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“População deveria cobrar providências acerca da preservação do Solar da Baronesa”, diz historiadora

Graziela Escocard destaca alguns fatos históricos do prédio que pertence à Academia Brasileira de Letras, em Campos

Entrevista
Por Ocinei Trindade
14 de maio de 2022 - 8h00
Graziela Escocard (Foto: Carlos Grevi)

A historiadora Graziela Escocard participa de campanhas de preservação do patrimônio artístico e cultural de Campos dos Goytacazes. Nesta entrevista, ela analisa um pouco sobre a reportagem de destaque, “Solar da Baronesa se deteriora em longa espera por recuperação” (clique aqui). Graziela avalia a importância histórica do edifício do século 19, pertencente à Academia Brasileira de Letras desde a década de 1970, e sobre o futuro do prédio.

O que destacaria sobre a história do Solar da Baronesa?

O Solar da Baronesa era de propriedade dos Barões de Muriaé, o fazendeiro Manuel Pinto Neto da Cruz e Dona Raquel Francisca de Castro Netto da Cruz, os mesmos donos também do solar e sede do Quartel do Corpo de Bombeiros aqui da nossa cidade, na Beira Rio. Foi tombado pelo Iphan em 1973/74 e, no ano posterior, em 1975, a Academia Brasileira de Letras recebeu a doação do solar e iniciou o projeto de restauração para posterior instalação da sede do Instituto Internacional de Cultura. Esse projeto foi muito promissor na época. No entanto, acredito que pela distância do Solar, dificultou o andamento do projeto e a própria manutenção deste patrimônio.

O prédio histórico se tornou referência e bastante visitado enquanto Austregésilo de Athayde presidiu a ABL. O que considera marcante desse período?

Realmente, na época do presidente da ABL, Austregésilo de Athayde, o Solar da Baronesa teve vida, com atividades culturais e servia como o suposto museu. O Museu Histórico de Campos herdou, inclusive, alguns de seus acervos, como o busto de bronze da Princesa Isabel, e a mesa de jantar com pedra de mármore, e duas cadeiras de terrinha medalhão do casal de proprietários da residência (Barão e a Baronesa de Muriaé).

O que te chama à atenção no edifício?

O Solar da Baronesa de Muriaé é um exemplo vivo do modos de vida da nobreza rural da nossa região no passado. A residência possui um porão, onde supostamente seria a senzala dos escravizados.

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O que é preciso para recuperá-lo em sua opinião?

A população deveria cobrar providências acerca da preservação do Solar da Baronesa e de tantos outros prédio históricos da nossa região abandonados. No entanto, como amar e preservar aquilo que não conhecemos? Falta em nossa população a consciência sobre a preservação, identidade e memória. É preciso criar ações voltadas para a Educação Patrimonial, para que se possa gerar um sentimento de pertencimento com o patrimônio regional. Enquanto esse trabalho não for amplamente difundindo, iremos carecer na preservação do que ainda existe de pé.

O que espera do futuro do Solar da Baronesa?

O Solar da Baronesa poderia ser utilizado de várias formas culturais. Não basta apenas restaurar o local, precisamos dar uso. E um uso eficiente! De abrangência cultural, histórico e turístico. A nossa política de preservação do patrimônio a partir de 1930, com a criação do Sphan, hoje Iphan, foi um grande avanço. Mas deixamos de evoluir na preservação do patrimônio. Hoje em dia não basta apenas tombar como patrimônio histórico cultural (registrar). Precisamos criar meios de preservar e manter estes locais históricos vivos, em pleno funcionamento.