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Modo Crise – Vamos ‘nisso’ até outubro de 2022?

No Brasil cada semana surge um fato novo que aproxima o fósforo riscado do barril de pólvora

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
21 de setembro de 2021 - 5h02
VIRAR A CHAVE | O Brasil corre risco institucional caso não diminua a tensão política, particularmente se os intermináveis protestos desandarem para a violência

Saindo do foco específico dos recentes acontecimentos da política brasileira – mas sem excluí-los do todo – para uma visão mais ampla, vemos que o País está sendo assolado por frequentes estados de crise, os quais estão se mostrando perigosamente mais intensos. Num breve retrospecto que recua aos últimos seis anos, o Brasil tem enfrentado seguidos sacolejos a partir dos fatos imediatamente anteriores ao afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff (Petrolão, etc.), passando pela consumação de seu impeachment e, ato contínuo, à agitação que se formou com a posse de Michel Temer, acompanhada de intensos protestos de o “Golpista”. 

Ressalve-se que ao longo do referido período, é nos dias atuais que se constata o maior nível de inquietação do povo – podendo descampar para algo imprevisível – bem como de tensão entre os poderes, particularmente entre a Presidência da República e o STF.  

Daí o estranho título ‘Vamos nisso até outubro de 2022?’, cuja interrogação traz um alerta de que é inaceitável o risco de se manter ligado o ‘Modo Crise’ por mais um ano, tendo em vista que a cada semana surge um fato novo que aproxima o fósforo riscado do barril de pólvora.

Paralelo a tudo isso, é pertinente salientar o grau de odiosidade dos seguidores mais extremados de ambos os lados – os a favor e contra o governo – que não aceitam qualquer narrativa que não seja a sua. Ora, aos que atacam os que têm entendimento diferente do seu, é bom lembrar que estamos num País livre, onde cada qual tem o direito soberano de fazer suas próprias opções. A isso se chama liberdade. 

Logo, quem acha que o PT deve retornar ao governo, tem o livre arbítrio de votar em Lula (no candidato do PT, seja ele quem for) sem ser patrulhado ou ofendido. Da mesma forma, aos que desejam a reeleição de Bolsonaro, a Constituição se lhes garante a liberdade de escolha, sem que sejam perseguidos ou agredidos. Ou a democracia, a liberdade e o Estado de Direito não valem para todos? 

Via de regra, a Internet é o ‘ambiente’ onde se vê algumas coisas boas, coisas ruins e outras mais ruins ainda. É um ‘instrumento’ que muito mais deforma do que informa. Não há respeito pela narrativa diferente ou pelo pensamento discordante. Não se convive com o contrário e tampouco as críticas guardam um mínimo de respeito. Se um artigo, ou análise, ou comentário publicado na imprensa ou numa mídia online não se enquadra em determinada narrativa, então ela não presta e “merece” todo tipo de ofensa e agressividade. É o retrocesso ao coronelismo da metade do século passado, onde jornais eram empastelados, opositores ameaçados e adversários (concorrentes) assassinados.   

O risco de passarem de pacíficas a violentas 

Então, pergunta-se: num País movido a intermináveis protestos de rua, como se dará a próxima manifestação seja pró ou contra Bolsonaro – uma ou outra invariavelmente acirrando os ânimos já no limite? E o que esperar? Quais as consequências?  

E mais: até que ponto pode chegar a intolerância dos Bolsonaristas ferrenhos em relação aos simpatizantes do Partido dos Trabalhadores e do ex-presidente Lula? A mesma pergunta valendo para os ferozes opositores de Bolsonaro relativamente àqueles que o apoiam.  

Pergunta-se, ainda: com uma manifestação atrás de outra, numa verdadeira competição onde cada qual busca sobrepor-se à outra, qual o limite para a tensão? 

Quando se constata, claramente, partidários se transformando em adversários e adversários passando a inimigos, qual a margem de segurança até que manifestações pacíficas avancem para a violência? 

São muitas as interrogações perturbadoras que, sem que aja uma reação cidadã de comedimento, uma espécie de aliança nacional que preserve a nação do risco institucional, fica difícil equacionar como o Brasil vai lidar mais um ano com esse estado de coisas.

Mais do pior – Como já retratado em matéria de alguns meses, observa-se que os candidatos naturais – Bolsonaro e Lula – querem a polarização entre os dois porque sabem o quão fácil será apontar as mazelas de cada qual. Logo,  um quer ao outro, fazendo conta de que quanto pior, melhor.  

Além disso, assumem posição antidemocrática ao não considerarem, quase que não admitindo, a pluralidade de pré-candidaturas, como se fossem donos do processo eleitoral – conforme reproduzido abaixo de texto anterior:  

Para Bolsonaro, não existe terceira via: “Está polarizado, não vai agregar. Não vai dar certo e também não vai atrair a atenção do eleitor”. Lula da Silva foi ainda mais incisivo: “A 3ª via é uma invenção dos partidos que não têm candidato. Não há polarização, mas democracia contra fascismo. Quem está sem chance usa de desculpa a tal da terceira via”, disse.