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Wladimir: projetos de logística e mobilidade, Porto do Açu, salário do servidor, Mercado e novo mandato

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
19 de dezembro de 2021 - 0h01

O prefeito Wladimir Garotinho está completando o primeiro ano de mandato e – salvo por olhar extremamente severo – de maneira positiva. Afinal, assumiu o governo em pleno avanço do coronavírus, o que exigiu esforços concentrados no combate à doença que logo atingiria o momento mais dramático de toda a pandemia. 

Muito embora não seja esse o eixo da matéria, que não objetiva analisar a administração – o que exigiria ouvir representantes e/ou especialistas em educação, saúde, transportes, saneamento, etc – o que se pretende é lançar uma visão basicamente política e de longo prazo sobre os rumos de Campos.  Contudo, focalizar a pandemia logo de início explica-se pelo nível de dificuldades sem precedentes imposto aos governantes brasileiros. 

Portanto, o ‘de maneira positiva’ acima citado, longe de ser gratuito ou elogioso, visa sublinhar que o mencionado período remete à maior crise sanitária e humanitária dos últimos 100 anos e bem mais devastadora que a Gripe Espanhola. Tanto que o governo decretou lockdown parcial com menos de três semanas (para alguns, deveria tê-lo feito já no primeiro dia) e fechamento total em fins de março, quando Campos registrou mais de 10 óbitos em 24 horas. Isso, em meio ao alarmante número de casos e quando a fila de espera por leitos de UTI ultrapassava 50 pessoas.  

Destaca-se, as observações aqui feitas são subjetivas e não têm pretensão de verdades absolutas. Contudo, a despeito do efeito avassalador da pandemia em seu período mais agudo, ao executivo coube, paralelamente, pagar os salários atrasados de dezembro (não havia dinheiro em caixa) e 75% do 13ª, reabrir o Restaurante Popular, viabilizar dinheiro novo, atender as demandas mais urgentes e cuidar do dia-a-dia do município. 

Entretanto, como errar também faz parte do cardápio, o prefeito errou na adoção de certas agendas, voltou atrás e fez ajustes; errou ao provocar aglomeração reinaugurando o Restaurante Popular (pediu desculpas); errou ao escrever “(….) Sabe o que acontece agora? Demissão do Servidor” – em seguida, corrigiu. Enfim, cometeu enganos como toda administração comete e tomou decisões polêmicas, como o IPTU retroativo e a “Vaga Certa”, entre outros.  

Seja como for, afigura-se visível que Wladimir Garotinho, 36 anos – que interrompeu seu primeiro mandato como parlamentar para assumir a Prefeitura –, esteja trabalhando de forma incansável para fazer o melhor.  

Reproduzindo frase já publicada aqui, cujo sentido tomei emprestado de antigo texto da jornalista Dora Kramer, Wladimir luta para retirar as âncoras que prendem a cidade ao fundo e criar molas que a levem ao alto. 

Como mencionado na longa introdução, o texto não tem o intuito de aferir se as ruas da cidade estão bem ou mal iluminadas, se os buracos aumentaram ou diminuíram, ou se a limpeza pública está ou não funcionando a contento – muito embora esses e uma infinidade de outros temas sejam de singular importância para a população. 

O que se deseja é mirar em plataforma de horizonte bem mais extenso, qual seja da circunstância de Wladimir ter assumido o município num dos piores momentos de sua história e, a depender de uma série de fatores, ‘entregá-lo’ em situação diametralmente oposta.  

Antes, um parêntesis: não se aponta o governo ‘X’ ou ‘Y’ pela adversidade que vem assolando o município, visto tratar-se do resultado da soma de administrações equivocadas – umas mais que outras, naturalmente – em que o mau aproveitamento dos royalties teve como efeito a estagnação. Mas, ao passado, o passado.     

Estamos a falar do presente e futuro, e de virar a chave para novo ciclo desenvolvimentista,lembrando que grandes dificuldades podem significar, também, janelas de oportunidades.  

Como quase tudo na vida é cíclico, Campos não foge à regra: experimentou, ao longo de sua história, períodos de abastança e de escassez; de prosperidade e de declínio; de avanços e de recuos. Contudo, exceto por passado muito distante – cujos vácuos documentais levam à imprecisão – não se tem notícia, ao menos da metade do século passado para cá, de período de tamanho infortúnio, evidente que levando em conta o próprio processo evolutivo de qualquer cidade ou região. 

Altos e baixos da Planície Goitacá 

Cabe destacar que desde os tempos de Vila, anos 1.600, Campos já exibia pujança econômica graças à terra plana que favorecia a agricultura, os engenhos de açúcar e à pecuária leiteira e de corte.  

Assim, dinheiro e nobreza se juntaram e a prosperidade atravessou épocas – percorrendo desde o período colonial até as primeiras décadas da república. Com projeção nacional, voou ainda mais alto na transição dos ricos engenhos para as modernas unidades açucareiras. 

Queda e recuperação – Mas a monocultura do açúcar cobrou seu preço. A partir dos anos 60 o declínio bateu à porta, não tardando para o setor entrar em decadência, seguido do revés político da Fusão GB-RJ (1975) que atingiria Campos em cheio.  

Anos mais tarde a cidade retomava o caminho do desenvolvimento através da expansão da construção civil, do polo de ensino que se formava e do crescimento exponencial do comércio.  

Logo adiante a Era dos royalties, que em tese traria a efetiva redenção do município, financiando uma estrutura sem igual, simplesmente esvaiu-se por entre os dedos. Oportunidade perdida, dependência e queda no repasse nos custaram um alto preço. 

Agora, vislumbra-se a possibilidade de nova virada de 180º. Por ora, apenas uma possibilidade. Mas se as circunstâncias conspirarem a favor, trata-se de oportunidade que daria a Wladimir Garotinho a chance de fazer história na política de Campos.     

O QUE DISSE 

O texto desta página-dupla é confessadamente atípico, visto que as perguntas-respostas não ocupam mais que cerca de 1/3 do espaço. Longe de uma entrevista convencional, apenas ‘acomoda’ estreito bate-pronto, cuja essência está em deixar no retrovisor os tempos difíceis e apostar num para-brisa que descortine desenvolvimento para o município e qualidade de vida para sua gente.  

Terceira Via – O senhor disputou o primeiro cargo eletivo aos 33 anos. Tendo passado a vida inteira imerso em ambiente político, não ter começado antes foi estratégico – a escolha do melhor momento – ou não estava em seus planos ingressar na política?  

Wladimir Garotinho – Só me envolvi com política em 2008 na eleição da minha mãe para a Prefeitura de Campos. Foi a partir daquele momento que vi de perto como a política é capaz de transformar vidas e, por isso, resolvi ingressar na militância. 

A pandemia foi o problema mais grave no rol de dificuldades em que encontrou o município. A se confirmar a queda da Covid (se nenhuma variante vier recrudescer o vírus) qual será a prioridade nº 1 para 2022? Ou seja: de todos os setores, qual necessita de ações mais urgentes?   

A pandemia foi um desafio globalizado, mas Campos soube tomar as medidas certas no tempo certo e por isso superamos melhor que outras cidades. Além da pandemia o outro grande desafio era o equilibro das contas, que também já foi conquistado neste primeiro ano. A meta daqui por diante é melhorar a qualidade de vida do cidadão, pra isso iremos incrementar ações em várias frentes diferentes. 

O servidor está há mais de 5 anos sem reajuste salarial com severa perda de poder aquisitivo. Como a queda de receita desacelerou em 2021 (houve mês em que os royalties cresceram 281% do valor pago no mesmo período de 2020) o funcionalismo pode esperar por um aumento no próximo ano?  

Não tem como comparar o ano de 2020 com nada. Ele não pode ser referência, pois a economia global esfarelou pelo efeito Covid. Se buscar os anos anteriores, por exemplo 2018, a arrecadação foi superior ao que arrecadamos este ano. Estou atento à questão do funcionalismo – que vem acumulando perdas nesses anos de inflação – e sensível à necessidade de reajuste assim que possível. Mas essa é uma situação que precisa ser debatida com responsabilidade. Existe determinação de não se usar mais nenhum centavo de royalties para pagamento dos salários e a receita própria atual não cobre esse custo. Conseguimos um TAC com o Tribunal de Contas que nos deu folga momentânea, mas tem data pra acabar. 

O Mercado Municipal completou um século com aspecto deplorável: cercado por tapumes. Por sua relevância histórica e econômica, é uma vergonha que exiba tal aparência. Que planos o executivo tem para reincorporar o MM à vida do campista e qual seria o tempo razoável?   

É algo que muito me entristece. Um patrimônio dessa importância para nossa cidade, envolvido há anos em obra inacabada. Além do que, é o espaço mais democrático, onde a população encontra preços mais em conta. Estamos debruçados estudando um projeto para o Mercado, levando em conta as questões legais ligadas ao patrimônio histórico. É um problema antigo e que não tem solução rápida. Mas está no nosso radar de atuação resolvê-lo o quanto antes. 

Os frutos não virão agora, mas a Petrobras anunciou investimento na Bacia de Campos de R$ 16 bilhões. Seria essa a pedra angular que devolveria ao município os tempos áureos?  

Não. O que vai colocar o município em um novo ciclo de desenvolvimento será investir em projetos estruturantes ligados à logística e mobilidade. Com a proximidade do Porto do Açu e suas infinitas perspectivas, ou planejamos agora ou estaremos fadados ao colapso. 

Ao citar “projetos estruturantes ligados à logística” significa que o antigo rótulo que coloca Campos como município de perfil eminentemente agropecuário foi superado pela vanguarda do século 21? 

Nossa vocação agrícola é forte e ainda de significativo potencial, porém ligada historicamente à monocultura da cana. Precisamos diversificar e aproveitar nossa privilegiada localização para nos tornar um polo logístico para grandes empresas. 

O Estado tem pautado vários projetos para o interior. Ainda agora o HGG será restaurado com aplicação de R$ 16 milhões do executivo estadual. Que demanda o senhor vê como preferencial a ser levada ao governador com impacto direto na qualidade de vida da população?  

Eu entendo sua ansiedade em saber se este ou aquele projeto vai chegar antes. Mas veja: a prefeitura já apresentou 21 projetos ao Estado e ainda vai apresentar mais, quase todos ligados à infraestrutura e saneamento. Então são todos igualmente importantes porque, conjuntamente, geram empregos de forma rápida e aumentam a circulação de capital. Assim, a soma de todos objetiva chegar na ponta, elevando sobremaneira a qualidade de vida das pessoas. Esse é o nosso norte. 

Para uma reversão total de quadro, com ações em todos os setores, 4 anos não são suficientes. Estamos a falar de transformação que exige tempo. A reeleição está no radar ou o senhor vai para a costumeira resposta protocolar?  

Tenho projeto político, portanto penso sim em pedir ao povo uma nova oportunidade caso o trabalho em curso esteja sendo bem desenvolvido. 

Somando os 4 mandatos de seus pais, o seu é o quinto, podendo chegar ao sexto. Nenhuma família governou tantas vezes a cidade de Campos. Essa circunstância favorece, dificulta ou faz emergir o peso da responsabilidade de cobrar sempre mais de si mesmo?  

Vale lembrar que os mandatos da minha família foram intercalados com gestão de opositores e isso fez com que muitos projetos desenvolvidos não tivessem continuidade e fossem interrompidos. Com todas as críticas, normais na vida pública, ninguém fez mais por essa cidade do que o nosso grupo. Sobre a responsabilidade a resposta vem com uma reflexão: somos a maior cidade do interior, do segundo estado mais forte economicamente do Brasil.