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Parque Estadual Lagoa do Açu que poucos campistas conhecem

Área de 8.251 hectares entre os municípios de Campos e São João da Barra abriga espécies raras de animais e vegetais

Geral
Por Ocinei Trindade
29 de agosto de 2021 - 0h01
Foto: Paulo de Carvalho

Se perguntarem à população de Campos dos Goytacazes sobre o Parque Estadual Lagoa do Açu, provavelmente, muita gente ainda desconheça a respeito de sua existência. A unidade de conservação na região da praia do Farol de São Thomé foi criada em 2012. A área de 8.251 hectares protege os remanescentes de Mata Atlântica: restinga, mangue e área alagada. A região envolve o Banhado da Boa Vista, a Lagoa do Açu e a Lagoa Salgada. Pelo litoral, são 13  quilômetros de extensão. O município de São João da Barra possui cerca de um por cento apenas da área. O parque é bem mais campista.
Um dos lugares mais bonitos de Campos oferece várias opções de lazer e turismo. A observação de aves é só algumas das atrações. Por ser aberto e próximo de alguns trechos urbanos como o Xexé e a Vila dos Pescadores, fazer caminhadas é fácil e acessível. Na área esportiva, devido às suas lagoas e banhados, adeptos do caiaque e stand up paddle têm oportunidade para a prática. O ciclismo, o surfe e a fotografia da natureza são incentivados pelos gestores do Parque Estadual.

Apesar do incentivo a diferentes modalidades turísticas, é preciso que os visitantes estejam conscientes sobre a necessidade de preservação. Os gestores e guardas do parque orientam sobre o recolhimento do próprio lixo; evitar o tráfego de veículos nas faixas de areia; evitar passear com animais domésticos e não retirar ou alterar a posição das estacas que marcam os ninhos de tartarugas marinhas na praia.
O gestor Heron Costa, do Instituto Estadual do Ambiente, é responsável pela administração do Parque Estadual Lagoa do Açu há quase dez anos. Ele diz que não é incomum as pessoas desconhecerem sobre a unidade de conservação em Campos, inclusive  moradores próximos.  
“Foi um grande desafio chegar numa região pouco conhecida no Estado do Rio de Janeiro, com o poder público distante. Temos limitações ao apresentar à população sobre a legislação que impõe regras para o funcionamento e permanência nas áreas do parque. Sempre conversamos e notificamos a população. Tivemos muitas dificuldades com pescadores. Temos cadastro de 804 pescadores que atuariam na pesca de subsistência e complementação de renda. Porém, pretendemos reduzir em 50%, pois nem todos vivem da pesca. Por ser área de proteção, nada deve ser extraído do lugar que cause desequilíbrio”, diz Heron.

Desafios
Quando foi decretada a criação do Parque Estadual Lagoa do Açu, muitas construções próximas à vegetação nativa já existiam, como residências no Xexé. Este trecho é encarado como uma espécie de “ilha” na região. A delimitação está garantida, de acordo com o decreto que reconhece a unidade de conservação. São 40 residências, elementos arquitetônicos e empreendimentos que podem ser mantidos. Porém, está proibida qualquer obra ou ampliação desses imóveis. “Conflitos existem por não poderem fazer obras. Se constatadas depois da criação do parque, elas deverão ser demolidas”, diz Heron.
O despejo de lixo e entulho é frequente em diversos trechos do parque. Apenas seis guardas se revezam na fiscalização. O Inea não tem equipamentos para fazer a remoção, que é responsabilidade da Prefeitura. “Unidade conservação é resultado de parceria com os municípios. Ela gera “ICMS verde”, verba destinada à prefeitura. A remoção de animais é de responsabilidade do CCZ. Muitas placas são depredadas por visitantes. Temos um gasto grande para reposição. O apoio policial nem sempre é possível. Queremos promover visitação de forma ordenada”, explica o gestor.

Encantamento
O garçom Jefferson Azevedo é morador do distrito de Tocos, na Baixada Campista. Apesar de frequentar há anos a praia do Farol de São Thomé, desconhecia a existência de lagoas e trilhas que fazem parte do Parque Estadual. “Estive ali apenas uma vez, pois é preciso ter veículo para chegar a alguns pontos. Fui surpreendido com a existência de tantas lagoas e vegetação. É muito bonito o lugar. Vale a pena conhecer este pedaço do paraíso em Campos”, conclui.
Jocimário Barreto trabalha como recepcionista em um hotel de Farol de São Thomé. Ele diz que no início da criação do parque havia procura por pessoas interessadas em conhecer o lugar. “Nos últimos anos não temos recebido esse tipo de hóspedes. Quando o parque foi criado, houve muita procura por estudantes e pesquisadores de universidades. É um lugar muito bonito”, cita.
Para o presidente da Associação dos Empreendedores do Farol (Assenfrol), José Carlos Pacheco, é preciso maior apoio do poder público para o turismo na região. “Os hotéis de Farol estão com baixa ocupação por causa da mudança dos voos da Petrobras. Apesar da pandemia, o Parque Estadual Lagoa do Açu oferece muitas opções de turismo a serem exploradas. Tenho uma estrutura próxima ao parque, no Xexé, que pode receber visitantes. Muita gente desconhece esse lugar que tem tudo para agradar”, defende.
A guia de turismo Fernanda Santos já esteve várias vezes no Parque Estadual. “Já levei vários grupos ao local. Ali é possível ver o trabalho de recuperação e preservação da fauna e flora. Na Lagoa do Açu podemos realizar práticas esportivas como stand up. É um ótimo local para levar a família e ter noção sobre educação ambiental e ecoturismo. Temos muitos locais em Campos para turismo, mas muita gente não conhece”, afirma.

Nascer do sol na Lagoa do Açu

Lagoa Salgada
Entre os tesouros do parque está a Lagoa Salgada, considerada a única na América do Sul que possui estromatólitos carbonáticos, que datam do período pré-cambriano (denominação da maior divisão no tempo geológico da Terra) apresentando colônias de bactérias fossilizadas e formações calcárias. Fica no distrito de Cazumbá, no trecho que pertence a São João da Barra. A importância geológica e paleontológica faz do lugar um atrativo histórico e diferencial.
O local já foi visitado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Escola Nacional de Saúde, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Amostras de material orgânico foram retiradas para comparar com o genoma de diversas espécies de microorganismos do mundo inteiro. “A pesquisa científica também é incentivada pela gestão do parque. Desfrutar e cuidar de tanta beleza é dever de todos que visitam a atração”, conclui Heron Costa.