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Igor Pereira: “Sou independente”

Vereador começou o mandato com cargo de confiança, mas terminou o ano votando contra as pautas do governo

Entrevista
Por Redação
27 de dezembro de 2021 - 0h01

Igor Gomes de Azevedo (Solidariedade), ou simplesmente Igor Pereira, 40 anos, foi reeleito com 3.271 nas últimas eleições municipais e está cumprindo seu segundo mandato como vereador de Campos. Logo no início de 2021, foi convidado pelo prefeito Wladimir Garotinho para ocupar um cargo de confiança na Prefeitura, onde ficou apenas cerca de cinco meses à frente da Fundação Municipal da Infância e Juventude. Segundo o parlamentar, o desembarque da base de apoio do governo se deu por se opor na época ao que chamou de “pacote de maldades” apresentado pelo ex-aliado, contendo aumento de carga tributária municipal. O polêmico projeto não foi bem recebido pelos vereadores e a ruptura de relações não ficou restrita apenas a Igor Pereira. Hoje, ele se considera um parlamentar independente. Neste contexto, Pereira diz que tem enfrentado dificuldade com a base do governo na Câmara, que entrou em recesso no dia 15 de dezembro.

A FMIJ não foi o primeiro cargo na administração pública ocupado pelo vereador. Ele passou pela extinta Empresa Municipal de Transporte (Emut), cujas funções foram absorvidas pelo atual Instituto Municipal de Trânsito e Transportes (IMTT). Com a experiência adquirida por sua passagem na Emut, Igor Pereira acredita que um dos caminhos para melhorar o transporte público ofertado aos campistas seja transformar a gestão do IMTT em técnica, não política. Sobre seu futuro mediante uma eventual candidatura à Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) em 2022, o político não disse nem que sim, nem que não.

Você esteve de janeiro a maio de 2021 à frente da Fundação Municipal da Infância e Juventude (FMIJ). Como foi sua passagem pelo órgão e o que ocasionou o desembarque do governo Wladimir Garotinho?
Foi um grande aprendizado, como é toda passagem por qualquer âmbito da administração pública. Contribuímos com ações que tiveram bastante impacto na FMIJ, como as parcerias com Sest/Senat, com a Associação das Indústrias da Codin e o Sesc, que viabilizaram uma série de atividades remotas para os assistidos, apesar de toda a dificuldade causada pela pandemia do novo coronavírus. Outras contribuições extremamente importantes foram a redução em 20% das despesas fixas da FMIJ, com revisão de contratos, a renovação da frota dos Conselhos Tutelares, que estava completamente sucateada, e a criação da campanha Amigos da Fundação, por meio da qual coletamos doações junto a empresas e pessoas, tanto financeiras e materiais quanto de trabalho.
Minha saída foi ocasionada pela proposição do pacote de maldades, como ficou conhecido. Em meu primeiro mandato, durante a gestão de Rafael Diniz, já havia me colocado contra o aumento de impostos. Inclusive, fui o criador do G8, que reprovou uma série de projetos de leis que entendemos terem sido contra servidores, contribuintes e a Saúde. Fomos surpreendidos com Wladimir levando à Câmara, uma vez mais, medidas que expandem a carga tributária e retiram direitos dos servidores públicos. Como vereador eleito, me senti na obrigação de voltar à Casa de Leis para cumprir com meus compromissos de campanha, de lutar pelas causas da justiça e pelo povo. Então, preferi pedir exoneração.

Após deixar o governo, você se considera situação, oposição ou independente?
Desde minha volta à Câmara, tenho me posicionado sistematicamente contra projetos encaminhados pelo governo, todos eles apresentados com a imposição de serem daquela forma e naquele momento. Esse tipo de postura inviabiliza qualquer diálogo que possa melhorar a proposta. Então, venho votando de maneira contrária. Mas, nada me impede de apoiar medidas que eu perceba como um benefício para a população, o servidor e o Município. De maneira que me considero um vereador independente e não de oposição.

Como é seu relacionamento, hoje, com Wladimir?
É cordial, apesar das minhas posições contrárias e discordâncias.

Você está em seu segundo mandato como vereador. Como você avalia sua atuação na Câmara até agora e quais seus planos para o futuro próximo?
Nós, vereadores independentes, temos lutado bastante na Câmara contra esses projetos que entendemos como prejudiciais. Nisso, temos apoio do grupo da oposição. O que queremos é garantir que as medidas que chegam a Casa não sejam impostas, mas debatidas e discutidas. Porque essa imposição acaba gerando um debate caloroso e de difícil conciliação. Temos enfrentado dificuldade com a base, nesse momento, para que a apreciação dos projetos aconteça dentro do tempo necessário, que possamos propor emendas, de forma que o texto que vá à votação seja o melhor para a população seja efetivamente votado. Mantemos o entendimento de que o diálogo é sempre o melhor caminho.

Antes de chegar à Câmara, você passou por alguns setores da administração pública municipal. Entre elas, a extinta Empresa Municipal de Transporte (Emut), cujas funções foram absorvidas pelo Instituto Municipal de Trânsito e Transportes (IMTT). O trânsito é uma queixa frequente de quem reside em Campos. Como você avalia a situação? Quais mudanças você acha urgente?
É necessário que a gestão do IMTT seja técnica e não política. Só assim seríamos capazes de resolver efetivamente a questão do trânsito em Campos, que está cada vez mais caótico. É preciso que pessoas qualificadas sejam contratadas para elaborar um planejamento de longo prazo com a finalidade de organizar o tráfego no Município. Garantir que elementos como a sinalização e a distribuição de vagas para estacionamento em vias públicas emprestem agilidade à rotina de quem dirige. Manter em dia a manutenção de equipamentos e ter como rotina ações de fiscalização e educação.

Outro grande motivo de reclamação da população campista é a iluminação pública. Entre essas passagens pela administração pública (que já comentamos aqui) você presidiu a Campos Luz ainda no Governo Rosinha Garotinho. Como a Câmara pode atuar de modo a contribuir para resolver, de vez, a precariedade da iluminação pública apesar dos altos custos empregados pelo poder público?
Temos debatido bastante na Câmara esse assunto. A desculpa do Governo municipal é sempre a dependência de uma licitação. O Tribunal de Contas do Estado deu parecer favorável e pediu algumas alterações no edital para que a Prefeitura possa fazer as trocas das lâmpadas. Mas, essa sempre foi uma justificativa inadmissível. Pois, somente em recursos oriundos da Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública, a Cosip, são mais R$ 40 milhões anuais nos cofres de Campos. Ou seja, a população pagando e não está tendo o serviço. A gente tem cobrado demais, cobrado, inclusive, em requerimento a convocação para que o subsecretário de Iluminação Pública dê explicações. Estamos aguardando esclarecimentos e esperamos que, finalmente, essa situação se resolva com a liberação do TCE.

Após um início de Legislatura relativamente tranquila, a Câmara se viu envolvida em uma polêmica, que foi a anulação da rejeição das contas de 2016 da ex-prefeita Rosinha, que argumentou ter tido sua defesa cerceada. Um novo parecer, agora pela aprovação, foi emitido pela Comissão de Finanças e Orçamento da Casa, a despeito da recomendação de reprovação emitida pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Na época da votação, você ainda presidia a FMIJ. Como vê o caso? Como pretende votar quando o novo parecer for a Plenário?
Em meu primeiro mandato, votei pela rejeição das contas do último ano da ex-prefeita Rosinha, atendendo à solicitação técnica do TCE. No meu ponto de vista, o novo parecer da Comissão de Finanças e Orçamento não traz nada de novo que justifique a revisão da decisão anterior. Não rebate as inconsistências apontadas pela Corte de Contas, que é um tribunal técnico. Se as contas de 2016 de Rosinha forem novamente colocadas em pauta, vou votar contra, de forma a manter a reprovação aconselhada pelo TCE.

Você é filiado ao Solidariedade, partido do atual secretário de Estado de Governo Rodrigo Bacellar, por cujo grupo você se elegeu. Rodrigo é um dos principais articuladores do governador Cláudio Castro no Norte Fluminense. Como você vê a relação do Município com o Palácio Guanabara?
O governador tem sido extremamente sensível aos pedidos feitos pela Prefeitura de Campos, isso tudo capitaneado, sem dúvida nenhuma, por Rodrigo Bacellar. Ele tem sido articulador de toda hora, de todo momento, para que essas demandas sejam efetivamente aprovadas, liberadas, para que a população consiga receber esses benefícios. Tivemos muita dificuldade nessa relação entre Município e Estado em outras situações e agora se percebe essa boa vontade, esse sentimento de parceria do governador. A gente tem um articulador extremamente hábil na condução dessas demandas.

Pretende apoiar uma eventual candidatura de Castro em 2022?
Sou uma pessoa de grupo. O que o partido decidir, estou pronto a atender e seguir. São articulações entre partido e tudo caminha para que uma eventual candidatura do Castro tenha nosso apoio. Mas sempre entendendo que é uma questão de grupo e partido, com os quais estou sempre alinhado.

Qual é sua avaliação sobre o governo Bolsonaro e como você vê a disputa do presidente com Lula e uma possível terceira via para 2022?
O governo Bolsonaro, na verdade, não teve tempo de mostrar a que veio. Em função da dificuldade que encontrou da gestão anterior, enfrentando uma pandemia, como foi, que devastou a economia, a questão social, a questão da saúde. Todo esse tempo foi para administrar a crise, as dificuldades, a pandemia, dificultando todas essas questões. Uma avaliação agora seria até injusta. Passando a pandemia é que vai se poder ver como pode ser um governo Bolsonaro. Aí, sim, ver qual vai ser sua conduta sobre as questões sociais e econômicas.

Ainda falando de 2022, você tem intenção em disputar uma vaga na Alerj ou na Câmara Federal?
Novamente isso depende do partido e do grupo. Sou um homem público, cumprindo meu segundo mandato, tenho boa experiência. Já tive a oportunidade de ter essa experiência de gestão e me coloco à disposição do grupo e do partido. O que for decidido, por quem for decidido, eu apoio. Estou à disposição.