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ELEIÇÕES 2022 – Corrida presidencial prevê disputa sem freios

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
17 de maio de 2022 - 16h49

A quatro meses e meio da eleição presidencial, a partir de agora é que o Brasil entra no período pré-reta final, fase em que os candidatos costumam elevar desmedidamente o tom de suas falas, via de regra recheadas de acusações, denúncias, agressões e ofensas. 

Evidente, não são todos. Mas os que as pesquisas apontam como favoritos – e não só as pesquisas, posto que oscilam – mas aqueles cujas visibilidades as ruas estampam, são os mais contundentes. 

Salvo pelo imprevisível, a polarização entre Lula e Bolsonaro afigura-se irreversível. A Terceira Via está morta. Sempre esteve.  

Neste cenário em que a via alternativa não se consolidou, Ciro Gomes aparece como o mais prejudicado. Contudo, seguir com sua candidatura – e não retirá-la, como foi cogitado – pode ter mais a ver com um projeto político futuro, do que com este ano.  

Manter seu nome na mídia, com status de presidenciável, é um holofote que joga luz sobre a sucessão de 2026, quando o ex-ministro estará praticamente com a idade que tem hoje Bolsonaro (67 anos) e quase 10 anos a menos que Lula, que completa 77 em outubro. Logo, a chama acesa é uma estratégia de razoável viabilidade. 

Só 45 dias de propaganda  

Como ressalva e à luz da prudência, não se pode garantir que a eleição será, de fato, decidida entre os dois candidatos melhor posicionados. Afinal, a propaganda eleitoral gratuita e os debates não começaram e, em tese, podem mudar a intenção de voto hoje manifestada pelo eleitor. 

Mas, é muito difícil. A não ser um escândalo de proporção épica, com dano irreparável para um lado ou outro, um mês e meio de campanha (a propaganda começa em 16 de agosto) não é suficiente para tirar os pontos que distanciam o chamado bloco de baixo dos dois projetados para disputar o 2º turno. 

Cobras e Lagartos 

Mas, nesta caminhada relativamente curta, se verá de tudo. Possivelmente a Justiça Eleitoral vai ter muito trabalho para conter os abusos. E mesmo o que não for abuso, vai mexer com a cabeça do eleitor. 

Daqui pra frente, as pesquisas vão oscilar, como já estão oscilando. Lula fala da invasão da Ucrânia e da legalização do aborto, perde pontos; Bolsonaro diz algo impróprio ou a economia patina, e perde pontos.  

Quanto mais acirrada for a disputa – e há projeções de que chegue em outubro na base do voto a voto – mais denúncias, brigas e ofensas vão para a agenda de campanha.  

Lula vai bater na economia e no estilo autoritário do presidente. Vai relembrar algumas de suas frases infelizes e se isentar – como é de seu costume – de qualquer responsabilidade pela brutal recessão que atingiu o Brasil a partir de 2015, no governo de sua apadrinhada. Vai usar, também, a pandemia.   

A equipe de Bolsonaro vai relembrar do Mensalão (que à época Lula da Silva disse não ter qualquer conhecimento), do Petrolão e alertar que o ministro Fachin não inocentou o ex-presidente, apenas anulou as condenações impostas pela Justiça Federal do Paraná, por não ser o “juiz natural” dos casos. (*Lembrando que Lula foi inocentado em alguns processos, outros estão prescrevendo e outros, ainda, poderão ir a julgamento na Justiça do Distrito Federal). 

Inconfidências e brigas internas – O eleitor já está calejado das baixarias que, por mais que o TSE tente coibir, vão acontecer. Não só as inconfidências daqueles que tiveram interesses contrariados – o pior dos perigos, porque partem de gente de dentro, dos ex-aliados, que são piores que inimigos – como das brigas internas.  

Dilma, por exemplo, avisou a Lula que não vai se esconder e que irá defender o seu governo. Mas vai acontecer exatamente o contrário: ela vai ser escondida e não terá espaço para defender seu governo, posto que seria uma defesa que tiraria votos de Lula. Mas, no caso de Dilma, vai ficar por isso mesmo. A ex-presidente vai “entender” a “causa maior”, e ponto. 

Resumidamente, é o que o Brasil vai vivenciar nos próximos meses, torcendo para que a situação não desande para riscos institucionais. 


Bons amigos & Piores inimigos 

Os interesses contrariados são uma bomba relógio que explode a qualquer tempo.
A soma de quem se vê manipulado e usado pode desencadear instintos os mais primitivos

Falamos acima da política, território em que toda gratidão prescreve em dias. É um terreno movediço, mas que costuma punir os que se valem desses expedientes nefastos. 

O ex-juiz Sérgio Moro não precisou de anos de convivência para produzir estragos na imagem do presidente Bolsonaro. Sem cerimônia, denunciou o mandatário por supostamente tentar interferir na PF. E ao então ministro do STF, Celso de Mello, não restou alternativa senão autorizar a abertura de inquérito. 

Mas a motivação de Moro terá sido a alegado, ou pesou a circunstância de que a suposta indicação para o STF não se confirmaria? Disso, ninguém sabe ao certo. Mas o magistrado faria melhor se não aceitasse assumir o Ministério da Justiça e aguardasse, como juiz, o convite convencional.  

Seja como for, estragos são fáceis de serem feitos. Moro não era amigo, nem próximo, nem íntimo do presidente. Mas não perdeu tempo. 

E como a vida imita não apenas a arte, mas a política, o exemplo serve para todos os palcos. Pior que um inimigo de desde sempre, é um ex-amigo. Aquele de anos de convivência. Que sabe o que testemunhou, assistiu e lhe fora dito em confiança – ao pé de ouvido e em secreto – em períodos de intimidade. Por isso, à luz da correção, não poderia ser usado. 

Mas como ações incorretas levam a reações igualmente incorretas, o chute no balde é daqui para ali. Costuma prejudicar os dois lados. Mas causa mais danos em quem tem (ou teve) maior telhado de vidro.