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Tiago Abud: Pode ser comum, mas não é normal

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Artigo
Por Redação
24 de outubro de 2021 - 0h04

Segundo a revista Forbes, os 2.755 bilionários do mundo têm a fortuna avaliada em 13,1 trilhões de dólares. As dez pessoas mais ricas do mundo têm patrimônio somado de 1,15 trilhões de dólares e, na pandemia, aumentaram o monte de dinheiro em 686 bilhões(em dólares). No Brasil, o patrimônio dos 42 bilionários cresceu 34 bilhões de dólares na pandemia.

No Leblon, onde funcionou por anos a churrascaria Plataforma, sessenta e uma unidades de um prédio novo foram colocadas à venda, em abril de 2021, sendo todas vendidas em dois dias, ao preço de trinta mil reais o metro quadrado, com apartamentos entre 31 m² e 139m². No mesmo bairro, na orla da praia, sobe o último prédio possível em tal rua, ao preço, por unidade, entre 28,5 e 50 milhões de reais. São seis unidades, apenas. No lançamento, duas já estavam vendidas.

Na outra ponta, notícias dão conta da queda do país no ranking das economias mais ricas, ao mesmo tempo em que pessoas grassam em filas por resto de comida, o Brasil entra novamente no mapa da fome, as pessoas trocam gás de cozinha por fogão à lenha e não conseguem pagar pelo preço do combustível, ao mesmo tempo em que cada mês as gôndolas do supermercado apresentam preços diferentes, em regra para cima.

Não esperem desse texto uma ode contra o dinheiro. Não há pessoa, por mais progressista que seja, que não comemore o aumento de salário, porque o que paga a conta do mês, ao fim e ao cabo, é o l’argent. Contudo, não é possível se admitir a desigualdade que assola o país e que tem aumentado nos últimos tempos. Pode ter se tornado comum, mas não é normal. Cabe ao governo adotar política pública para diminuir esse fosso social. Mas seriam elas adotadas por quem defende menos Estado? A toda evidência, não é possível agradar a dois senhores ao mesmo tempo: ou bem se governa para aparar a desigualdade ou vai em direção do afago ao grande capital. O Brasil tem andado na direção do segundo caminho. Para ser justo, não é de hoje, a despeito de a coisa ter ficado mais clara nos últimos tempos.

Programas sociais não podem ser esmolas ou medidas eleitorais. Devem ser praticados exatamente para diminuir a desigualdade e, em contrapartida, fomentar medidas para que os contemplados possam, em certo período de tempo, deixar os programas e, com independência, caminharem com as próprias pernas. Aliado a isso, o choque na educação, para que seja para todos e de qualidade. Até que isso ocorra, o discurso de prestígio a meritocracia serve apenas para esconder as nossas diferenças. Que não são poucas.