×
Copyright 2024 - Desenvolvido por Hesea Tecnologia e Sistemas

Investimento de R$ 5 milhões pode pôr fim às secas e cheias do Paraíba

Recurso do Ceivap será empregado na construção de um reservatório em Minas Gerais e na revitalização da malha de canais em Campos

Geral
Por Redação
20 de setembro de 2021 - 0h01

No que depender do otimismo de integrantes do Comitê do Baixo Paraíba, a constante e preocupante oscilação no nível do Rio Paraíba do Sul — que garante o abastecimento de água para mais de dois milhões de pessoas nas Regiões Norte, Noroeste e uma parte de Minas Gerais — está perto do fim. Tamanho otimismo é fruto de um investimento de R$ 5 milhões, considerado inédito, para limpeza e conservação dos canais da Baixada Campista e construção de um reservatório para conter a água da chuva no período de verão e ser liberada no inverno, durante a seca.

Estrategicamente, a obra será feita em Minas Gerais e vai favorecer dezenas de municípios abastecidos pelo Rio Paraíba do Sul e seus afluentes. Os recursos são próprios do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap), instituição facilitadora para o desenvolvimento sustentável e articulação interestadual.

O comprometimento na captação, tratamento e distribuição de água para milhares de casas acontece tanto durante a seca – de julho a outubro – quanto no período de cheia – de novembro a março. Em Campos, o Ceivap é representado pelo Comitê do Baixo Paraíba. O diretor João Gomes de Siqueira explica que as obras eram esperadas por mais de 10 anos para equacionar, definitivamente, os problemas. “Uma empresa especializada foi contratada por tempo indeterminado para revitalizar os canais de Campos fora do perímetro urbano, ou seja, em áreas de difícil acesso consideradas gargalos na elucidação desta questão ao longo dos últimos anos”, afirma.

Segundo Siqueira, naquela época, o que faltava era dinheiro. “Nós sempre solicitamos verba ao Ceivap, mas o que parecia que nunca iríamos alcançar, finalmente chegou”, comemora a conquista. A dragagem vai acontecer em sete canais: Itereré, Cacomanga, Campos-Macaé, Coqueiros, Cambaíba, São Bento e Vigário. Os trabalhos estão previstos para começar na quarta-feira (22), quando as equipes se reunirão às 7h, na sede do comitê, na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), e depois percorrerão os canais.

Da verba de R$ 5 milhões do Comitê, R$ 1 milhão foi destinado à revitalização dos canais. O especialista explicou a função dos canais: “Os canais funcionando plenamente têm a função dupla de drenar a água da chuva e aduzir no período de seca”, concluiu.

Reservatório em Minas Gerais
A limpeza dos canais em Campos é a ponta de um projeto maior elaborado pelo Comitê do Baixo Paraíba, que encomendou um estudo e já concluiu um projeto de construção de um reservatório para conter água da chuva em Minas Gerais. A obra deve acontecer estrategicamente na região da Bacia do Rio Preto e Paraibuna ou na Bacia dos rios Pomba e Muriaé, ambos em Minas Gerais. A previsão de início das obras é em 2022. João Gomes de Siqueira explica que o reservatório vai beneficiar diretamente as regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio, onde estão situados os rios Pomba e Muriaé que deságuam no Paraíba do Sul.

“Nossa bacia hidrográfica está diretamente ligada às bacias de Minas Gerais. É por isso que, quando chove muito em Minas, nossa região sofre com enchente. Quase toda água de lá desce para o Paraíba provocando estragos. O reservatório tem o objetivo de contribuir para o amortecimento da cheia e, no período de seca, com a abertura da barragem, garantir o abastecimento”, explicou.

Segundo João, cidades como Itaperuna, Porciúncula, Natividade, Santo Antônio de Pádua, Cambuci, Itaocara, Campos e São João da Barra serão impactadas pela obra.

“Isto, resolve, por exemplo, de uma vez por todas, a questão da Foz do Paraíba do Sul, em São João da Barra, que sofre com a intrusão salina e baixa qualidade de água porque, quanto menor a vazão do rio, maior é a concentração de esgoto e, consequentemente, aumentam as necessidades de tratamento desta água. Em São João da Barra, a vazão ficaria maior”, explica.

Beneficiamento da lavoura e da economia
Uma parceria da Prefeitura de Campos com o Governo do Estado do Rio de Janeiro está garantindo a dragagem dos canais nos trechos que ficam na área urbana da cidade com o objetivo também de beneficiar as lavouras de cana-de-açúcar e de outras produções rurais de quase 200 produtores. O trabalho pretende garantir irrigação das lavouras e vai resultar no aumento da produção, qualidade dos produtos e na movimentação da economia e do agronegócio. Os trechos que passam por intervenções são: Canal Coqueiros (6,3 quilômetros no trecho urbano); Canal Cacomanga (4,3 km); Canal São Bento (1,3 km) e Canal do Saco (4,1 Km).

Crise hídrica
O Brasil passa por uma das piores crises hídricas de sua história. Segundo João Gomes de Siqueira, a crise nacional está afetando diretamente o Rio Paraná que, indiretamente, afeta quase todo o país, inclusive Campos. Segundo ele, com o fechamento dos reservatórios espalhados pelo país por causa da falta de chuvas, a água não chega com vazão em muitos estados.

“Nossa região está sofrendo sim com esta crise nacional, mas não tanto quanto sofreu em 2014 e 2015, mas semelhante. As notícias nacionais acenderam a luz amarela por aqui, que representa sinal de alerta”, falou.
Entre as medidas adotadas para contenção da crise no Brasil está a redução da vazão dos rios, o que também acontece na capital fluminense. João explica como esta redução contribui para soluções: “Serve para reduzir os gastos excessivos de água e permitir um volume mínimo nos reservatórios para não acabar com toda reserva. Mas esta redução de vazão não pode ser menor que 9% senão o Brasil entra em colapso, como aconteceu em 2015”, concluiu.