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Tiago Abud – O Natal das crianças e jovens sem escola

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Artigo
Por Redação
26 de dezembro de 2021 - 0h01
(Foto: Arquivo/Carlos Grevi)

Em razão da pandemia da Covid-19, foi determinada a paralisação das atividades escolares na rede pública e privada de educação, em março de 2020. No ano de 2021, as escolas da rede pública e privada, em alguns municípios, voltaram às aulas presenciais, mas nem todas. Sobre essas exceções é que escrevo, na qualidade de pai, professor e aluno.

Imaginemos, por hipótese, que os profissionais da saúde se recusassem a atender, no início da pandemia, porque não estavam vacinados. Quando o mundo parou, não havia vacina e o isolamento social foi imposto até que a solução fosse desenvolvida, ao mesmo tempo em que se esperava a ampliação da rede de saúde para receber os pacientes graves. Sabia-se que, a despeito da necessidade de manutenção das medidas de prevenção contra a disseminação do vírus, a quarentena não seria eterna. Com o avanço da vacinação, as atividades voltam a algo próximo do normal. Menos o ensino presencial em algumas bolhas.

A comparação traçada com a saúde se faz necessária, porque a prestação do serviço de educação é também prioridade constitucional, tanto assim que há repasse de verbas aos municípios e necessidade de sua aplicação obrigatória. Para além de serviço prioritário, a educação disputa os alunos, retirando-lhes do ócio, do crime, da vitimização e preparando-os para o futuro. Darcy Ribeiro disse, em certa oportunidade, que a crise educacional no Brasil é um projeto. Vou além: afastar os estudantes da sala de aula lhes retira a possibilidade de socialização e de organização, formando-se uma massa acrítica.

Além de outras perdas causadas na educação pelos efeitos da pandemia, há um enorme contingente de alunas e alunos que não retornarão aos bancos escolares. A quem interessa isso? O Estado do Ceará lançou programa de busca ativa pelos estudantes evadidos. Através de uma bolsa de duzentos reais para os alunos-monitores, estes têm a missão, utilizando-se de sua linguagem juvenil e poder de convencimento, de persuadir os faltantes a retornarem ao ambiente escolar, porque se entendeu que é mais fácil a tarefa quando realizada por um igual, sem imposição. Que o exemplo frutifique e os atores responsáveis por garantir o direito à educação de crianças e jovens possam dar a eles o maior presente de Natal: a oportunidade da volta à escola. Sem o esforço concentrado em buscar esse aluno e recuperar o tempo perdido, seja com educação em tempo integral ou sem férias escolares pelos próximos anos, muito se perderá. Esse projeto serve a quem?

Tiago Abud – Articulista e Defensor Público