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Cardiopatia infantil: um alerta aos pais

Ong Coração é Vida busca junto ao poder público oferta do exame de ecocardiograma fetal na cidade

Saúde
Por Clícia Cruz
29 de novembro de 2021 - 0h08
Erika Porto| Cardiologista pediátrica e fetal

Um em cada 100 bebês nascidos no Brasil apresenta um quadro de cardiopatia congênita, segundo o Ministério da Saúde. São cerca de 29 mil recém-nascidos diagnosticados com má-formação no coração anualmente, grande parte dos quais necessita de cirurgia já nos primeiros 12 meses de vida. Segundo os especialistas, é importante que haja detecção precoce do problema, para que seja possível prestar assistência logo após o parto e garantir qualidade de vida à criança. Em Campos, a ONG Coração é Vida luta para que a rede pública municipal de Saúde ofereça o ecocardiograma fetal, um exame primordial para a identificação da cardiopatia congênita.

A morte do menino Mickael de Jesus de Oliveira, uma criança cardiopata, no último dia 17, após tomar quatro vacinas, reacendeu a preocupação dos responsáveis pelas crianças portadoras de cardiopatia diante da dificuldade para conseguir atendimento adequado para os filhos em Campos.

Nathália Rosa, diretora da ONG Coração é Vida, que é composta por pais de crianças com cardiopatia congênita em Campos, explica que a entidade tem buscado, junto ao poder público, a reabertura do ambulatório que tratava crianças com cardiopatia no Hospital Geral de Guarus (HGG). Fechado desde o início da pandemia, o local oferecia consultas e exames com duas médicas cardiologistas pediátricas e as crianças tinham um atendimento completo.

“Nós, inclusive, reformamos a sala de atendimento na época (2017), para que as crianças tivessem um ambiente agradável, porque são crianças que precisam de acompanhamento constante e, lá, nós tínhamos esse serviço que funcionava muito bem. Nós temos pedido esse retorno do serviço e acredito que, em breve, as crianças poderão ser atendidas novamente no HGG”, diz Nathália.

A luta pelo diagnóstico precoce e o tratamento adequado à doença entrou na vida de Nathália há sete anos, quando descobriu, durante o exame de ecocardiograma fetal, que a filha Antonella possuía uma cardiopatia grave. A descoberta fez com que Nathália e o marido se mudassem para o Rio de Janeiro, para que a menina nascesse numa rede de atendimento que desse o suporte necessário. Após o nascimento, Antonella passou por três cirurgias cardíacas e um cateterismo e, até hoje, tem um acompanhamento minucioso.

“Nós conseguimos oferecer o que há de melhor para a nossa filha, mas nossa luta é para que todas as crianças tenham. As crianças precisam ter a chance do diagnóstico precoce para que elas tenham mais chance de viver e, futuramente, ter uma qualidade de vida mais próxima do normal”, diz Nathália.

Mãe | Nathália Rosa com a filha Antonella

Ecocardiograma fetal
Segundo a médica cardiologista pediátrica e fetal Érika Porto, o ecocardiograma fetal é um exame que deve ser feito por toda gestante, entre a 20ª e a 28ª semanas de gravidez. O objetivo é a detecção de doenças graves do coração fetal.

“A má-formação cardíaca é a má-formação mais comum no feto. Uma em cada 100 crianças nasce com o problema. Com a detecção pelo exame, poderá ser feito todo o planejamento do parto, assim como o planejamento cirúrgico . O exame é preconizado para toda gravidez, já que 90% das mães não têm nenhum fator de risco no pré-natal”, ressalta a médica.

Sobre o exame, Nathália Rosa diz que sua realização pela rede pública municipal de Saúde seria uma conquista, diante da importância do procedimento. Ela revelou ter informações de que a Prefeitura, inclusive, possui o equipamento para a realização do exame, mas que, até hoje, ele não é oferecido à população.

“Existe o equipamento, a sala, o Município tem os médicos que realizam o exame. Mas, até hoje, ele não é disponibilizado. A gente não consegue entender”, questiona.  

A Prefeitura de Campos informou, por meio de nota, que “a Secretaria Municipal de Saúde esclarece que o atendimento de cardiologia infantil é realizado no Centro de Referência e Tratamento da Criança e do Adolescente (CRTCA II), situado na Avenida Vinte e Oito de Março, nº 350, no Centro, e não há fila de espera. O agendamento é feito no local”.
Já sobre o ecocardiograma fetal, a Prefeitura afirma que o exame “não faz parte do elenco de exames do Sistema Único de Saúde (SUS), porém o município vem estudando formas de implantar e disponibilizar o exame.

Em média, são disponibilizados 60 exames ecocardiograma pediátrico, por mês. Também não há fila.  Aproveitamos para reiterar que no município, dentro do acompanhamento pré-natal, são disponibilizados exames de imagem de ultrassonografia obstétrica, transvaginal e morfológica”.
Sobre possuir o equipamento e não utilizar para a realização do exame, a Prefeitura respondeu que a rede dispõe de um aparelho de ultrassonografia que, assim como outros, pode receber peças adicionais (acopladas) e ser adaptado para a realização dos exames.

“A preparação desse equipamento e, inclusive, outras formas, fazem parte do planejamento do município para disponibilizar o ecocardiograma fetal o quanto antes à população”, diz a nota.

Caso Mickael
Mickael de Jesus de Oliveira, de apenas dois anos, morreu no último dia 17, no Hospital Ferreira Machado (HFM). De acordo com os pais, o menino tinha Síndrome de Down, era cardiopata, já havia passado por cirurgia cardíaca e foi internado horas após receber quatro vacinas no posto de imunização da Cidade da Criança.

Mickael de Jesus, de 2 anos, morreu no HFM no dia 17 (Reprodução)

De acordo com o pai, Matheus de Jesus dos Ramos recebeu quatro imunizantes no dia anterior. Ao chegar à casa da família, na Vila Manhães, na Penha, o menino começou a ficar roxo e com o corpo rígido. Ele passou a noite internado no HFM e faleceu pela manhã.

Segundo o infectologista Nélio Artiles, não há nenhuma contraindicação sobre a criança tomar mais de uma vacina de uma só vez. “Até os dois anos, nós temos uma quantidade de vacinas muito grandes a ser aplicadas. Essas vacinas costumam ser aplicadas no mesmo dia. A princípio, não há riscos na multivacinação em apenas um dia, a não ser que haja alguma contraindicação específica”, disse.

O especialista afirma que é preciso, porém, cuidado com quadro de febre. “Criança com febre alta pode desenvolver crise convulsiva. Se a criança já teve convulsão no passado ou que tenha alguma neuropatia, doença cerebral ou mental e que tenha predisposição à convulsão, deve ter a temperatura monitorada mais de perto”, encerrou.