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Jornalista e pesquisador Vitor Menezes analisa situação do Solar da Baronesa

Em 2018, como representante da Associação de Imprensa Campista, ele esteve com o ex-presidente da ABL, Marco Lucchesi, no prédio histórico de Campos

Entrevista
Por Ocinei Trindade
10 de maio de 2022 - 11h03
Vitor Menezes é jornalista, professor e pesquisador (Foto: Arquivo)

O Jornal Terceira Via destaca esta semana a reportagem “Solar da Baronesa se deteriora em longa espera por recuperação” (clique aqui). Em 2018, a Academia Brasileira de Letras, responsável pelo prédio histórico em Campos dos Goytacazes, voltou a buscar parcerias para a recuperação do edifício. Na ocasião, o então presidente da ABL, Marco Lucshesi, se reuniu com autoridades da cidade, além de representantes de diversas instituições. Uma destas foi a Associação de Imprensa Campista (AIC), na época presidida pelo jornalista e professor Vitor Menezes. Ele analisa os últimos acontecimentos que envolvem o Solar da Baronesa, além de discorrer sobre sua esperada restauração.

O que você se lembra da ocasião sobre o que foi abordado na visita?

Lembro que foi um dia de grande alegria e expectativa, porque via-se um esforço institucional importante pela restauração do prédio, liderado pelo IFF, pela ABL e pela Prefeitura de Campos, mas também em diálogo com outras instituições e movimentos sociais, como a Associação de Imprensa Campista, que representava naquele momento. Depois de tanto tempo de abandono, retomava-se a esperança de que as forças vivas da cidade estariam finalmente à altura de reconhecer e preservar o patrimônio que nos foi legado.

Como observa o abandono e deterioração do prédio?

Com uma tristeza que se estende ao abandono de tantos outros patrimônios históricos de Campos, materiais e imateriais. Por mais que esforços recentes tenham sido feitos neste sentido, ainda estamos muito longe de termos uma população que conheça e valorize a sua história, fruto da ausência de uma forte e constante política de educação patrimonial. O Solar, aos olhos de muitos, parece apenas um incômodo na paisagem.

Solar da Baronesa (Fotos: Silvana Rust)

O que pode ou poderia ser feito?

Aquele passo de 2018 foi muito importante e pode e seve ser retomado. É claro que fica uma frustração por não se ter avançado desde então, mas não há outro caminho a tomar que não seja o de continuar tentando. Aquele diálogo institucional em torno da preservação do prédio precisa ser retomado.

No passado, houve interesse da Uenf ficar com o imóvel, mas isso não avançou. O que sugeriria para tornar o Solar da Baronesa do jeito que era no passado?

Uma sugestão que demos, que ainda precisaria ser debatida com os movimentos sociais envolvidos e núcleos universitários, foi a de que o Solar se transformasse em um centro de preservação da memória africana e indígena no Brasil, partindo da própria força histórica regional destas duas culturas. Seria uma forma de ressignificar a antiga casa grande, tornando-a emissora da cultura que vinha da senzala que de fato a construiu, assim como daquela dos povos originários dizimados para que os colonizadores erguessem seus solares. É importante que o solar não seja restaurado para ser algo intocado, distante da população, mas algo que se integre ao dia a dia dos estudantes, dos trabalhadores, que seja acessível e atraente.

Pátio central do antigo solar do século 19

Que memórias e experiências você tem sobre o prédio?

Pessoais, específicas, não muitas. Talvez uma ou outra dos tempos de escola e da curiosidade despertada sempre que passava por ali. E mais tarde como jornalista, nas recorrentes pautas sobre os destinos do prédio, como esta agora que o Terceira Via retoma. Como cidadão, no entanto, o sentimento é de indignação por ver todo o potencial que temos, o tanto de história que temos para contar e o quanto poderíamos ser modelo em valorização da cultura local (e na nacional em grande medida) e acabamos por desprezar tudo isso. Quantas cidades no país gostariam de ter o que temos?

Comente o que considera relevante sobre o tema.

Creio que seja necessária a conscientização de que o investimento em memória e cultura não é supérfluo. Sei que no mundo de urgências em que vivemos, de desemprego, de fome, de volta da miséria, restaurar prédios históricos parece ser secundários. Mas quando isso é feito no sentido de gerar frutos simbólicos que aumentem a nossa autoestima, nosso senso de pertencimento, isso se reverte na construção de uma cidade melhor, que se valoriza mais, que é mais consciente, e que consequentemente cobra mais dos governantes, constrói mais e enfrenta melhor as dificuldades do dia a dia. Além disso, como equipamento público, um solar como o da Baronesa, pode ser centro de formação, educação, de atividades que também reflitam na melhoria de curto prazo para a população.