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Produtores apontam motivos para alta nos preços dos alimentos

Pandemia, câmbio, mercado externo, crise hídrica e instabilidade política nacional são os vilões da inflação

Economia
Por Aloysio Balbi
18 de outubro de 2021 - 0h01
Escalada de preços assusta consumidores (Foto: Carlos Grevi)

O aumento nos custos de produção de setores diversos da economia regional, como o de açúcar, etanol e pecuária de leite e corte, pressiona os preços nas prateleiras dos supermercados. Diversos fatores são apontados pelos representantes dos setores para justificar a alta, sentida na ponta pelos consumidores. Segundo o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Campos, Ronaldo Bartolomeu, estima-se que o custo subiu em torno de 6% tanto na pecuária leiteira quanto na de corte. Percentual semelhante foi apontado pelo presidente da Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro), Frederico Paes, para o açúcar e o álcool. Ele frisa ainda que o custo só não foi maior porque as usinas geram energia elétrica a partir do bagaço da cana.

Item essencial na alimentação da maioria das pessoas, as carnes têm sofrido sucessivos aumentos de preços. Neste caso específico um dos culpados é do mercado internacional, que interage com o câmbio e importa em mega-escala. Pecuaristas de Campos, onde existem cerca de 300 mil cabeças de gado, sentem os mesmos efeitos dos de Mato Grosso do Sul quanto ao custo. Em média, a carne bovina subiu 40%.

Segundo Ronaldo Bartolomeu, a carne bovina tende nos próximos meses a baixar porque o confinamento de gado se amplia e novas matrizes estarão na medida para o abate. Ele destacou que o leite está saindo da entressafra e que o preço deve baixar nas próximas semanas. O período de entressafra do leite pesou no bolso dos consumidores e o custo de produção elevou o litro para R$ 2,50, que quase dobra de valor nos supermercados.

Açúcar mais caro
Nos últimos dias, os preços do açúcar para o consumidor seguiram em ligeira alta. Isso por causa de uma maior demanda pelo produto no período. As usinas, por sua vez, seguem retraídas, comercializando apenas pequenos volumes, já que esperam preços melhores na entressafra.

Frederico Paes diz que não existe especulação e que a oferta é pequena porque as usinas priorizaram a produção do etanol, por causa das condições mais vantajosas oferecidas pelo mercado. Outra questão que pesa no preço do açúcar é que a venda externa continuou remunerando mais que a comercialização interna, o que se repete desde o início de outubro. O saco de 5kg de açúcar custa, em média, R$ 12,50 no supermercado.

“Importante é que nosso setor, embora tenha estratégia de mercado, não especula”, garante o presidente da Coagro.

Economista Alexandre Delvaux (Foto: Arquivo)

Os motivos
Uma combinação de fatores fez com que a inflação rompesse a meta do governo para este ano e que o consumidor voltasse a ficar apavorado com esse fantasma que não assustava tanto desde os anos 2000. A chamada tempestade perfeita foi provocada pela pandemia, câmbio (dólar), mercado externo, crise hídrica e instabilidade política no cenário nacional.

Para entender a disparada dos preços, principalmente dos alimentos, o economista Alexandre Delvaux diz que é preciso olhar para o início da pandemia. Segundo ele, existe outro componente entre os listados acima, tão importante quanto, que é a especulação diante de um mercado já fragilizado.

Ele explica que, quando as restrições de circulação tiveram início, em março, a população começou a consumir mais arroz cozinhando em casa do que quando tinha que fazer as refeições na rua. Foi apenas o começo de um gosto amargo da inflação, que depois ganhou a carne, tanto bovina quanto de frango, o óleo de cozinha, o açúcar e por osmose se estendeu a quase todos os produtos.

“Na região, como em todo o país, esses aumentos têm na raiz a pandemia, obviamente, mas também a escalada do dólar e o aumento da energia elétrica, que aumentam os custos de produção, além do aumento de combustíveis”, analisou Delvaux.

Previsão
A previsão é de que a inflação em 2021 feche bem acima da meta (estipulada pelo governo em de 5,25%), voltando aos dois dígitos. Em junho, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) previa que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terminaria o ano em 5,9%. Uma das razões da revisão é a expectativa de reajustes mais acentuados para a gasolina e a energia elétrica, que provocaram uma elevação da projeção de preços monitorados de 9,5% para 11,0%.

Com a palavra, os consumidores

“Há muitos anos não vejo uma carestia tão forte. Em casa, troquei a carne pelo peito de frango e linguiça. Entrou mais legume no cardápio. O arroz foi substituído pelo macarrão. Mas, o açúcar e o óleo de soja não podem faltar. Está tudo um absurdo.”

Maria Lúcia Oliveira, 60 anos, funcionária pública

“Percebo que tudo subiu, do café ao açúcar. A carne de boi nem se fala. Então, temos que mudar o cardápio e os hábitos. Estamos consumindo mais frutas do que carnes e mais legumes também. Mas, agradeço, porque muita gente não tem o que comer.”

Aloísio Antônio da Silva Moço, 50 anos, gerente comercial

“Subiu tudo. Eu troquei o queijo pelo requeijão que está mais barato. A carne eu troquei pelo frango e adicionei mais legumes no cardápio da família. Também acabamos com as chamadas sobras. Aproveitamos tudo nos alimentos. Se a banana passa do ponto, vira doce.”

Tatiana da Conceição, 35 anos, comerciária