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Políticos analisam derrota de Fábio Ribeiro na Câmara

Avaliação é de que decisão de antecipar escolha da mesa diretora, que resultou na vitória de Marcos Bacellar, foi "ingênua" e "precipitada"

Política
Por Redação
16 de fevereiro de 2022 - 14h36
Candidato a reeleição, o presidente do Legislativo Fábio Ribeiro antecipou votação da Mesa Diretora para o biênio 2023-2024, que podia acontecer até dezembro. (Foto: Divulgação/Câmara)

No centro das justificativas governistas para a derrota sofrida nesta terça-feira (16), na Câmara Municipal de Campos, o vereador Maicon Cruz (PSC) não foi o único ator decisivo na virada de votos que elegeu por 13 a 12 Marquinho Bacellar (SD) para comandar a Casa no biênio 2023-2024. Comparado a Judas pelo atual presidente do Legislativo, Fábio Ribeiro (PSD), que buscava a recondução, Cruz foi acompanhado em seu posicionamento por Marquinho do Transporte e Luciano Rio Lu, ambos do PDT, que vinham votando junto à situação apesar das orientações contrárias da legenda. Também pesou a adesão do independente Bruno Vianna (União), que vinha sendo sondado pelo Governo. Resultado de uma estratégia considerada nos bastidores como “ingênua” e “precipitada”, o placar sacramentou uma derrota incomum para Wladimir Garotinho (PSD), uma vez que prefeitos em exercício dificilmente perdem eleições para a mesa diretora.

Em caráter reservado, uma fonte ligada ao grupo de Garotinho admite que a votação é uma derrota para o prefeito e cria um desgaste que qualifica como “desnecessário”. “Tinham até dezembro para escolher a mesa para o próximo biênio. Se tivesse 20 votos garantidos, tudo bem, eu entenderia antecipar. Mas confiaram em um pedaço de papel”, diz, em referência a um “termo de compromisso” de voto em Fábio Ribeiro, que teria sido assinado pelos 12 vereadores da base do Governo e por Cruz.

Marcos Bacellar celebra vitória ao lado de vereadores de oposição e independentes. (Foto: Divulgação/Câmara)

“É primário demais. Confiaram em uma pessoa que vinha tendo atritos públicos com o governo. O mais inexperiente observador percebia que ia dar errado”, acrescenta.

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Também em reservado, um membro do grupo de Bacellar credita a derrota à “precipitação” e ao “hábito de querer resolver as coisas na força”. “Esse modus operandi de empregar força demais sobre os vereadores gerou atrito. Quando você tem um membro da Casa adotando uma postura crítica em relação ao Prefeito, quer o voto dele, mas o secretário municipal de Governo, ao invés de contemporizar, o ataca, o resultado é esse. Especialmente quando se vai para a votação sem gordura”, opina.

Logo após proclamação do resultado, houve confusão e a sessão foi suspensa. (Foto: Reprodução/Youtube)

Ele avalia que a estratégia de votar as contas agora e não no fim do ano teve o aval de Wladimir. “Fábio Ribeiro tem como característica ser bem liderado. Ele é membro de um grupo e sempre foi fiel a ele. Essa estratégia foi discutida”, diz, acrescentando: “É muito raro um prefeito perder eleição de mesa. Rafael Diniz elegeu Fred Machado para o biênio 2019-2020 por 25 a zero. Isso incluiu, na época, cinco votos da oposição”.

Fábio Ribeiro fala

Fábio Ribeiro fala em “traição” e credita derrota a Maicon Cruz. (Foto: Arquivo/Silvana Rust)

Ao Jornal Terceira Via, o presidente da Câmara Fábio Ribeiro afirma “não discordar” da avaliação de quem afirma que o Governo deveria ter garantido um número maior de votos antes de pautar a eleição da mesa diretora da Casa para o próximo biênio, mas nega que isso possa diminuir sua força política nos próximos 10 meses. “Saber que a partir de 1º de janeiro de 2023 terá outra pessoa na presidência me estimula. Pois temos muita coisa para fazer, como a Rádio Câmara e a Emugle (Escola Municipal de Gestão do Legislativo). Teríamos prazo de 3 anos, e agora faremos em 10 meses. Quem tem espírito público não se abala na primeira derrota”, diz.

Questionado sobre a possibilidade de ter avaliado mal a antecipação da votação, Ribeiro afirma que a estratégia da bancada governista se firmava no “compromisso” de que haveria 13 votos por sua reeleição, representado por um termo assinado pelos parlamentares. “A estratégia é que tínhamos 13 votos. Reunimos os vereadores, olhamos uns nos olhos dos outros e os 13 se comprometeram a votar. Mas um traiu o grupo todo”, opina, creditando a derrota a Maicon Cruz, cujo nome foi adicionado à caneta no documento e que acabou votando em Bacellar.

O presidente recorre a uma analogia bíblica para demonstrar seu descontentamento: “Não quero comparar, mas Cristo também estava com 12 apóstolos e foi traído. Por mais que se possa achar um pouco de ingenuidade da nossa parte, isso faz parte da política. É uma derrota, mas o governo Wladimir está forte. A Prefeitura, que estava em janeiro inviável, está viável hoje. Agora é continuar o nosso trabalho. Temos que pensar não no bem individual, mas no coletivo. Infelizmente, tem gente que não faz isso”.

Segundo Fábio Ribeiro, nome de Maicon consta de “termo de compromisso” de voto por sua reeleição. (Foto: Reprodução)

Repercussão

Apesar da fala otimista de Fábio Ribeiro, a avaliação geral nos bastidores é de que a derrota inviabiliza as pretensões políticas do vereador para o futuro próximo. Apontado como possível pré-candidato à Câmara dos Deputados nas eleições deste ano, Ribeiro deve ser cobrado pelo grupo político. “Perder o controle da Câmara afeta Wladimir? Sim. Mas afeta muito mais Fábio Ribeiro”, diz fonte próxima ao prefeito.

Outro que vem sendo responsabilizado nos bastidores é Juninho Virgílio (PROS), que foi exonerado da secretaria de Governo para participar da votação desta terça-feira na Câmara. Nas redes sociais, ele endossou ataques do primo, o ex-vereador Thiago Virgílio, a Maicon Cruz, que vinha criticando publicamente a gestão de Marcelo Feres à frente da secretaria municipal de Educação, Ciência e Tecnologia (Seduct).

Thiago cobrou que o vereador entregasse os cargos que tinha no governo após se declarar independente, o que foi apoiado publicamente por Juninho. DAS ligados a Cruz pediram exoneração no final de janeiro, o que teria selado o rompimento total do vereador com o Governo.

Além disso, a votação expôs a divisão das bancadas do PDT e do recém-formado União Brasil, resultado da fusão dos antigos PSL e DEM. Do lado do PDT, Marquinho do Transporte e Luciano Rio Lu votaram em Marquinho Bacellar e Leon Gomes em Fábio Ribeiro. Já no União Brasil, Bruno Vianna, Nildo Cardoso e Rogério Matoso ajudaram a eleger o novo presidente, enquanto Marcione da Farmácia apoiou o atual em sua tentativa de reeleição.

Em entrevista ao site Agenda do Poder, Wladimir credita força de Bacellar, que é secretário de Cláudio Castro, ao aparato do Estado e promete reavaliar apoio ao governador. (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Aliança com o estado estremecida

Mas, a derrota do grupo de Garotinho na Câmara de Campos pode ter mais do que implicações paroquiais. Além da possibilidade de mudanças nos planos para as eleições, na estrutura do Executivo e na configuração da sua base no Legislativo, Wladimir sinaliza que pode romper com o governador Cláudio Castro (PL), que abriga o deputado licenciado Rodrigo Bacellar na secretaria de Estado de Governo.

O site Agenda do Poder, que cobre a política no estado do Rio, informou que Wladimir teria afirmado que vai “reavaliar” o apoio a Castro. Isso porque a presença de Bacellar no Governo do Estado geraria um “desequilíbrio de forças”. Ainda de acordo com o site, o prefeito teria afirmado que “não há paridade de armas para embate político na cidade”.

Apesar disso, o prefeito nega que haja mudança na relação com o governador.

Articulação

Oposição à família Garotinho uniu Caio Vianna e Rodrigo Bacellar, que articularam derrota de Fábio Ribeiro. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

A votação que deu vitória a Marquinho Bacellar foi articulada pelo seu irmão, Rodrigo Bacellar (SD), e por Caio Vianna (PDT), presidente do diretório municipal da legenda. Os dois lideram grupos políticos que se enfrentaram nas urnas em 2020, quando Wladimir foi eleito prefeito, mas se aproximaram em função da oposição de ambos à família Garotinho.

As primeiras conversas não incluíam a Câmara, que só entrou em pauta nos últimos dias, com a decisão do grupo governista de antecipar a eleição da mesa diretora. Bacellar articulou o voto de parte da bancada independente e Caio garantiu que Marquinho do Transporte e Luciano Rio Lu, vinham votando junto ao Governo, apoiassem um candidato da oposição.

Inicialmente, foram consideradas candidaturas de Abdu Neme (Avante), Helinho Nahim (PTC) e Nildo Cardoso. Por fim, o grupo lançou o nome de Marquinho Bacellar, que ganhou por 13 a 12 em votação apertada.

Votaram em Marquinho Bacellar: Nildo Cardoso, Abdu Neme, Anderson de Matos (REP), Bruno Vianna, Fred Machado (CDN), Helinho Nahim, Igor Pereira (SD), Luciano Rio Lu, Maicon Cruz, Marquinho Bacellar, Marquinho do Transporte, Raphael de Thuin (PTB) e Rogério Matoso.

Fábio Ribeiro recebeu os votos de: Álvaro Oliveira (PSD), Bruno Pezão (PL), Cabo Alonsimar (Podemos), Dandinho de Alciones Rio Preto (PSD), Fábio Ribeiro, Juninho Virgílio, Kassiano Tavares (PSD), Leon Gomes (PTD), Marcione da Farmácia (União), Pastor Marcos Elias (PSC), Silvinho Martins (MDB), Thiago Rangel (PROS).

Logo após a proclamação do resultado, houve um princípio de confusão e a sessão foi suspensa. Com isso, a expectativa é de que a eleição do restante da mesa diretora aconteça nesta quarta-feira. A chapa de Bacellar deverá contar com Marquinho do Transporte como primeiro vice-presidente e Maicon Cruz como primeiro secretário. Abdu Neme e Fred Machado também deverão ocupar cargos.

O Jornal Terceira Via tentou contato com o vereador Marquinho Bacellar, mas não obteve sucesso até a publicação desta reportagem.