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Tiago Abud – Campos dos refugiados

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Artigo
Por Redação
28 de novembro de 2021 - 0h01
Família em ocupação do conjunto Novo Horizonte

No início de novembro estive na Ocupação Novo Horizonte, para, como ser humano, prestar solidariedade às famílias que estão no local. O cenário choca já no caminho. Ao lado do empreendimento ocupado pelas famílias, no Aeroporto, uma imensidão de terra ociosa, sem o destino que a Constituição Federal lhe reserva, afastada da sua função social, contrastando com a cerca que segrega o espaço que hoje, em condições precárias, vivem cerca de 300 famílias, criando, na terra goitacá, um ambiente análogo ao dos campos de refugiados.

No local, vigiado por seguranças da construtora, não é possível entrar com mobílias e as famílias dormem em locais improvisados, vivem de uma cozinha comunitária, que serve refeição, a partir de doações, apenas para os que chegarem primeiro, na caída da noite, na volta de seus trabalhos informais. Alguns não conseguiram viver em meio às restrições impostas. Houve um episódio, onde um ocupante, na tentativa de fazer comida em fogão improvisado, se queimou com álcool.

Enquanto o centro da cidade será enfeitado para o Natal, as famílias da ocupação aguardam uma solução definitiva do poder público, visando garantir o direito constitucional à moradia. No meio da negociação, não aceitaram o paliativo aluguel social, porque foi exatamente a inadimplência deste benefício social, no passado recente, que as fez migrar para o condomínio ocupado. Entre a promessa do governo estadual de contemplá-las no programa habitacional (que mais parece uma conversa no gerúndio entre consumidor e atendente de telemarketing), a omissão dos gestores municipais em compreender o problema e entender que precisam participar da solução e o silêncio eloquente dos políticos da cidade, crianças, idosos, mulheres e homens veem a aproximação do fim do ano com desesperança.

Em meio ao caos, um ocupante sacou a pergunta: por que a demora em solucionar nosso problema, se a política sobrevive dos nossos impostos? Sem respondê-lo, lembrei-me de Agamben e não me conformei em ver que algumas pessoas são consideradas, pelo poder, como cidadãs de segunda categoria, condenados a viver uma existência como mortos-vivos.A solução existe, não é difícil, mas é preciso querer.