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“Novo normal” surgiu com a mesma força que desapareceu e acabou não dando em nada

Guilherme Belido Escreve

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
10 de novembro de 2021 - 18h50

Em meados do ano passado, o então cantado em verso e prosa “Novo Normal” predominava nos noticiários, prometendo uma era de solidariedade e de fraternidade para com os necessitados – os vulneráveis.  

Essa expectativa de mudança no comportamento da sociedade surgiu na pandemia, então com 4 a 5 meses, fazendo aflorar os sentimentos mais nobres. Naquela época, entre junho e julho de 2020, o Brasil registrava de 1.000 a 1.300 vidas perdidas por dia e a população estava atordoada. O mundo inteiro estava.  

A previsão era de aumento do número de óbitos. Não se sabia quando o ‘tal platô’ seria atingido (que acabou não ‘dando em nada’) e tampouco havia previsão de vacina. A maioria das cidades brasileiras entrava e saía de lockdowns que se mostravam paliativos ou inúteis. Então era mais ou menos assim: lockdown de um lado e aglomerações – algumas por necessidade – de outro. 

Campos não era diferente: lockdowns mais ou menos rígidos, leitos de UTIs com 100% de ocupação e o ‘famoso’ Hospital de Campanha do governo do Estado do Rio, montado e desmontado na Av. 28 de Março, sem que fizesse um único atendimento. ‘De quebra’, o próprio secretário de saúde do RJ preso por vergonhoso e desumano desvio de dinheiro destinado ao combate da Covid-19, escândalo de corrupção que chegaria também ao governador Witzel, – mais à frente afastado e cassado. O emprego despencou. Os informais ficaram sem trabalho. Autônomos, ambulantes e os que ganham o pão fazendo bicos aqui e ali não tinham como trabalhar. E sem trabalho, muitos não podiam levar comida pra casa.  

Surgia, então, o “Novo normal” – uma onda transformadora onde os mais afortunados iriam estender as mãos àqueles que nada tinham. Só que, aos poucos, foi se dissipando. Num primeiro momento, as doações de alimentos aumentaram. Casas de caridade, de auxílio aos idosos e entidades assistenciais passaram a receber maior volume de comida. Numa ação comovente, grupos de pessoas se reuniam e entregavam diretamente aos moradores de rua quentinhas. 

Mas… não se ouve mais o “Novo normal”. A expressão estava todos os dias nos telejornais da Globo e demais emissoras, nos jornais e Sites. Mas, e agora? Alguém tem ouvido ou sabe onde foi parar o “novo normal”. 

Exceção aos que sempre deram   

Por justiça, as doações e contribuições não cessaram por completo. Aqueles que sempre ajudaram com doações as entidades que abrigam necessitados e idosos, bem como as irmãs do Convento do Jardim São Benedito (Santa Face) que distribuem café da manhã e centenas de quentinhas todos os dias… enfim, os que sempre enxergaram os recém-chamados de “invisíveis”, continuam com suas ações humanitárias. Mas estes, nada tem a ver com o modismo do ‘Novo Normal’. 

Confirmou-se… infelizmente – Em página publicada em 19 de julho de 2020 (fac-simile reproduzido) o título ‘Novo normal deve ser o velho anormal de sempre’ adiantou o que por lamentável viria a se confirmar. Não foi esperteza do autor nem adivinhação, mas a simples observação histórica de que as pessoas, com honrosas exceções, só olham para o próprio umbigo.  

Preocupam-se com seu bem estar – em frequentar bons restaurantes, morar em casas confortáveis e luxuosas, viajar para o exterior, trocar de carro todo o ano… e tudo o mais que a vida pode oferecer de melhor – como se tivessem direito divino ao bom, pouco se importando se ao próximo falta um prato de comida. 

Para não ir mais longe que o século passado, o mundo não mudou no pós 1ª Guerra Mundial, muito embora se dissesse o contrário. Não mudou, também, em 1945, quando o mundo, após 6 anos, se viu livre do maior conflito da história, a II Grande Guerra. E não mudou nos conflitos posteriores, de maior ou menor potencial destrutivo. 

A fome e a miséria continuam sua escalada de desumanidade. No Brasil, alguns milhões vivem abaixo da linha da pobreza.  Crianças morrem de fome – idosos de frio – e o gigante continental, de abundante riqueza natural, não é capaz de garantir comida na mesa dos mais carentes.  

Governantes desqualificados, muitos deles corruptos, décadas após décadas incapazes de distribuir com o povo a riqueza da terra fértil a que têm direito. Esse, sim, é o velho normal.