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Empreendedorismo como solução para sair da crise

Em Campos, até março de 2022, foram registradas 33.948 MEIs que formalizaram pequenos negócios no município

Economia
Por Clícia Cruz
10 de abril de 2022 - 0h02
Letícia Mignot | Advogada investiu em comidas
árabes após assistir a live durante a pandemia

Seja pelo sonho de ter o próprio negócio, por perceber um nicho de negócio, ou pela necessidade, após sair do mercado formal, o número de pessoas que optam por empreender é cada vez maior. De 2009, quando o Brasil iniciou o registro de Microempreendedores Individuais (MEI), até março de 2022, Campos já registrou 33.948 MEIs. Só em 2021 foram 5,1 mil trabalhadores que decidiram formalizar pequenos negócios no município. Impulsionado pela pandemia do novo coronavírus, o número representa um aumento de 8,5% em relação ao ano anterior, quando houve abertura de 4,7 mil empreendimentos. O Jornal Terceira Via reuniu histórias de pessoas que diante do desejo ou da urgência, apostaram em um negócio para chamar de seu.

Advogados por formação, Letícia Mignot e o marido Bernardo Chagas se viram sem trabalho do dia para a noite quando, em abril de 2020, a Justiça suspendeu o expediente por causa da Covid-19. A virada de chave veio aconteceu quando o casal faz uma esfirra após assistir a uma live. Eles ficaram surpresos com o resultado e decidiram postar uma foto do prato. A imagem chamou a atenção de um empresário do ramo de alimentos, que pediu para que eles fizessem o salgado por encomenda. A partir daí, percebendo o interesse pela comida árabe na cidade, o casal começou a produzir em maior escala, se profissionalizou, passou a vender através das redes sociais e, hoje, o negócio é uma empresa formal de sucesso.

Além das esfirras, torres de quibe e pastas que são sucesso entre os clientes, Letícia se descobriu digital influencer e já está ministrando seu primeiro curso de marketing digital e faz mentorias. Ela diz que não se vê mais nos tribunais.

“Isso é uma coisa bem resolvida dentro de mim. Não me reconheço mais como advogada. Hoje sou uma empresária, uma empreendedora. Gosto de criar, de fazer parcerias, de encontrar soluções em momentos de adversidade. Gosto do desafio, do risco”, diz.

Para quem está, hoje, como ela esteve há dois anos, sem direção profissional, a dica de Letícia é que a pessoa procure dentro de si o que tem a oferecer. “Primeiro é preciso se entender. Só o autoconhecimento vai nos levar ao sucesso. Você precisa entender onde você está, para onde você quer ir e traçar suas metas”, diz a empresária.

Dos jardins para a cozinha

Júnior Rodrigues é paisagista e a pandemia de Covid-19 diminuiu a demanda por seu trabalho. De repente ele se viu na necessidade de encontrar outra forma de manter a família, e foi no dom de cozinhar que ele encontrou o novo caminho. O “Armazém do Zé” iniciou com a produção de azeites aromatizados com ervas da horta orgânica da casa de Júnior e com os pastéis de nata que já faziam sucesso nas reuniões de família. O empreendedor diz que a maior dificuldade do negócio foi o início, com poucos recursos. “A maior dificuldade foi de formar capital de giro, pois iniciei praticamente com caixa zero”, diz.

Armazém do Zé | Júnior Rodrigues produz azeites aromatizados

A qualidade dos produtos é o diferencial para conquistar a clientela, diz ele. “Nós temos um grande potencial de fidelização pela qualidade dos nossos produtos, que são exaustivamente testados até obterem alto grau de excelência”, ressalta Júnior.

Os produtos são comercializados pelas redes sociais e é por elas que os clientes se atraem pelas delícias. As novidades que tem feito mais sucesso atualmente são as tortinhas de camarão ao catupiry com massa de nata e o descobertinho de carne seca. “Mas, em breve teremos mais novidades no cardápio”, diz o micro empresário.

Yuki Satou | Aposta no macramê conquistou clientes fora do país

Dom de inspirar
Formado em Ciência da Computação, Yuki Satou nasceu no interior de São Paulo e morava no Japão quando conheceu e se apaixonou pela assistente social campista Maryluci Campos. Em 2006, ele veio morar na cidade e, sem conseguir emprego na área, foi trabalhar na oficina de uma concessionária de automóveis. Quando a loja fechou, Yuki e a esposa decidiram que ele cuidaria do filho pequeno até retornar ao mercado de trabalho. Três anos se passaram e o emprego não chegou. Foi aí que ele entendeu que precisava encontrar algo novo para fazer. “Eu orei, pedi a Deus que me desse não apenas um trabalho, mas que me desse um dom que inspirasse as pessoas”, conta Yuki.

Três meses se passaram e quando ele e a esposa estavam numa feira de festas, veio a inspiração. “Eu vi uma peça pequena de macramê na decoração de uma festa e pensei: eu consigo fazer isso. A partir daí, comecei a produzir inicialmente peças pequenas, chaveiros, e minha esposa vendia no hospital onde ela trabalha”, lembra.

As vendas iam bem. Além dos chaveiros, o casal já comercializava bolsas e as encomendas eram muitas. Então veio a pandemia. “Ninguém saía mais, quem é que ia querer bolsa? Aí novamente precisei me reinventar”, lembra Yuki.

Ele então começou a produzir mais painéis, investiu em itens de mesa posta, que foram sucesso durante a pandemia, e seu trabalho alcançou lugares que, para ele, eram inimagináveis. Hoje, os produtos do artista são vendidos para todo o Brasil e já foram comercializados em vários países, como Japão, Noruega, Espanha, Holanda, Alemanha e Portugal.

Yuki também é sucesso nas redes sociais. Além das lives, que faz no próprio Instagram, recebe convites de influenciadores do Brasil inteiro para compartilhar seus conhecimentos e sua história de superação. “O macramê me levou a lugares que eu nunca imaginei chegar e, hoje, eu entendo o propósito do meu dom, que é de, também, levar esperança às pessoas de que elas podem se transformar através do trabalho”, diz o artista.

TecCampos – Henrique da Hora

Planejando o negócio
Para quem quer começar a empreender, o auxílio de uma incubadora de empresas pode ajudar a evitar erros comuns aos principiantes e a estruturar um negócio que seja bem planejado desde seus primeiros passos. A TecCampos, ligada à Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e ao Instituto Federal Fluminense (IFF), oferece ao novo empreendedor um curso completo, que inclui a criação de um plano de negócios, com o planejamento da futura empresa acontecendo durante o desenvolvimento do projeto.

“Em um país onde 60% das empresas abertas fecham suas portas em dois anos, o papel da incubadora é criar um ambiente e desenvolver procedimentos, mentoria e consultoria de modo a minimizar as chances de um negócio fechar. E a TecCampos procura apoiar negócios inovadores, as chamadas empresas de base tecnológica”, diz Henrique da Hora, presidente da incubadora.

Mata Aedes | Biólogo Adriano de Paula desenvolveu armadilha ecológica

A Mata Aedes é uma empresa incubada na TecCampos, que surgiu a partir da pesquisa de pós-doutorado em Entomologia – Controle de Insetos pela UENF do biológo Adriano de Paula. Ele desenvolveu uma armadilha ecológica para o Aedes aegypti, que se utiliza de um fungo com odor imperceptível para o ser humano, mas que adoece e mata tanto o mosquito transmissor da dengue quanto o pernilongo comum. O produto inovador já está em fase de vendas e agora o pesquisador estuda a forma de produzi-lo em larga escala.

“Estar na TecCampos fez toda a diferença para nós existirmos enquanto empresa. Todo eixo de empreendedorismo foi desenvolvido dentro da incubadora. Nós conhecíamos o produto, mas como chegar ao cliente, nossa estratégia de desenvolvimento de um produto atrativo, com uma embalagem que atendesse ao cliente, tudo isso foi desenvolvido dentro da incubadora, além do processo de formalização da empresa”, conta Adriano.

Secretário Felipe Knust

Saindo da informalidade
O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico Felipe Knust diz que a demanda pelo registro do MEI e por consultoria para a criação de pequenos negócios vem crescendo principalmente porque muitos trabalhadores perderam o emprego formal durante a pandemia. Além disso, afirma ele, os pequenos empreendedores vêm compreendendo a importância de sair da informalidade.

“A partir do registro do MEI, o empreendedor fica amparado pelo INSS, tem a possibilidade de emitir nota fiscal, no caso de uma gestante, por exemplo, ela pode se afastar da atividade e vai receber durante a licença. Na informalidade, nada disso seria possível”, ressalta.

De acordo com Knust, o primeiro passo para quem quer empreender é identificar o seu nicho, conhecer o seu produto, o seu cliente e a viabilidade do negócio. Caso exista dificuldade, a secretaria oferece uma consultoria para ajudá-lo.

Knust também informa que grande parte da procura de empreendedores é para o microcrédito, que é oferecido pelo Fundo de Desenvolvimento de Campos (Fundecam), que oferece crédito de até R$ 10 mil com juros anuais de 2%.

Outro trabalho que a secretaria vai iniciar é o acompanhamento dos empreendedores registrados. A pasta vai oferecer suporte, identificando dificuldades desses trabalhadores e oferecendo soluções por meio de consultorias.

“Por exemplo, se nós identificarmos que a dificuldade da empresa é com relação à rede social, nós vamos ajudar, se for marketing, nós vamos também prestar consultoria”, diz o secretário.

Soluções para o empreendedor
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), possui soluções de gestão para todos os segmentos empresariais. O gerente regional Guilherme Reche explica que a entidade oferece apoio na gestão financeira e estratégica de negócios, marketing, posicionamento de mercado, planejamento estratégico e operacional, e colabora nos processos de inovação e desenvolvimento tecnológico da empresa.

Sebrae | Guilherme Reche

“O primeiro passo para quem quer empreender é se planejar. É entender a ideia de negócio que quer empreender, do produto, do serviço, entender qual o setor, mapear todas aquelas necessidades que aquele modelo de negócio vai ter, quais são os custos, despesas, definição da margem de lucro, entendimento sobre preço. Um bom plano de negócios e um bom planejamento são fundamentais. Temos um portfólio vasto de soluções que pode ser utilizado por qualquer empreendedor que busque um resultado sólido para seu crescimento”, ressalta Reche.

Sobre as dificuldades enfrentadas pelos novos empreendedores, Guilherme diz que as mais comuns são o desconhecimento a respeito do faturamento mínimo e do capital de giro necessários para que a operação seja sustentável no longo prazo, do posicionamento de mercado, de seu público alvo e de como vai atuar, e não separar as contas da pessoa física e da pessoa jurídica.

Outras dificuldades muito citadas pelos empresários, segundo Reche, são a formação de preço e fluxo de caixa. “Por isso, há necessidade, sim, do empresário procurar consultoria especializada para minimizar os riscos de insucesso. No Sebrae, temos um seminário, o Empretec, que é o maior seminário de empreendedorismo do mundo. São seis dias de imersão, nos quais a gente trabalha 40 comportamentos empreendedores que fazem a tomada de decisão dar certo, que fazem o empresário ter uma visão de oportunidade. É um seminário imersivo, comportamental e que vem formando potenciais empresários de forma muito qualificada em mais de 40 países”, diz.