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Fernando da Silveira: A hora e a vez do Saci-pererê

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Artigo
Por Redação
19 de dezembro de 2021 - 0h01

“Olhar com desdém, com desprezo o agronegócio é pura burrice, mas não o corrigir vai nos levar à morte”. – Moacyr Gomes de Azevedo.

Ao abordar para o leitor a possível hora e a vez do Saci-pererê, nem de longe estou seguindo “A hora e a vez de Augusto Matraga”, o célebre conto do livro “Saragana”, no qual o grande Guimarães Rosa enfatiza a violência na interminável luta entre o bem e o mal. O que veio na minha cabeça foi a linha de conduta do Dr. Moacyr Gomes de Azevedo, então Secretário de Agricultura, Indústria e Comércio do Estado do Rio de Janeiro, no Governo de Miguel Couto Filho. Ocasião em que o Dr. Moacyr conseguiu inteligentemente recuperar algumas matas degradadas (destruídas) com a total aquiescência dos seus proprietários. Chegando a brincar com eles dizendo que sempre procurou arrefecer a violência do Curupira com o lado brincalhão do Saci-pererê. Daí tentar aglutiná-los, colá-los carinhosamente para o bem da humanidade.

Não foi assim, por uma simples coincidência, que em 1957 tivemos em Petrópolis a mais fecunda Exposição de Flores e Frutos ocorrida no Brasil. Podendo-se dizer que tal iniciativa nós devemos ao Dr. Moacyr, em seu empenho de revelar aos agricultores de um modo geral a possibilidade de se ganhar dinheiro usando as plantas com inteligência. O que nos leva a vencer na vida sem prejudicar o nosso semelhante. Daí o Dr. Moacyr não deixa de frisar que o Saci-pererê não é diferente do Curupira, pois ambos são tão baixinhos, que a negritude do primeiro não afeta a possibilidade de aglutiná-los na defesa de nossas florestas. Lenda, que se pode ajustar no comportamento do ser humano, pois nós somos sempre capazes de aceitar o óbvio como, por exemplo, se verificarmos que um hectare de sistema agroflorestal, que não agride a natureza, rende uma média de US$ 1.OOO (dólar americano) por ano. O que revela um rendimento dez vezes maior do que o do gado e cinco vezes superior ao da soja.

Parece-me assim importante lembrar que a referida Exposição de Flores e Frutos de Petrópolis tornou-se tão importante para os que estão pensando no amanhã, que o Dr. Juscelino Kubitschek, na época Presidente da República do nosso país, não tergiversou em comparecer à iniciativa nobilitante do Dr. Moacyr obtida com o apoio do governador Miguel Couto Filho. Já naquela época, para o nosso desespero, tínhamos conhecimento de que as matas degradadas passam a emitir mais carbono do que absorver. Tal fato é mesmo de aterrorizar, pois vivemos hoje um cenário assustador de crise climática.

Fernando da Silveira – Jornalista, advogado e professor universitário