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Maior enchente do Paraíba desde 2007 assusta população da região

Na última semana, o rio recebeu grande volume de água e causou transtornos pelo caminho até sua foz

Geral
Por Redação
16 de janeiro de 2022 - 0h01
(Foto: Agência Berenger)

Desde janeiro de 2007, Campos não registrava uma enchente como a que, na semana passada, expulsou 79 pessoas de casa (27 famílias) com o transbordamento do Rio Paraíba do Sul. Apesar de 15 anos separarem as duas calamidades, desta vez, o nível do rio atingiu 66 centímetros a menos em comparação à década retrasada.  De acordo com a Secretaria Municipal de Defesa Civil, os impactos de 2022 foram mais leves também porque menos campistas foram afetados. O motivo é que milhares de pessoas foram removidas de áreas de risco social a partir de 2009 e realocadas em casas de programas sociais administrados pela Prefeitura de Campos. Passado o pior momento da enchente, quando o rio transbordou e chegou ao pico de 10,98 m de profundidade, quarta-feira (12), o poder público busca, agora, reparar os danos emergenciais e investir em obras para evitar futuras tragédias. Para isso, conta com apoio financeiro do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

O principal desafio é a construção e reforço de diques e taludes para proteger localidades vulneráveis, como Três Vendas, que fica próximo ao Rio Muriaé. No ápice da enchente, na semana passada, galerias pluviais que passam sob a rodovia BR-356, no trecho Campos/Itaperuna, não resistiram à força da água e romperam. A Prefeitura fez um trabalho de contenção no local para evitar que o Rio Muriaé atingisse a comunidade de Três Vendas. A região tem histórico crítico. Na enchente de 2011, um trecho da rodovia cedeu impedindo o tráfego entre Campos e os municípios do Noroeste.

Água do Paraíba alagou alguns pontos em Campos, na semana passada, como a Francisco Lamego (Foto: Silvana Rust)

Tamanho estrago tem explicação. De acordo com o secretário da Defesa Civil de Campos, coronel Alcemir Pascoutto, o Rio Muriaé não encontrou condição favorável para desaguar no Rio Paraíba do Sul. “O Muriaé estava em sua capacidade máxima com a chuva registrada na Zona da Mata Mineira e na Região Noroeste do Estado do Rio. Já o Paraíba também estava em seu limite com o aumento da cota na região do Médio Paraíba, que fica no Sul Fluminense e recebe água dos rios Piabanha e Paraibuna, que também já estavam cheios. Além disso, o Paraíba recebeu muita água do Rio Pomba, em Santo Antônio de Pádua, que desceu para São Fidélis e chegou a Campos”, explica Pascoutto.

Aumento da vazão de algumas hidrelétricas, como a do Funil, ajudaram a elevar o nível do Rio Paraíba (Foto: divulgação)

Vazão aumenta assustadoramente

Com os rios cheios, a vazão nas barragens, reservatórios e represas de água controlada pela iniciativa privada e monitorada pela Agência Nacional de Águas (ANA/Brasília) é liberada, aumentando ainda mais o nível dos rios. O Rio Paraíba do Sul ultrapassou a cota de transbordo ao receber o fluxo de água da Usina Hidrelétrica Ilha dos Pombos, no município de Carmo (RJ); Usina Hidrelétrica Funil, operada por Furnas, em Resende (RJ); e Usina Hidrelétrica de Santa Cecília, em Barra do Piraí. Com o volume da água, a Ponte João Barcelos Martins precisou ser interditada por três dias.

“A vazão volumétrica no reservatório de Santa Cecília, que estava em 100 metros cúbicos por segundo (m3/s), aumentou repentinamente para 700  m3 /s. Foi quando observamos também a precipitação máxima de chuvas para nossa região com volume além do esperado e solicitamos uma reunião com o prefeito Wladimir Garotinho para explicar nossa preocupação. Foi, então, que o prefeito gravou um vídeo e divulgou em suas redes sociais alertando à população sobre o acumulado de chuva entre os dias 7 e 10 de janeiro de 2022”, comenta Pascoutto.

O secretário contextualiza que, ao assumir a Defesa Civil no início da gestão de Wladimir Garotinho, o Município passou a investir em aparatos tecnológicos e pessoal técnico, o que, segundo ele, tem gerado tomada de decisão e resultado em assertividade e agilidade. 

Secretário da Defesa Civil de Campos, coronel Alcemir Pascoutto (Foto: Silvana Rust)

“Estamos unindo tecnologia e inovação, além de integração com todos os setores de desastres e riscos do estado e do país. Estamos valorizando os servidores, apostando em contratações de especialistas e dando autonomia a esses profissionais para que eles produzam com eficiência. Neste contexto, temos uma equipe de monitoramento em tempo real da Bacia do Paraíba. Se não fosse a eficiência desse trabalho, associada às ações do passado de construção de casas populares no Programa Morar Feliz executado pela ex-prefeita Rosinha Garotinho, não teríamos esta realidade de pessoas afetadas pela enchente.  Teríamos muito mais. A partir de 2009 quase 10 mil famílias foram retiradas de áreas de risco social, entre elas, população ribeirinha da Ilha do Cunha, Lagoa do Vigário, Parque São Matheus, Parque Guarus, Parque Aldeia, Fundão, entre outros”, conclui Pascoutto. 

Segundo ele, graças a estes trabalhos e a outros, como a abertura de barras em São João da Barra e o apoio do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), não foi necessário decretar situação de emergência em Campos, diferente de anos anteriores.

Famílias foram desalojadas na Ilha do Cunha (Foto: Silvana Rust)

Desalojados
De acordo com a Defesa Civil, em Campos, 79 pessoas ficaram desalojadas com a cheia do Paraíba do Sul. As 27 famílias são moradoras da comunidade Ilha do Cunha, no bairro da Pecuária, onde as casas foram inundadas na quarta-feira (12). Eles foram levados para um abrigo provisório no Centro Educacional 29 de Maio, no bairro da Pecuária. Moradores do bairro Coroa também foram afetados, mas não precisaram de abrigo público. Alguns foram para casa de parentes.

Mudança de cenário
Acostumado a agonizar no período de seca, sem ultrapassar a cota dos 6 metros, o Rio Paraíba do Sul atraiu olhares curiosos ao atingir sua capacidade máxima. Campistas se debruçavam no dique, no Centro de Campos, para observar o leito do rio. “Acho muito bonito quando o Paraíba está cheio assim, melhor seria se não deixasse estragos”, disse Eliane Gomes, de 44 anos. Já Valéria Machado, de 51, teme o rio. “Não tem como ver o rio cheio assim e não se lembrar das tragédias, de vidas prejudicadas e de casas destruídas”.

Crianças e adolescentes foram flagrados mergulhando e brincando no rio.

Dique em SJB foi arrastado pela força da água
Também na Rodovia BR-356, só que, desta vez, no município de São João da Barra, o dique São Bento, no distrito de Barcelos, foi arrastado pela força da águado Rio Paraíba do Sul. O município é onde está a foz, local em que o rio deságua no mar, na praia de Atafona. A rodovia foi interditada e o tráfego entre Campos e SJB – inclusive os veículos com destino ao Porto do Açu – foi desviado para rota alternativa. 

Por causa do aumento repentino do Rio Paraíba do Sul, o Município decretou situação de emergência. O nível do Paraíba chegou a 7 metros, ficando a um da cota de transbordo. Com autorização do Inea, a Prefeitura abriu barras nos deltas de Atafona, e nas praias de Grussaí e Açu. Isto facilitou o encontro do rio com o mar, normalmente comprometido pela característica de relevo em planície da região.

Governo do Estado do Rio
A enchente provocou uma visita técnica do governador do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, a São João da Barra, na quinta-feira (13). Castro também se encontrou com outros prefeitos e políticos da região e anunciou a liberação de R$ 20 milhões em recursos para as cidades afetadas pela enchente. O recurso será destinado a obras emergenciais. A Defesa Civil, em Campos, se reuniu, semana passada, com representantes do Governo do Estado do Rio, do Departamento de Estradas e Rodagem (DER) e prefeitos da região para reivindicar a construção e reforço dos diques que margeiam as cidades e localidades, principalmente em Três Vendas. 

“Pretendemos reunir uma força-tarefa para fortalecer os diques e taludes que estão bem fragilizados. O trabalho só pode começar quando a água baixar, mas será uma ação imediata”, garantiu Major Edison Pessanha, subsecretário de Defesa Civil de Campos.

Ponte General Dutra cedeu com a força do Paraíba (Foto: Divulgação)

2007, o ano em que a ponte cedeu

A Ponte General Dutra, no trecho urbano da Rodovia BR-101, em Campos, cedeu com a força do Rio Paraíba do Sul, em janeiro de 2007, na enchente que foi considerada uma das piores da história de Campos – com exceção da registrada no ano de 1966. Na ocasião, o rio atingiu a cota de 11,64m – 66 centímetros a mais que em 2022 – e deixou mais de 23 mil pessoas sem moradia.

“Em 2007, a cota do rio chegou a 11,64m e a ponte não resistiu. Esta foi a pior enchente recente. Não podemos compará-la à de 1966 porque, naquela época, os estragos foram maiores, já que ainda não havia o dique na região central de Campos”, lembra Major Edison.

Obras imponentes: diques e malha de canais

A catastrófica enchente de 1966 inundou a Avenida Alberto Torres, pontos da Rua Tenente-Coronel Cardoso (antiga Formosa) e Rua Marechal Floriano (antiga Rua do Ouvidor). Foi esta tragédia que motivou a imponente obra de construção de quase 40 diques para conter a força do Paraíba do Sul, entre eles, o dique no Cais da Lapa e a mureta de proteção ao longo da Avenida 15 de Novembro, entre os bairros Lapa e Caju. Diques e muretas também foram construídos na margem esquerda do rio, na avenida Francisco Lamego, em Guarus. A obra foi entregue na década de 1960 por intermédio do deputado Alair Ferreira.