Alguns dizem que o Brasil não conhece o Brasil. Um país de dimensões continentais tem muito a ser (re)descoberto. Em Campos dos Goytacazes, maior município em extensão territorial do Rio de Janeiro, com mais de quatro mil quilômetros quadrados, há muito a ser explorado. Boa parte da população ainda não esteve em locais como a região do Imbé, recantos como Lagoa Feia e Lagoa de Cima; nunca entrou em igrejas e prédios históricos; assistiu à Cavalhada de Santo Amaro ou se aventurou em Pedra Lisa. O potencial turístico de Campos é defendido por especialistas, mas ainda faltam incentivos e estrutura.
Desde o início da pandemia de Covid-19 que ainda afeta o planeta inteiro, o setor de viagens tem sido um dos mais prejudicados na economia mundial. Com o avanço da vacinação da população, esse cenário começa a mudar. Enquanto a saúde física ou financeira dos brasileiros se recupera, fazer passeios de curta distância é uma opção. Explorar locais ao ar-livre, desde que respeitando medidas de segurança e distanciamento físico, é um modo saudável para cuidar do corpo e da mente. Contato com a Natureza é fundamental. Isto Campos dos Goytacazes tem bastante.
Formada pela Faculdade de Comunicação e Turismo Helio Alonso, a turismóloga Sandra Rabelo já atuou em vários segmentos na área. Ex-docente em curso de Turismo e Hotelaria, ela afirma que Campos tem um grande potencial turístico. “A praia do Farol de São Thomé interessa ao surf e kitesurf. Possui alambiques e o próprio farol, projetado pelo engenheiro francês Gustavo Eiffel. Há muita história a ser contada. Muitos campistas não conhecem o Rio Paraíba do Sul. A Lagoa de Cima é um espetáculo. As lagoas Feia e Vigário podem ser revitalizadas. Nossas cachoeiras podem ser muito bem trabalhadas pelo turismo de aventura”, destaca.
O empresário e diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas, Edvar Júnior, diz que gostaria de colocar Campos dos Goytacazes em lugar de destaque no ranking do turismo em todas as suas faces: arquitetônica, histórica, ecológica e religiosa.
“Nós temos potencial em todas essas áreas. A gente precisa de mais apoio do poder público e fazer com que o turismo não seja um departamento, mas uma secretaria. Tenho certeza que bons projetos irão contar com a parceria da iniciativa privada para desenvolver o turismo que pode ser muito forte, gerar trabalho e renda para o nosso município”, defende.
A subsecretária municipal de Turismo, Cláudia Anomal, admite que há poucos produtos prontos atualmente para serem apresentados no trend do turismo. “Com a pandemia, todo setor de turismo e de eventos foram prejudicados. O turismo vai ser uma mola propulsora para o desenvolvimento econômico da cidade. Temos parcerias. Nossa ideia é criar rotas turísticas diferentes e diversas. Isso alavanca o turismo. Essas rotas vão fazer toda a diferença”, planeja.
Negócios, arquitetura e religião
Enquanto o governo não apresenta o projeto de rotas turísticas, espontaneamente o setor de negócios consegue atrair visitantes. Sandra Rabelo, que atuou em importante hotel local, diz que este foi o maior destaque até a chegada da pandemia. “Recebíamos empresários de vários lugares do mundo, como Indonésia, Tailândia, França, Alemanha, entre outros. Acho que agora a hotelaria está voltando a ter uma boa ocupação com as empresas voltando a operar aqui na nossa região.”
Cláudia Anomal também aposta no turismo de negócios. “Temos o Porto do Açu próximo. Em Campos, há infraestrutura médico-hospitalar e educacional. Nossa parte de hotelaria está sendo muito bem utilizada. Temos ainda um potencial turístico no esporte de grande relevância a explorar”, diz.
A CDL-Campos entregou ao governador Cláudio Castro propostas para incrementar o turismo religioso e histórico na cidade. Edvar Júnior é apaixonado pela Festa de Santo Amaro.
“Eu acredito muito no Caminho de Santo Amaro. É uma das maiores caminhadas católicas em um dia só. A gente vê isso ser bem explorado no Espírito Santo. Aqui em Campos precisa de melhor organização. Temos um potencial histórico e turístico na região de Santo Amaro sensacional. Prédios e igrejas históricos que contam a História do Brasil”, diz o empresário.
Turistas no Morro do Itaoca
A gerente comercial Bianca Dias e o supervisor de segurança Anderson Machado moram em Manaus, capital do Amazonas. Grande parte da família dela é de Campos dos Goytacazes. Sempre que pode, a jovem de 25 anos visita a cidade. Desta vez, trouxe o namorado. Eles decidiram conhecer juntos um dos locais mais badalados de Campos nos últimos tempos, o Morro do Itaoca.
“A ida ao morro era até improvável, não estava na programação, mas a ideia veio dos meus primos que já tinham a experiência dessa longa caminhada para uma vista incrível. Facilmente convencida pelo meu desejo de ter esse contato com a natureza, logo organizamos as garrafas com muita água e roupas leves para encarar essa aventura”, conta Bianca.
Anderson confessa que a longa subida exige fôlego durante todo o percurso, mas garante vistas lindas e pedras gigantescas para admirar. “É de se arrepiar quando chegamos no topo do morro”, diz o amazonense que não conhecia Campos.
Bianca comemorou o passeio. “A vista é incrivelmente linda, um vento gostoso bate no rosto e o coração bate forte por se sentir vivo e ter oportunidade de conhecer o Morro do Itaoca. Vale a pena ter um momento de reflexão sobre a vida nesse lugar. O silêncio e a beleza vista de todos os lados trazem a sensação de paz”, conclui.