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Paulo Hirano de volta à Saúde de Campos

Retornando à pasta, gastroenterologista fala sobre seus planos, gestão da Saúde, pandemia e reforma do HGG

Entrevista
Por Redação
6 de setembro de 2021 - 0h01

Médico gastroenterologista e ex-vereador, Paulo Roberto Hirano é, pela terceira vez, secretário municipal de Saúde de Campos. Retornou à pasta pelas mãos do prefeito Wladimir Garotinho (PSD), após ocupá-la nos dois mandatos da ex-prefeita Rosinha (PROS), mãe do atual mandatário. Primeiro, ocupou o cargo de subsecretário. No último dia 27, porém, substituiu Adelsir Barreto à frente do órgão. Com isso, reassumiu um dos setores mais complexos da administração pública, que gerencia um grande orçamento e interfere diretamente na imagem política da gestão, em um momento em que cresce a preocupação com a circulação no Município da variante Delta da Covid-19, mais contagiosa. “A Saúde é de um gigantismo sem comparação, de uma complexidade imensa e de dinâmica própria, acelerada, que exige novas respostas a todo tempo”, avalia Hirano.

Nesta conversa com o Jornal Terceira Via, o secretário fala sobre os desafios impostos pela nova cepa, o estado da imunização contra o Coronavírus em Campos, a vacinação de adolescentes, a aplicação da terceira dose em idosos e a reforma do Hospital Geral de Guarus. “Vamos iniciar essa obra em breve, talvez em um mês, um mês e meio. E até abril vamos estar entregando o primeiro bloco”, projeta.

O senhor assume a Secretaria de Saúde de Campos dos Goytacazes pela terceira vez, já que ocupara a pasta nas duas gestões seguidas da então prefeita Rosinha Garotinho. Quais são seus planos agora para a área de Saúde de Campos?
Queremos e vamos prestar o melhor tipo de assistência com resolutividade para a nossa população. Por tanto, estamos reestruturando toda nossa rede, não só de atenção básica, como a rede de atenção secundária e, obviamente, a terciária. Essa última é bem fortalecida em nossa cidade, mas vamos fazer alguns ajustes e vamos avançar de forma muito significativa na implantação do projeto da rede de urgência na qual engloba não só nossos grandes hospitais como a rede contratualizada. Vamos criar dois fluxos muito importantes, que é do atendimento imediato do infarto agudo do miocárdio e também do Acidente Vascular Cerebral, o derrame. Isso é muito importante porque o tempo de atendimento desses pacientes está ligado diretamente ao resultado, ou seja, pacientes prontamente atendidos têm melhores resultados em sua recuperação.

O senhor vai tocar o projeto de profissionalização da Saúde do município?
Esse projeto engloba a gestão toda do município. Há uma determinação geral de que todos os departamentos deverão se adequar na profissionalização, na eficácia de suas ações, resolutividade e na produtividade, ou seja, profissionalização de Saúde de todos os seguimentos para que a gente possa identificar quais são os atores importantes que têm qualificação para aquela função específica, que certamente irão produzir uma melhor assistência aos munícipes. Então, sim. O projeto de profissionalização está englobado em todas as áreas do município.

O que a população pode esperar da gestão do senhor no que se refere ao Ferreira Machado, hospital São José e UPH de Travessão?
O que a população pode esperar é que faremos todos os esforços possíveis e impossíveis para que a gente possa melhorar o atendimento e isso já está evidente na questão da gestão dos hospitais, principalmente no que diz respeito àqueles corredores como os do Ferreira Machado e do HGG. A mesma atenção será dada ao Hospital São José e Travessão. A população pode esperar um atendimento de qualidade e resolutividade.

O hospital de Guarus. Existe realmente prazo, se todos os acordos forem cumpridos, para sua reforma?
O Hospital Geral de Guarus é uma prioridade de nossa gestão e do governo Wladimir Garotinho e Frederico Paes, porque ele é muito importante na assistência à população. Foi montado um grupo de trabalho para estudar a obra no HGG e a garantia do atendimento à população. E tivemos que decidir por fazer a obra mantendo o HGG funcionando. Não é fácil, é muito difícil, e vamos ter que pedir muita paciência à população, mas é para garantir a assistência. É como uma obra que a gente faz em casa: vai reformar a cozinha, e tem toda aquela dificuldade de continuar usando o resto das alas, quartos, sala, banheiros. Imagine em um hospital, mas o projeto prevê todos os cuidados para lidar com esse desafio, a gente está com tudo organizado, preparado para iniciar. Vamos iniciar essa obra em breve, talvez em um mês, um mês e meio. E até abril vamos estar entregando o primeiro bloco.

Neste momento de pandemia, em que ainda existem mais perguntas do que respostas, o senhor diria que é o maior dos desafios?
A Saúde é de um gigantismo sem comparação, de uma complexidade imensa e de dinâmica própria, acelerada, que exige novas respostas a todo tempo. Na administração pública, quando se trata da Saúde, a cada dia temos um desafio maior do que o do dia anterior. Estamos vivendo um momento grave de crise sanitária mundial com a Covid. Em Campos, quando o prefeito Wladimir Garotinho e o vice prefeito Frederico Paes assumiram, acharam um quadro caótico, com salários em atraso de servidores públicos, incluindo médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares, sem pagar desde dezembro. O nosso governo pagou os salários que a gestão passada deixou em atraso, reabrimos UBSs que foram fechadas no governo anterior e iniciamos a reestruturação da Saúde, conseguindo avanços como a parceria para a recuperação do Hospital Geral de Guarus. Zeramos as filas nos corredores do Hospital Ferreira Machado. Avançamos e temos muito ainda que conquistar com trabalho duro, diálogo e parcerias.

A vacinação dos adolescentes já está em curso. Qual é a previsão para concluí-la?
A complexidade da vacinação contra a Covid reside no fato de Campos não ter um mínimo de previsibilidade das doses que são enviadas pelo governo federal ao Estado, e por este repassadas à Prefeitura. Na quinta, dia 2, recebemos 3.720 doses da Pfizer e 2.460 doses da AstraZeneca. Nós fechamos o grupo dos 16 anos com essa faixa etária imunizada, com uma excelente procura dos jovens, que vibraram com essa conquista que é mesmo histórica. Mas, tivemos que suspender a vacinação dos adolescentes, porque o volume de doses repassadas pelo Estado foi inferior ao esperado. O Ministério da Saúde preconiza que os jovens podem ser imunizados apenas com a Pfizer. Com as doses que recebemos no dia 2, retomamos na sexta-feira a vacinação para adolescentes para os 15 anos.

Existe um grande debate sobre a terceira dose para a população idosa, em um primeiro momento. Nesta sexta-feira, a Prefeitura anunciou o início da aplicação do reforço para a segunda quinzena de setembro. Como isso está sendo estruturado?
Campos é pioneira na estratégia de enfrentamento da Covid. O prefeito Wladimir instalou em primeiro de janeiro o Gabinete de Crise de Combate à Covid, fomos uma das primeiras cidades a fazer vigilância genômica com UFRJ, adotamos um protocolo, o “Regras da Vida”, sempre orientado pela Ciência, mas em diálogo com a sociedade civil. No dia 25 de agosto o Ministério da Saúde inseriu no Plano Nacional de Vacinação a perspectiva da aplicação da terceira dose. E já concluímos o nosso planejamento, com a Secretaria de Saúde iniciando a aplicação da terceira dose da vacina contra a Covid-19 a partir da segunda quinzena de setembro. Vamos priorizar os idosos com convocação por faixa etária e os residentes em instituições de longa permanência e os acamados. Pessoas imunossuprimidas de grau grave, que tenham recebido as duas doses da vacina, também serão beneficiadas.

Em termos de leitos de UTIs para pacientes de COVID, qual é nossa situação no momento?
No presente momento temos ocupação de 70% dos leitos, com 30% de disponibilidade, mas esse é o retrato do momento.

Assim que assumiu, o prefeito Wladimir, em suas redes sociais, disse que as pessoas deveriam sossegar um pouco o facho, em uma referência ao respeito aos protocolos contra Covid. O senhor acha que a população agora está colaborando ou isso varia de faixa etária?
Acho que a pandemia mudou a vida das pessoas e elas não estavam preparadas para esse desafio global. Acho que todos devem se conscientizar de seu papel nessa guerra contra a Covid. As duas grandes medidas que temos continuam sendo a vacinação, com sua eficácia em proteção às pessoas, mas sobretudo o distanciamento interpessoal, com uso de máscaras, de higienização das mãos. Isso, todas as pessoas podem e devem fazer. As curvas caem, mas registram flutuação, e essa flutuação se dá em função da transmissibilidade que acontece com o contato pessoal.

Quando a Secretaria de Saúde decidiu, no início do ano, fechar tudo, e o quadro era bem pior, o senhor foi intransigente nesta decisão de lutar pelo fechamento. Se arrepende ou fez o certo?
Eu penso que o município de Campos tem acertado na estratégia de enfrentamento da Covid, ouvindo a sociedade civil, discutindo as medidas de caráter mais restritivo, mas sempre observando o que a Ciência determina. A gente sabe da importância de a economia estar ativa, mas é preciso que todos os protocolos, definidos para cada fase em que o município estiver, sejam respeitados. O vírus não deixou de circular e é preciso evitar que a sua transmissibilidade se dê mais agressivamente.

Obviamente, existe a preocupação com a variante Delta e outras que podem surgir. Mas o senhor diria que o pior já passou?
A aceleração da vacinação pela Prefeitura, a capilaridade da assistência com a reabertura das UBSs, o aumento da triagem e da testagem, a orientação e as medidas restritivas ajudaram a reduzir o número de casos. Mas esse é um retrato, que é dinâmico e pode mudar pela agressividade dessa cepa da Delta. A Delta tem seis vezes mais capacidade de transmissão do que a original, por isso é preciso manter o uso de máscaras, higienizar mãos e o distanciamento social. A gente ainda está em um momento crítico, um momento difícil. E com essa nova variante circulando na cidade, nós poderemos ter que enfrentar um novo pico, um novo aumento de casos e, consequentemente, uma necessidade maior de leitos hospitalares, leitos de terapia intensiva e, inevitavelmente, um número maior de óbitos.

Na sua experiência na área de Saúde coletiva, o senhor acredita que ainda vamos que conviver por mais um bom tempo com protocolos como máscaras de proteção e distanciamento social?
A Ciência está avançando dia a dia na compreensão dessa doença e de tudo que envolve o vírus da Covid-19. Cientistas, pesquisadores, no mundo inteiro, consideram que a doença pode ser tornar endêmica, por exemplo, e de termos que conviver com ela como estamos hoje habituados, com inclusão da vacina no calendário convencional, mas ainda é cedo para qualquer afirmativa conclusiva nessa direção. Contudo, enquanto o vírus estiver circulante e com essa letalidade toda, a população, todos nós, temos que fazer a nossa parte, com uso das máscaras, com medidas protetivas.

Dizem que a pior sequela desta pandemia será na área da Educação. O senhor está atento a isso? Tem alguma reunião agendada com o secretário de Educação para tratar do ano letivo de 2022?
A Covid está sendo estudada em todo o mundo por seu violento impacto na saúde das pessoas, no comprometimento da economia, nas relações interpessoais, e também na Educação. Há um impacto muito intenso nessa área, com um preço alto a ser pago. Pesquisa com mais de 168 mil escolas em todo o Brasil, feita em julho pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostra que 99,3% das escolas brasileiras suspenderam as atividades presenciais. O percentual de escolas brasileiras que não retornaram às atividades presenciais no ano letivo de 2020 foi de 90,1%, sendo que, na rede federal, esse percentual foi de 98,4%, seguido pelas escolas municipais (97,5%), estaduais (85,9%) e privadas (70,9%). Estamos em contato com o Secretário de Educação, nosso colega Marcelo Feres, para trabalharmos de forma conjunta a questão das aulas em Campos. É preciso manter o planejamento e o respeito aos protocolos para a retomada gradativa e híbrida, seguindo protocolos sanitários, como Campos tem feito.

Por fim, a Secretaria de Saúde sempre foi uma área que elegeu vereadores, entre eles o senhor, deputados e até prefeitos. O senhor, por várias vezes, já teve seu nome cogitado para prefeito de Campos. Pensa nisso?
No momento só pensamos em reconstruir a Saúde do nosso município, e avançarmos para prestarmos a melhor assistência com resolutividade para a nossa população.