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Pesquisadora analisa linguagem neutra, mídias digitais e o futuro do idioma português

Ana Poltronieri é professora e pesquisadora do Instituto Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes

Entrevista
Por Ocinei Trindade
12 de novembro de 2021 - 12h21

Ana Poltronieri é professora e pesquisadora do IFF Foto: Acervo Pessoal)

Ana Poltronieri é professora de Língua Portuguesa desde 1986. Ela participa da reportagem “Português internetês: idioma segue em contínuo processo de transformação” (clique aqui). Atualmente, faz parte do corpo docente do Instituto Federal Fluminense, onde atua na Licenciatura em Letras. É doutora em Letras pela UERJ, com estágio doutoral na Universidade da Beira Interior-Portugal. Nesta entrevista, Poltronieri amplia análises sobre a linguagem neutra, o uso do idioma nas mídias digitais e o futuro da língua.

Como avalia a importância do idioma Português no mundo atual?

O “nosso português”, em seu estágio atual, difere, em muitos aspectos,  do português europeu e também do de outros países lusófonos. Fala-se, hoje, em português brasileiro. Essa diversidade do português enriquece-nos não só no aspecto linguístico, mas também cultural. A lusofonia mostra, principalmente, que o português é uma língua de cultura.

Como observa as transformações da língua, as influências estrangeiras e a linguagem utilizada nos meios eletrônicos?

Com naturalidade e acho muito salutar. É inconcebível esta história de preservar o idioma em um baú e jogar a chave fora. A língua pertence aos falantes, que são seres sociais, históricos e culturais. Houve o movimento contra o internetês, porque se dizia que os jovens iriam desaprender a ortografia, o que não aconteceu, como mostram as pesquisas linguísticas. Se há inadequações em relação à norma-padrão, que é uma variedade entre tantas outras, é porque o ensino de língua portuguesa ainda foca muito em decorar regras e, infelizmente, pouco na análise e reflexão.

A linguagem neutra está na pauta de discussões entre especialistas e pesquisadores. Como se posiciona sobre a sugerida neutralidade na Língua Portuguesa?  

Ao contrário de muitos dos meus pares, eu sou favorável à linguagem neutra, embora reconheça que o sistema linguístico do português brasileiro tenha especificidades que, na sincronia, ora agregam, ora refutam o neutro, porque o português é uma língua de flexão. Entretanto, há um aspecto de inclusão muito importante na linguagem neutra, porque ela concebe a existência na língua dos LGBTQIA+. Há menos de 30 anos, as mulheres lutaram por esse direito e conseguiram, e, hoje, ouvimos expressões como “brasileiros e brasileiras” e “alunos e alunas” em eventos formais, o que era impensável antes da nossa luta. Muitos analistas do discurso afirmam que o mundo social muda quando a língua inclui a diversidade. A meu ver, isso é verdade.

Há espaço para a linguagem coloquial, a norma culta e a escrita internética ao mesmo tempo?

Claro que há. O português são vários, e eu não preciso sair da minha região para reconhecer isso. Uma ida à rua vai mostrar que o português não tem essa homogeneidade que os puristas da língua apregoam por aí. Por sinal, eles também variam a língua, porque sabemos que o falante de toda e qualquer língua tem que saber como usá-la em determinadas situações; caso contrário, cairá no ridículo, ou, como os  jovens dizem, “vai pagar um mico enorme”.

Aponte sobre o futuro da Língua Portuguesa

Vou fazer uma paráfrase com um dito popular em relação à sua pergunta: o futuro de toda e qualquer língua ao falante pertence.

O que poderia ser destacado em nosso idioma?

Gostaria de destacar a literatura e a música, porque são sistemas semióticos nos quais o português brasileiro mostra a beleza de seus recursos expressivos. Nesse sentido, idioma não é só estudo gramatical, como muitos pensam, visto que ele nos dá acesso a inúmeras artes, além de ser um meio importante de interação.