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Um governador cada vez mais em evidência

Cláudio Castro se mostra em eventos na capital e nas cidades do interior já de olho nas eleições de 2022

Política
Por Ocinei Trindade
8 de agosto de 2021 - 4h00
Governador Cláudio Castro (PL)

Até bem pouco tempo atrás, o nome de Cláudio Castro era praticamente desconhecido entre a população do Rio de Janeiro. Após o impeachment de Wilson Witzel, o governo estadual passou a contar com sua liderança. Aos 42 anos, sua carreira política é tão jovem quanto ele. Foi eleito vereador pelo PSC em 2016. Dois anos depois, aceitou ser candidato a vice-governador na chapa de Witzel. Em abril deste ano, tomou posse oficialmente como governador. Desde então, Cláudio Castro se mostra cada vez mais em eventos e nas mídias digitais. Sua candidatura à reeleição é tida como certa em 2022. Até lá, ele vai costurando alianças políticas. Cumpre agendas como a recente visita a Campos e região.

No site do governo, Cláudio Castro se apresenta como advogado, músico, compositor e evangelizador. Seu perfil de católico fervoroso ajuda na imagem de conservador. Isso agrada aos eleitores de direita, de centro e de extrema-direita, dizem especialistas. Ele deixou o PSC e se filiou ao PL. Vale lembrar que os desconhecidos Wilson Witzel e Cláudio Castro chegaram ao governo com mais de 4,6 milhões de votos impulsionados pela onda bolsonarista. O presidente Jair Bolsonaro e seus filhos são amigos do governador. Castro exerceu por 12 anos a chefia de gabinete da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Demonstra contar com apoio da família de Anthony Garotinho e de rivais do ex-governador, como o deputado Rodrigo Bacellar, que se tornou secretário estadual de Governo.

“Cláudio Castro é uma figura ainda obscura. Parece ter chance em 2022, apesar da falta de carisma. É visível o apoio que possui dentro da Alerj. Age como uma raposa política da velha tradição mineira, costurando acordos. Prova dessa costura é a de ocupar o centro conservador. Ele faz um jogo de soma. Costura apoio dos conservadores, não se afasta de Bolsonaro, mas também não se envolve em polêmica e não se mete em encrenca bolsonarista. Aparece com sinais de apaziguamento no campo da direita. Chama a atenção a ligação com a Alerj que comporta como sócia do Executivo, herança de Jorge Picciani, e presente em todos os últimos governos estaduais. O Rio de Janeiro é um caso a ser estudado”, observa o cientista político e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Hamilton Garcia.

Na análise do doutor em Sociologia, Ricardo Nóbrega, o governador Cláudio Castro demonstra estar em clara campanha eleitoral, vinculando-se aos valores do bolsonarismo e submetendo-se às diretrizes presidenciais.

“Ao mesmo tempo, exalta uma suposta imagem de gestor eficiente, como na ampla divulgação das ‘antecipações’ de pagamento de salário e da parcela de julho do 13º salário aos servidores públicos. A adesão ao novo Regime de Recuperação Fiscal deu fôlego financeiro ao governo estadual no curto prazo, apesar de seus termos draconianos prenunciarem o aprofundamento do endividamento estadual”, cogita Nóbrega.  

De acordo com o consultor de estratégias, Orlando Thomé Cordeiro, o governador tem procurado se viabilizar na função. “Contra ele pesam a pouca experiência. Por outro lado, tem demonstrado um bom nível de habilidade política para construir relações com prefeitos e partidos políticos com representação na Alerj. Um bom exemplo é a articulação em Campos onde consegue manter a seu lado o prefeito Wladimir Garotinho e o deputado estadual Rodrigo Bacellar. Como Garotinho e Rosinha se encontram impedidos de concorrer nas eleições, essa aliança é bastante importante devido à reconhecida força eleitoral dos Garotinho no interior e na Baixada Fluminense”, analisa.

Futuro eleitoral e polarização
Para Orlando Thomé, o governador deve priorizar a estabilidade no processo de governança. “Isto permitirá, em um momento posterior, realizar as entregas que o tornem reconhecido pela população. O único caminho possível para o governador se viabilizar eleitoralmente é se associar umbilicalmente ao bolsonarismo. Porém, é importante ressaltar que esse movimento já em curso só se tornará efetivo caso ele consiga demonstrar nos próximos meses que será um candidato competitivo. Caso contrário, Bolsonaro deverá buscar outro nome”, cogita.

O professor da Uenf, Ricardo Nóbrega, especula sobre 2022. “Nas últimas pesquisas eleitorais, Cláudio Castro aparece em segundo lugar. A posse da máquina pública nunca deve ser subestimada. A rejeição pela herança do bolsonarismo pode pesar para Castro e favorecer outros candidatos, como Marcelo Freixo, que aparece em primeiro lugar. Este saiu do PSOL para construir um arco mais amplo de alianças. Ainda é cedo para se saber ao certo quais as candidaturas e coligações que serão construídas para 2022, mas acredito que a eleição deve ser polarizada, tendo esses desses dois candidatos como favoritos”, diz.

Aos que buscam uma terceira via na política do Rio de Janeiro, há em andamento movimentações para fazer frente a Cláudio Castro no ano que vem. O consultor de estratégias, Orlando, faz apontamentos. ”O ex-prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, se articula. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, lançou o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. Fala-se que o ex-ministro Raul Jungmann está iniciando conversas com o mesmo intuito. Enfim, o cenário está muito aberto”, conclui.

Wladimir Garotinho, Cláudio Castro e Rodrigo Bacellar (Foto: Silvana Rust)

Parceria com o governador
O prefeito Wladimir Garotinho (PSD) elogia a postura do governador Cláudio Castro. “A presença e parceria de qualquer autoridade ou instância de governo é fundamental. É tempo de superação e recuperação, portanto, a união é essencial. O governador tem conduzido bem o Estado, é habilidoso e pacificador. Sobre a nossa cidade, estamos na expectativa de anúncios importantes na agenda oficial”, diz.

De acordo com deputado Rodrigo Bacellar (SD), atual secretário estadual de Governo, após crises, instabilidade e descrédito, o Estado do Rio carecia de uma liderança com perfil sereno e agregador.

“O governador Cláudio Castro reúne as qualidades necessárias para recolocar nosso Estado nos trilhos. Dialoga com todas as correntes e entende que a reconstrução passa por essa capacidade de reconhecer as dificuldades e trabalhar em conjunto. Um político raro, que sabe articular, endurecer quando é preciso, mas nunca se desvia da sua essência e dos seus princípios. Outra característica importante é o seu olhar por todo o Estado, entendendo que não existe Rio forte sem interior forte”, afirma.

Deputado Bruno Dauaire

Para o deputado estadual Bruno Dauaire (PSC), o  governador tem demandas importantes a serem alcançadas. “Quando exerci o posto de secretário de Assistência Social e Direitos Humanos, realizamos dezenas de entregas, como o Restaurante do Povo, RJ Alimenta e Supera Rio.  Na questão política, o interesse público deve estar acima das disputas locais e deve prevalecer para que a população saia ganhando, sendo observado a cultura e as tradições políticas regionais para que o trabalho suprapartidário tenha êxito. É necessário ouvir as bases políticas e a população, promover equilíbrio de  forças. Queremos o melhor para o nosso interior, que já sofre há muito tempo pelo esquecimento”, considera.