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A vida e os desafios da terceira idade em Campos

As opções de lazer, cursos, saúde e mobilidade na maior cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro

Geral
Por Clícia Cruz
5 de dezembro de 2021 - 0h01
No Clube e Policlínica da Terceira Idade, idosos aprendem a tocar violão (Fotos: Silvana Rust)

Após trabalhar por aproximadamente 35 anos, a aposentadoria é encarada pela maioria das pessoas como a hora de descansar. Mas, com o aumento da expectativa de vida, para muita gente a terceira idade é mesmo a hora de recomeçar. Se dedicar a um hobby, iniciar uma atividade física, se matricular em um curso que não teve tempo de fazer em outra época ou até aprender a tocar um instrumento musical. A terceira idade nunca foi tão ativa e produtiva. Em Campos, onde segundo os dados do IBGE 11% da população têm mais de 60 anos, as opções de atividades para a “melhor idade” são muitas — e o melhor, diversas delas são gratuitas.

Vera Lúcia Alves e Amaro do Rosário não dispensam um baile


Vera Lúcia Alves e Amaro do Rosário não deixam a chama apagar, nem a da vida nem a da paixão. Sempre animados, eles são frequentadores assíduos de serestas e bailes. Casados há 48 anos, eles fazem questão de permanecer eternos namorados, sempre andando de mãos dadas e trocando muitos beijos. No Farol de São Thomé, onde frequentam uma seresta, eles são conhecidos como “casal pipoquinha”. “O pessoal dança duas, três músicas, cansa e nós seguimos. A gente não para. Dançamos de 19h30 até 1 da manhã. Quando a gente chega em casa, a roupa está molhada de suor”, conta Dona Vera, que faz questão de só dançar com o marido.

Seu Amaro, por sua vez, também se garante como um bom pé-de-valsa. Sabe que, se ficar muito tempo sozinho no baile, vai ser solicitado por outra dama. “Eu falo com ela: ‘não demora no banheiro, porque pode vir outra me chamando para dançar e eu não vou poder recusar’”, brinca.

Professor desenvolveu um método especial para ensinar aos idosos

Mente e corpo em movimento
No Clube e Policlínica da Terceira Idade, as atividades são muitas. Enquanto uma turma aprende a fazer decoração natalina na oficina de artesanato, outros grupos aprendem a tocar violão, fazem ginástica ou dança. Quem não chega com o sorrido no rosto, logo se permite contagiar pela animação do local, que tem sempre um ar festivo.

O mestre em música Luís Fernando Rocha é o instrutor de uma turma de 34 idosos que está começando a ter aulas de violão. Ele também comanda um coral com 18 vozes no Clube. Para facilitar a assimilação das lições, ele criou um tapete que simula o braço do instrumento. A criação fez parte do material do seu mestrado e é sucesso nas aulas.

A turma está retornando às aulas presencias após a Prefeitura de Campos flexibilizar as restrições sanitárias de combate ao novo coronavírus. Durante o tempo em que mantive atividades remotas, o grupo promoveu o 3º Festival de Música da Maturidade.

O olhar de Carmen Lúcia Barreto consegue expressar o sorriso escondido pela máscara. Aos 65 anos, a aposentada apaixonada por música aproveita a oportunidade de conviver com outras pessoas e trocar experiências. “Eu amo música! Além disso, adoro trocar experiências, conversar com as pessoas. Eu, que moro sozinha, sinto necessidade desse contato”, relata.

Tai Chi Chuan no Jardim São Benedito

Para os adeptos da prática do Tai Chi Chuan, da hidroginástica e da natação, a Fundação Municipal de Esportes oferece turmas em que a maioria dos alunos é da terceira idade. Nas manhãs do Jardim São Benedito, o professor Osvaldinho Moreira comanda a turma praticante da arte marcial. Shirley Volino é professora aposentada. Ela conta que os movimentos são difíceis e que o desafio é o que torna a prática ainda mais interessante. “É difícil, no início, porque ficamos muito tempo parados. Mas, quando a gente termina os exercícios sente uma leveza, a respiração melhora, tudo melhora”, diz.

O luto é outro desafio que pode se tornar ainda mais difícil de superar nesta fase da vida, mas Dona Irene Sales, de 85 anos, não quer dar chance à tristeza. Um mês após perder o marido, que vinha enfrentando uma doença, ela retornou às aulas de hidroginástica após anos sem poder praticar a atividade física. “Eu sempre gostei de fazer exercício. Caminhava, fazia hidro, mas precisei parar tudo para cuidar do meu marido quando ele adoeceu. Agora que ele descansou, eu retornei devagar. Ainda tenho dificuldade para fazer alguns movimentos, mas estou aqui tentando”.

No comando da turma, a professora Débora não deixa ninguém ficar parado. “Nossas aulas são sempre animadas. Temos 20, 25 alunos em cada turma e são várias em diversos horários. Sempre nesse pique”, conta a professora enquanto comanda a turma ao som de música baiana.

Nunca é tarde para aprender
Aprimorar o conhecimento, aprender informática ou fazer um curso de dança. Essas são algumas opções da Universidade para a Terceira Idade (Uniti), um programa de extensão da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Campos. Criado em 1994, o programa de educação continuada reúne profissionais de diferentes áreas, como Gerontologia, Sociologia, Geriatria, Serviço Social, Psicologia, História, Geografia, Enfermagem, Direito e Economia, entre outras. As aulas, paralisadas desde o início da pandemia, estão previstas para recomeçar em março de 2022, com a turma inscrita desde 2020, quando a Covid-19 impediu o início das aulas. A partir das possíveis desistências, serão abertas novas vagas para os diversos cursos.

“Um dos nossos cursos mais procurados é o de atualidades, no qual são debatidos assuntos diversos, novos conceitos, preconceito. Todos os assuntos que são discutidos no mundo atual são abordados, inserindo o idoso no contexto de hoje”, explica o coordenador do programa, professor Sylvio Costa. O curso tem duração de um ano.

Médico geriatra Luís Fabiano Cabral ressalta a importância dos bons hábitos desde cedo

Saúde e terceira idade
Se cuidar é fundamental em qualquer fase da vida e quem quer chegar à terceira idade com saúde precisa começar a praticar hábitos saudáveis desde cedo. “O quanto antes a gente se conscientiza sobre mudar os hábitos para melhor, mais anos com vida de qualidade nós estamos somando”, explica o geriatra Luís Fabiano.

Sobre os males mais temidos na terceira idade, que são o Alzheimer e as demências, ele ressalta que é importante manter o cérebro ativo.
“As indicações são as mesmas. O mesmo que protege o nosso corpo é o que protege o nosso cérebro: alimentação saudável, sono de qualidade, evitar os maus hábitos, como bebida em excesso e fumo”, diz o médico, que acrescenta que o grande fator de risco dessas doenças é a idade. Quanto mais idade, mais risco.

Transporte público cheio é uma reclamação dos idosos

Transporte
Um problema que afeta a todos em Campos, mas especialmente os idosos, são as más condições do transporte público municipal. Superlotação de coletivos e horários inconstantes ou insuficientes para atender à demanda são as reclamações mais constantes.

Na Rodoviária Roberto Silveira, Aníbal Roberto Santos, de 65 anos, conta que as empresas respeitam a gratuidade garantida por lei, mas que os horários dos ônibus são muito irregulares, situação que piora nos fins de semana. Ele relata espera muito longa nos coletivos que fazem as linhas para a Penha e a linha Jóquei-Uenf. “Outro problema é a superlotação. Às vezes, demoram muito a passar. Aí, quando chegam, estão cheios”, conta Aníbal.

O município está da Fase Branca do Plano de Retomada e, segundo publicado no Diário Oficial, os coletivos deveriam estar circulando com o limite máximo de 80% da capacidade, mas Aníbal diz nunca ter presenciado nenhum tipo de fiscalização.

O Jornal Terceira Via questionou a Prefeitura de Campos sobre a fiscalização dos coletivos, que informou que “o Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) tem conversado com as empresas, solicitando a ampliação dos horários e que a fiscalização atua nos principais pontos de embarque e desembarque de passageiros e que, em caso de reincidência, o operador está sujeito a multa e até o cancelamento da sua permissão de operação. As denúncias do transporte podem ser enviadas para o telefone (22) 98152-1116 ou pelo Instagram @imtt.campos”.