamos no estágio de conclusão desta obra. Friso outra vez que pelo menos subimos mais um nível e que agora tudo depende desta dragagem.

E a agricultura que sempre foi uma força em Quissamã?

Em momento algum nos descuidamos dela. Eu te falei que compramos quase toda a produção dos pequenos agricultores para a merenda escolar no curso da pandemia e isso ajudou a economia. Com o governo do estado estamos desenvolvendo projetos. Recentemente iniciamos o Rio-Milho aqui em parceria com a Secretaria de Agricultura do Estado e no último final de semana trouxemos o Fazenda Legal e iniciamos as tratativas para que tenhamos aqui grandes selos de armazenamento de grãos. Estamos lançando, neste mês, uma linha de microcrédito para os produtores rurais, de até R$ 20 mil, com juros muito baixos. A agricultura sempre foi uma vocação de Quissamã e destaque na nossa agenda.

O turismo também tem força nesta sua agenda?

Sempre teve, embora na pandemia tudo tenha parado. Mas fomos os primeiros a voltar, inclusive com o tradicional desfile de carnaval, já que tínhamos o aval sanitário para isso, com risco praticamente zero de contágio. Quissamã sempre se inseriu neste contexto de turismo, quer seja com a praia de João Francisco, quer no rico patrimônio histórico, cultural e arquitetônico. Temos Machadinha, por exemplo, um Quilombo que mantém a tradição do fado e jongo, uma culinária que mistura vários sotaques, mesclando a comida da senzala com a comida portuguesa e francesa. O Museu Casa Quissamã está passando por uma reforma. Para receber os turistas e fomentar o conhecimento da história de Quissamã, lançamos o projeto “Viver Quissamã”, que vai acelerar o fomento ao turismo em nossa região.

E o parque de Jurubatiba?

Jurubatiba é o único Parque Nacional da região. A maior parte de seu território está em Quissamã e é administrado pelo Instituto Chico Mendes. Não é de Quissamã e sim do mundo, pois é uma das raras reservas de restinga deste tipo no planeta. Pesquisadores de países diversos chegam a Quissamã para estudar essa biodiversidade. Sublinhamos Jurubatiba como prioridade também, e fazemos ações como a vigilância por parque evitando a caça. Muito recentemente recebemos aqui o pessoal do Instituto Chico Mendes e anunciamos que vamos construir um Mirante em parceria com o governo do estado, que será mais um equipamento para o Parque de Jurubatiba que no ano que vem completará 25 anos de criação. A biodiversidade de Jurubatiba encanta a Ciência e temos que primar pela sua conservação e incentivar o turismo ecológico. O parque é de uma potencialidade incrível no aspecto turístico.

Nesta diversidade de Quissamã, o Baobá foi tema de enredo de carnaval esse ano no Rio e vocês tem um tesouro aí…

Realmente temos um dos raros exemplares dessa árvore africana que compõe o cenário do Museu. Quissamã está na mira de muitos pesquisadores que tentam resumir essa história que tem traços totalmente diferenciados. A única cidade do Rio que tem um nome africano é Quissamã e isso interessa a todos enquanto história. É muita história, não podemos descuidar desses detalhes que formam o nosso retrato, a nossa fotogenia, a nossa história, que é rica em qualquer ponto de vista.

Ainda no turismo: Quissamã vai fazer parte do Caminho do Açúcar?

Esse é um grande projeto do Cidennf. Nunca é demais lembrar que o engenho de Quissamã foi pioneiro no país. O Caminho do Açúcar segue o exemplo do Caminho do Café criado por municípios no Sul do estado do Rio. Em muito breve ele será reconhecido. Estamos na sede de estruturação, buscando parcerias com o setor privado. Vai ser um grande projeto de turismo com reflexos fortes na economia regional.

Para concluir, fale um pouco dos projetos deste pacote de investimentos?

Muitos projetos já estão em andamento e outros serão licitados. Um exemplo é o bairro Caxias, que será todo urbanizado. Outros bairros também serão alcançados. Estou com minha equipe centrada nisso. Como você começou me perguntando sobre política, prefiro concluir dizendo que a política na minha vida nunca vai acabar, pois é minha vocação. Em dois anos, esse meu segundo mandato será avaliado e espero trabalhar ao lado do meu vice-prefeito, Marcelo Batista, para que esse trabalho não tenha descontinuidade.