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Pesquisador da Uenf avalia extrema pobreza em Campos e efeitos da crise econômica

O cientista político Ricardo Nóbrega considera que o governo precisa ampliar políticas de assistência e benefícios como o Bolsa Família

Entrevista
Por Ocinei Trindade
18 de setembro de 2021 - 14h09
Cientista político e doutor em Sociologia é pesquisador e professor da Uenf (Reprodução)

Durante toda a semana, o Jornal Terceira Via destacou a reportagem “Quase 190 mil campistas em busca de algum auxílio federal” (clique aqui) que menciona alguns inscritos no Cadastro Único. Diversos especialistas do serviço social, economia e ciência social analisaram a situação de Campos dos Goytacazes que possui 49 mil famílias em extrema pobreza. O assunto foi discutido também no programa televisivo Especial Terceira Via (clique aqui). O cientista político e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Ricardo Nóbrega, encerra a série sobre o tema com esta entrevista.

Como avalia esse números da extrema pobreza que cresceu em Campos em menos de um ano, segundo dados do Ministério da Cidadania pelo Cadastro Único?

Apesar de a pandemia ser apontada como a grande vilã, a realidade é que já estávamos numa séria crise econômica quando os primeiros casos surgiram. É necessário também destacar que essa crise não atinge a todos da mesma forma: houve um aumento da concentração da renda que gerou novos bilionários, a despeito da situação de crise e da pandemia. Os trabalhadores e os pequenos empresários foram os mais atingidos por essa crise e não foram beneficiados por políticas para a redução de seus efeitos.

Moradora de Campos é inscrita no Cadastro Único e busca por auxílio no Cras do Jardim Carioca (Foto: Silvana Rus)

Quais os principais problemas nesse aspecto em termos locais e nacionais?

Nesse período houve o aprofundamento de medidas de austeridade econômica regressivas e antipopulares, que trouxeram o aprofundamento da crise econômica, do desemprego e, consequentemente, do aumento da pobreza e da miséria. Não bastasse a reforma trabalhista de 2017, que deveria gerar novos empregos e não surtiu esse efeito, apenas tornando o trabalhador mais vulnerável, o governo ainda propõe a MP 1045, que retira ainda mais direitos. O mesmo pode ser dito da reforma da Previdência, que diminuiu a proteção social do trabalhador. A redução do número de beneficiários do Bolsa Família e dos valores do Auxílio Emergencial são outros exemplos de medidas que atacam a proteção social e pioram a situação do trabalhador.

Como reverter esse quadro?

Sem políticas públicas que reduzam a concentração econômica e que tragam amparo ao trabalhador desempregado, vai ser difícil reverter esse quadro no curto ou até mesmo no médio prazo.