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Getúlio fundou a Petrobras, criou os Correio, a Vale, instituiu o Salário Mínimo e regulamentou a Medicina

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
24 de agosto de 2021 - 11h45

Nesta terça-feira, 24, assinala o 67º aniversário da morte de Getúlio Vargas, data em que alçou seu nome como o maior estadista brasileiro e – como adiantara na ‘Carta testamento’ – deixava a vida para entrar na história: “Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”. Assim se cumpriu.  

Portanto, não é propriamente exagero considerar o 24 de agosto de 1954 como a data de maior carga emocional da história política brasileira – a mais ruidosa e dramática – como, também, a mais importante.  

Afinal, não se trata de um movimento ou campanha. Estamos a falar de um dia – um episódio isolado – em que o presidente da República, em gesto único, muda todo um panorama que se lhe afigurava irreversível, transforma seus desafetos em ‘inimigos do povo’ e assegura a sobrevivência de seu grupo político. O tiro que desfere contra peito atinge a todos os que lhe faziam oposição. Estava garantido seu legado. 

No fim, atitude extrema para a vitória final 

Aos 72 anos, duas décadas como presidente, Vargas enfrentava feroz oposição. Sabia que já não tinha o controle de tudo o que se passava no Palácio Catete, então sede da Presidência da República. O apurado faro era o de sempre. Mas ‘o velho lobo de grandes batalhas’ não reunia energia e saúde suficientes para mergulhar nas profundezas do Catete e desvendar as mazelas de subordinados – muitas vindas do círculo mais próximo – colocadas em prática sem o seu conhecimento e tampouco autorização.  

A mais grave delas, a ordem para assassinar o político e jornalista Carlos Lacerda, dono da Tribuna da Imprensa e seu principal adversário. No que ficou conhecido como o atentado da rua Tonelero, Lacerda saiu praticamente ileso, mas o major da Aeronáutica Rubens Vaz, que o acompanhava, levou um tiro fatal. 

As circunstâncias apontavam para o Catete; as evidências também. Preso o pistoleiro Alcino do Nascimento, as investigações chegaram a Gregório Fortunato, chefe da Guarda de Vargas e seu homem de confiança desde os anos 30. 

Agira por conta própria. Talvez – o que nunca foi esclarecido – com o conhecimento de Benjamim Vargas, irmão de Getúlio. Mas, fosse como fosse, não havia como dissociar a figura de Gregório do presidente.  

“Mar de lama” – Em meio a acusações de corrupção, foram descobertos documentos que provavam ser Gregório dono de grande fortuna. Getúlio ficara chocado com as revelações. O ‘mar de lama’ que a oposição dizia correr sob o Catete se confirmava. 

Como presidente americano Roosevelt

Os dias seguintes foram de intensa agitação. A Aeronáutica queria a sua deposição. O presidente resistia. Veio o ‘Manifesto dos Generais’ para que renunciasse. Mas ele insistia: daqui só saio preso ou morto.  

Na madrugada de 24, depois de seguidas reuniões com ministros, Getúlio sinalizou apresentar pedido de licença – uma saída honrosa. Mas os generais, brigadeiros e almirantes exigiam a renúncia. Uma intimação para que Benjamim fosse depor no Galeão, onde corria o inquérito do assassinato do major Vaz, foi a gota d’água. A decisão estava tomada.  

O líder que chegou à Presidência pela revolução, governou 15 anos ininterruptos e depois voltou, para mais 4, pelos braços do povo, tinha plena convicção de que, preso, agitaria as massas; morto, inflamaria o País. Nas duas hipóteses, viraria o jogo e derrotaria os desafetos.  

Escolheu a mais trágica. Com um tiro no peito garantiu o futuro político de seus aliados, fez de sua figura um mito e de seu nome uma bandeira.  

Discursando para o povo no 1º de Maio

Brasil parou – Sua morte teve enorme impacto popular. Manifestações de revolta eclodiram Brasil afora e o povo foi às ruas em prantos. A comoção tomou conta do País. Na manhã de 25 de agosto seu corpo foi levado do Catete ao Santos Dumont, em cortejo que registrou a maior multidão da história do Rio Janeiro. O enterro foi na sua cidade natal, São Borja, RS. 

Uma trajetória como a de nenhum outro  

A inconfundível escalada de Vargas faz dele o protagonista de toda história da República do Brasil. Deputado estadual, deputado federal, govenador do Rio Grande do Sul, ministro da Fazenda e líder da revolução de 1930.  

Depois, presidente da República nos períodos revolucionário e constitucional (1930-37) e ditador, quando instaurou o Estado Novo e seguiu no comando do País até 1945.  

Deposto, Getúlio realiza outro feito: candidata-se aos cargos de senador pelos estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo e a deputado federal por sete outros e se elege para todos. Escolhe a cadeira de senador do Rio Grande. Em 1950, retorna para ‘fechar’ o ciclo de uma Era. Pelo voto direto – “nos braços do povo”, como se dizia então – é eleito presidente da República e volta ao Palácio do Catete para fechar um ciclo de 19 anos no comando do Brasil.  

Ainda que percorramos os personagens do Brasil Colônia e Brasil Império, nenhum outro governante, homem público ou político de qualquer esfera terá tido a importância, a influência e a popularidade que Getúlio construiu ao longo de meio século dedicado ao Brasil. Sobre nenhuma outra figura publicaram tantas matérias, escreveu-se tantos livros ou se produziu tantos filmes.  

Cabe o registro que durante na Era Vargas, em grande parte marcada por período autoritário, a noção de República – assim como o interesse do povo e o bem comum – estiveram tanto presentes, como vivos e defendidos.  

Político de direita, ditador progressista, mas, curiosamente, com performances de esquerda, Getúlio era Getúlio – como só ele sabia ser. O maior brasileiro de todos os tempos.  

Em visita à Petrobras

Comparando com os políticos de hoje  

Vargas implantou ações em favor dos trabalhadores e dos mais carentes em escala nunca vista no País, sendo que a economia experimentou avanços sem precedentes. Criou os Correios, a Vale do Rio Doce e o Instituto do Açúcar e do Álcool. Fundou a Petrobras. Construiu o Aeroporto Santos Dumont e abriu um sem número de hospitais e colégios, além de fortíssimo programa de habitação.  

Criou o Salário Mínimo e estabeleceu a jornada de 8 horas diárias. Instituiu a Justiça do Trabalho e a CLT. Regulamentou o exercício da Medicina, Odontologia e Enfermagem, entre tantas outras realizações.