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Jovem e com bagagem na política

Aos 41 anos, Rogério Matoso disputou quatro eleições para o Legislativo e o Executivo, das quais venceu duas

Entrevista
Por Aloysio Balbi
13 de setembro de 2021 - 0h02

No seu segundo mandato na Câmara de Vereadores, eleito pela primeira vez em 2008, Rogério Matoso abriu mão de reeleições quase certas no Legislativo para se aventurar na disputa para o Executivo. A primeira foi como vice de Arnaldo França Vianna na eleição que tinha como adversária Rosinha Garotinho, que acabou vencendo o pleito. A segunda foi em 2016, quando Rafael Diniz venceu. Rogério Matoso chegou a trabalhar no governo Diniz, mas por pouco tempo.


Preferiu tomar fôlego, voltar ao começo e, aos 41 anos, iniciar o seu segundo mandato na Câmara. Hoje, seu nome consta em uma lista de 12 vereadores que fazem oposição pontual ao prefeito Wladimir, e deixa claro que, no momento, sua posição de antagonista ao prefeito se refere a reajuste de impostos como o Código Tributário. “Mas jamais farei oposição ideológica.”

Matoso também descartou para o ano que vem uma experiência na disputa de uma vaga para a Assembleia Legislativa. Garante estar focado hoje no seu mandato, e que quer interagir com o Legislativo Estadual, acompanhando as agendas dos deputados da região, desde que propositivas. Desta forma, momentaneamente, uma possível candidatura a deputado não faz parte de seus planos.
Entusiasta da Agricultura e da Educação, Rogério Matoso é dono de um carisma reconhecido na política, e de um poder raro para expor suas ideias. Seu temperamento oscila seu discurso: ora conciliador aos extremos e em outras vezes não extremista, mas colocando o dedo na ferida com força, sem necessariamente aumentar a hemorragia.

Você está no seu segundo mandato e, por coincidência de legislatura, durante sua primeira passagem pela Câmara, Rosinha Garotinho estava à frente do Executivo. Agora é a vez do filho Wladimir. Você se mantém na oposição. É apenas uma questão ideológica?
É uma questão de posicionamento, tanto que no segundo turno das eleições eu apoiei o prefeito Wladimir. Só que depois disso eu não concordei com o posicionamento do governo em relação à Câmara e me posicionei contra alguns projetos que vieram pra cá, como, por exemplo, o Código Tributário. Eu acredito que não é aumentando impostos que você vai fazer a gestão funcionar, pelo contrário, aumentar impostos no meio de uma pandemia, em uma cidade que passa por dificuldades econômicas, é aumentar a inadimplência do contribuinte que já se encontra endividado. Eu não poderia ser a favor. Então, diante disso, me posiciono com minhas bandeiras, meus entendimentos, buscando fazer o que as pessoas que me concederam este mandato esperam de mim: ser firme, ter posicionamento e pensar no bem comum. E assim sigo, me mantendo firme nas minhas convicções.

Na primeira eleição que você disputou e ganhou, o plano era você ser vice do então candidato Arnaldo Vianna. A mudança ocorreu por quê?
Na realidade não houve plano, houve um mandato em que eu me dediquei bastante, com ações que repercutem na cidade até hoje, como a luta pela homologação do concurso do Estratégia Saúde da Família, que na época era Saúde da Família, da Atenção Básica. Tive a oportunidade de ser presidente da Câmara no meu primeiro mandato e lutei demais, tendo diversas ações que ficaram marcadas. Aí, em 2012, eu enfrentei as eleições no Executivo, justamente por entender que seria o momento de pontuar aquilo que eu não concordava no primeiro governo Rosinha e que futuramente poderiam ter reflexos nocivos à nossa cidade, como de fato ela é penalizada até hoje por não ter tido, por exemplo, um plano econômico sustentável no momento onde o erário estava abastecido com muitos recursos dos royalties do petróleo. Eu queria, naquela ocasião, fazer o contraponto ao Executivo, que tinha claramente o objetivo de utilizar esses recursos para um plano político pessoal e familiar.

Seu primeiro mandato foi marcado por um bom desempenho na oposição. Então você decide vir candidato a prefeito, mesmo com a reeleição garantida. Foi uma decisão acertada?
Na realidade, no ano em que eu poderia vir à reeleição, em 2012, acabei vindo candidato a vice-prefeito. Realmente eu tinha feito um bom mandato como vereador e poderia tentar a reeleição, mas quis fazer o contraponto ao Executivo, como expliquei anteriormente. E aí, em 2016, fui candidato a prefeito, eleição em que fui adversário de Rafael Diniz e a população o elegeu. Tive também como adversários Chicão, Nildo Cardoso, Pudim e Caio Viana. Eu fui lá, elaborei meu plano de governo, entrei no debate e para mim foi muito importante para conhecer mais a cidade, para entender melhor a discussão no âmbito do Executivo e mostrar que tenho disposição para enfrentar esses desafios. Para mim foi uma decisão acertada, sim, em termos de crescimento como pessoa e de entendimento. Às vezes é importante a gente se sacrificar para adquirir um pouco mais de experiência.

Você é bastante novo. Ainda nutre o sonho de ser prefeito de Campos?
Eu estou focado hoje no meu mandato, nesse retorno, justamente porque desde 2012 eu não tinha um mandato eletivo. Em 2008 as pessoas me deram a oportunidade de ser vereador e agora em 2020 de novo. Nesse meio tempo eu participei de duas eleições no Executivo, então eu fiquei um longo tempo afastado de um mandato eleitoral, mas participando ativamente da política e da vida da nossa cidade. Hoje meu maior foco, meu maior sonho é fazer um bom mandato com essa experiência que adquiri, apesar de novo, ao longo das minhas lutas e batalhas.

Nas eleições em que Rafael Diniz ganhou no primeiro turno, você se aliou a ele no curso da administração, mas depois deixou o governo. O que houve?
Eu disputei a eleição para prefeito em 2016, Rafael era meu adversário, mas naquele momento a cidade clamava por um novo nome. Dentro das nossas correntes ideológicas, muitas vezes distintas, até porque não precisamos concordar 100% com tudo, nosso maior objetivo era tirar quem estava no poder para que tivéssemos uma oxigenação na prefeitura. As pessoas escolheram Rafael, mas eu estava lá com meu nome à prova. Aí no segundo ano de governo, ele me convidou para fazer parte da administração e posso garantir que lutei demais, desenvolvendo projetos viáveis dentro do governo municipal, mas a comunicação com Rafael era muito difícil. Eu fui superintendente de Trabalho e Renda, era do segundo escalão, não tinha muita autonomia, mas produzi muito, e foi o reflexo desse trabalho que nos conduziu ao retorno à Câmara. Mas eu não tinha muito contato com ele, tanto que no final do governo eu fui obrigado a fazer uma crítica e levar ao gabinete um bolo com uma vela para comemorar um ano que ele não me atendia, mesmo sendo do staff dele. E por isso que nesta eleição de 2020, em que Rafael concorreu a prefeito, eu apoiei Bruno Calil no primeiro turno, e Wladimir no segundo.

Essa legislatura está sendo marcada pela união da oposição, que forçou o Executivo a retirar da pauta projetos como o do Código Tributário. Você acha que esse bloco veio para ficar unido sempre?
Hoje nós temos convergência de opinião quanto ao Código Tributário e também em relação aos caminhos políticos que o gestor tem seguido. Pegamos nossos pontos de convergências e nos unimos. Ainda está muito cedo pra gente avaliar, mas vejo dentro desse grupo de vereadores pessoas com muita firmeza no que falam, no que pensam e nas suas bandeiras, e isso pode proporcionar, num futuro próximo, muitas vitórias.

Por que esse bloco ficou apático na votação das contas da ex-prefeita Rosinha Garotinho? Como você votará sobre essa matéria?
Na realidade não teve votação das contas da ex-prefeita. O que houve é que a Câmara cancelou a votação da legislatura que analisou essas contas lá atrás para serem votadas de novo agora. Só que a pauta chegou pra gente 10 minutos antes da sessão, eu pedi para retirar e votei contra o regime de urgência desse projeto, justamente porque é bem complexo de ser analisado. Em relação às contas, não há condição alguma de votar a favor, primeiro porque o Tribunal de Contas deu um parecer desfavorável, segundo que é uma coisa atípica votar agora em 2021 as contas da gestão de 2015, e terceiro por conta do resultado político-administrativo da gestão dela, que pune a cidade até hoje, com integrantes da linha de frente do seu staff respondendo a processos e acusações, e até tendo sido presos. Inclusive nós vivemos algo inédito, temos dois ex-prefeitos do município que foram presos por questões administrativas. Então não tem a menor condição de votar a favor desta matéria.

Depois do Código Tributário, o bloco agora está às voltas com a cobrança retroativa do IPTU. Como você vê essa questão?
É uma questão também inédita porque estão retroagindo a cobrança de IPTU, afetando muitos cidadãos que sempre pagaram em dia seus impostos, cobrando uma multa de até 70%. Acho que é muita covardia e falta de bom senso fazer essa cobrança no meio de uma pandemia, com a cidade passando por dificuldades econômicas, uma população que ficou reclusa por mais de um ano, e agora cobrarem retroativo e dar apenas 30 dias de prazo para o cidadão recorrer na Secretaria de Fazenda, um órgão que já não tem capacidade alguma de atender às demandas diárias dos cidadãos. E aí entram as multas, ameaçando o cidadão a ser negativado e até perder o seu próprio bem, num momento já tão difícil como esse. O governo está buscando uma solução muito radical, com o objetivo de fortalecer as contas públicas, sendo que o município já está recebendo 85% a mais de participação especial de royalties do petróleo, em relação ao ano passado, e está contando com investimentos do governo do Estado na ordem de mais de R$ 100 milhões, com promessa de aumentar mais R$ 300 milhões. Não tem como a gente ver isso com bons olhos. Por isso estamos nos unindo na Câmara para entrar na Justiça contra essa medida do Executivo, para que nossa população não seja punida.


As eleições do ano que vem já começam a mexer no tabuleiro político. Você pensa na Alerj? Algum vereador deve sair candidato?
Não posso responder em nome de outros vereadores, mas como falei anteriormente, meu foco é fazer um bom mandato. Meu objetivo na Alerj é fazer ponte neste sentido, junto com deputados da região, buscando a paz e a união em prol do desenvolvimento do nosso município. Hoje temos um secretário estadual que é campista, o Rodrigo Bacellar, à frente da Secretaria de Governo, pasta de maior articulação no Governo do Estado, e que está viabilizando muitos investimentos estaduais para o nosso município. É importante enaltecer de maneira séria esses parceiros que ajudam nosso município, pois muitas vezes vemos o Executivo apresentando projetos e inaugurações com verba estadual, e conjugando muito o verbo eu, quando, na verdade, deveria conjugar o verbo nós.

Voltando à questão da oposição ao prefeito. Você vê possibilidade de apaziguar esse clima, estreitar o diálogo com o prefeito Wladimir?
Eu vejo meus posicionamentos de maneira firme, nunca buscando desentendimentos pessoais. Muito pelo contrário, eu tento, como uma bússola, reverberar as insatisfações que vêm das ruas e tentar dar efetividade ao meu mandato. Diante disso, as nossas relações, além de institucionais, são no sentido de trazer paz, equilíbrio, união e desenvolvimento para a nossa cidade.

Rogério Matoso assumiu Secretaria na gestão Rafael Diniz (Foto: Supcom)

Como você avalia seu mandato até agora e quais os planos para os próximos meses na Casa de Leis?
Tem sido um mandato de muita luta, mas já obtivemos algumas conquistas. Junto de outros vereadores, conseguimos derrubar o Código Tributário que iria punir e aumentar impostos da população. Já aprovamos algumas leis, como a que proíbe a taxa de desligamento e religação de água e esgoto. Estamos lutando também pela instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Águas do Paraíba, que já foi protocolada, contando com a assinatura de 21 vereadores, a fim de investigar possíveis excessos e descumprimentos contratuais dessa empresa. Outra conquista importante para a saúde do município, graças à articulação com o deputado federal Altineu Côrtes, é a verba no valor de R$ 1,9 milhão via emenda do parlamentar destinada para fortalecer o nosso Hospital Ferreira Machado e o programa Estratégia Saúde da Família. Estamos também conseguindo empreender nas discussões e projetos a desburocratização dos serviços públicos, com a consciência de que esse movimento retrógrado instaurado impede o desenvolvimento da cidade. Apesar de termos um plano legislativo muito restrito à esfera municipal, com ações de fiscalização, organização, influência e direcionamento dos atores políticos em busca de desenvolvimento, seguimos firmes, com nossa luta e nossos debates.