Governantes não ouviram a ciência, que alertou sobre novas variantes e o risco de retirar todas as restrições
Em artigo assinado semana passada no Globo, sob o título “Alerta, preocupação e morte” a pneumologista Margareth Dalcolmo lembrou que desde o surgimento do vírus, suas primeiras variantes foram denominadas ora de alerta, ora de preocupação – dependendo da capacidade de transmissão de cada qual.
A pesquisadora da Fiocruz disse, também, que hoje – 2 anos e meio depois do aparecimento da doença em Wuhan – é sabido “o quanto as diferentes linhagens se relacionam e descendem umas das outras”.
Dalcolmo acredita que a cada semana possa surgir uma nova variante. Mas ressalva que “no cenário atual, restritas à categoria de alerta”.
Observações técnico-científicas à parte, o fato é que seguimos numa provação sem igual: ora a doença dá sinais de arrefecimento, ora de retomada.
Na terça-feira passada (17), o registro de 221 óbitos em 24hs surpreendeu, elevando a média móvel para 119 mortes – alta de 28% em 14 dias. Já no dia seguinte (18), o alívio: 99 óbitos, apesar da média móvel permanecer acima de 100. E na quinta-feira (19), de novo as mortes superaram a casa de 100, frustrando a expectativa das últimas semanas de que os óbitos diários se manteriam abaixo dessa quantitativo.
Evidente, não estamos mais naquele período avassalador de 2…3 mil mortes diárias, o que seria algo apocalíptico. Por outro lado, não nos livramos da doença que persiste tal como uma gangorra, trazendo a insegurança inerente a tudo que não é conhecido. Afinal, não se sabe se a curva descendente de hoje se manterá amanhã ou, ao contrário, se sobrevirá um novo pico.
Margareth Dalcolmo, uma das maiores especialistas do Brasil, desde o início tem encarado a pandemia de forma comedida. Humilde, primeiro disse que os médicos estavam aprendendo com a doença e não tinham todas as respostas. Depois, insistiu no distanciamento físico e que a vacinação era imperativa. Na terceira fase, quando os números começaram a declinar, bateu na tecla de que era necessário manter as restrições, fiscalizar as aglomerações e cancelar o carnaval. E, de forma alguma, abolir o uso de máscara em ambiente aberto.
Nas últimas recomendações, nem de longe tem sido atendida.
O “otimismo” imprudente de nossos governantes
No caso do Brasil, essa oscilação – perigosa e instável – talvez não estivesse tão presente se os governantes mantivessem prevenções mínimas, como a obrigatoriedade do uso da máscara em locais fechados, restrições de distanciamento físico, combatessem aglomerações e não realizassem carnavais fora de época. Tudo, aliás, que os especialistas recomendaram.
Entretanto, o que se vê é o contrário: quando a Covid-19 dá sinais de que está perdendo força, logo se põe fim às medidas de restrição como se o vírus não circulasse mais e a pandemia fosse, por assim dizer, ‘encerrada’ por decreto.
Parece que não entendem que enquanto o vírus estiver entre nós e suscitando novas variantes, por mais baixo que seja o nível de transmissão, haverá sempre o risco de recrudescimento. A pandemia vai acabar quando o número de casos no Brasil zerar. E ponto. Qualquer coisa fora desse cenário, será sempre de risco.
Campos precisou fechar escolas
Demonstração inequívoca de que não obstante a transmissibilidade da doença esteja em queda livre, o que é ótimo – mas não vencida –, foi o fechamento de duas escolas em Campos na semana passada.
A Escola Técnica Estadual Dr. João Barcelos Martins, da Rede Faetec, suspendeu as aulas depois de registrar casos de Covid-19 em alunos e funcionários. No dia seguinte, a Escola Municipal Dr. Luiz Sobral também suspendeu as aulas após funcionários testarem positivo para a doença. Conforme informou o Terceira Via, a escola não chegou a registrar casos positivos entre os alunos.
Brasil afora, todo esse conjunto de fatores é um alerta de que devemos ‘colocar na cabeça’ que a pandemia não acabou.