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O grito da fome

Com gás de cozinha até 47% mais caro, pessoas passaram a recorrer a alternativas nem sempre seguras para cozinhar

Opinião
Por Redação
21 de novembro de 2021 - 0h01
(Foto: Carlos Grevi)

A pobreza deixou de chorar baixo em um canto e veio gritar na nossa cara. Quando falamos em crise sanitária e em declínio da economia, em perda do poder de compra e empobrecimento da população, não podemos esquecer que, a dez minutos do Centro de Campos, há famílias inteiras em situação de insegurança alimentar. Além da incerteza sobre o que comer todos os dias, essas pessoas ainda se veem obrigadas a buscar alternativas para uma tarefa aparentemente banal: preparar os alimentos. Com gás de cozinha até 47% mais caro que em janeiro, elas passaram a recorrer a alternativas nem sempre seguras, como fogões a lenha e fogareiros a álcool.

Na reportagem especial desta semana (veja aqui) a jornalista Clícia Cruz conferiu de perto a rotina de pessoas que, com o pouco dinheiro que conseguem se desvalorizando diariamente, enfrentam tempos difíceis, em que até a chuva pode ser determinante para que haja comida no prato. Um drama que tem , sim, que ser exposto, como o faz o trabalho do fotógrafo Carlos Grevi.

Existe uma diferença grande entre a vontade de comer e a fome. A fome que grita precisa de ouvidos, da empatia daqueles que, pela graça, nunca a sentiram, e que apenas sentem vontade de comer.

Quando alguém tem muita saúde e idade avançada, existe sempre outra pessoa para dizer “você ainda tem muita lenha para queimar”, frase otimista neste contexto. Mas, nesta reportagem, a lenha é outra. Aquela que, no pior sentido da expressão, queima a alma.