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Imprudência cada vez mais presente no trânsito de Campos

Cenas de motos em manobras arriscadas; carros, vans e ônibus trafegando em alta velocidade viram rotina na cidade

Trânsito
Por Redação
8 de agosto de 2021 - 4h00
Várias impridências em uma única imagem

A imprudência é a principal causa de acidentes de trânsito, segundo especialistas. Estatísticas gerais apontam que mais de 90% das ocorrências são resultado de falha humana. E nem mesmo a pandemia do coronavírus, que deveria manter a população tanto quanto possível em casa, foi suficiente para reduzir o número de casos em Campos e cidades vizinhas.

Dados do Hospital Ferreira Machado (HFM), unidade de saúde que é referência para atendimento de urgência e emergência na região, mostram que 2.976 pessoas sofreram acidentes automobilísticos, ciclísticos, motociclísticos ou foram atropeladas até 13 de julho de 2021. O número é 6,6% maior do que o registrado até 31 de julho do ano passado, quando 2.791 pessoas haviam se acidentado.


Isto representa, pelo menos, mais 185 acidentes em relação ao ano anterior, considerando que houve apenas um ferido para cada evento. Os números do HFM, todavia, não incluem acidentes sem vítimas, casos de pessoas que não precisam ou recusam atendimento e de mortos no local do acidente, o que sugere dados ainda maiores e preocupa as autoridades.

Ao longo das últimas semanas, repórteres-fotográficos do Jornal Terceira Via flagraram uma série de imprudências nas ruas e avenidas de Campos, praticadas, principalmente, por motoristas e motociclistas. As imagens impressionam. Em um dos registros, duas mulheres e um bebê de aproximadamente um ano ocupam a mesma motocicleta e são fotografados fazendo uma manobra proibida. Como se todas estas irregularidades não bastassem, a carona da moto ainda amamenta a criança em pleno trânsito.

“Este flagrante foi na Rua dos Goytacazes, na Lapa. Elas desceram a ponte e não obedeceram a sinalização para entrar à direita e seguir pela Beira-Rio, em sentido ao Centro. Elas foram direto pela rua dos Goytacazes e retornaram em local proibido, pilotaram por mais alguns metros no sentido contrário, até entrarem em uma via em direção ao Parque Califórnia”, contou o fotógrafo Carlos Grevi.

Mais comum ainda foram os flagras de motociclistas pilotando na contramão. Foram encontradas irregularidades como esta nas Ruas Andradas, João Pessoa e Marechal Floriano (antiga Ouvidor), no Centro. Nos bairros mais afastados, também houve flagrantes em vários trechos da Rua Cora de Alvarenga, nos Parques Leopoldina e Corrientes, e em um longo percurso da Avenida Senador José Carlos Pereira Pinto — entre os bairros Vicente Dias, Calabouço, Alvorada e Custodópolis, em Guarus.


A imprudência também explica os rastros de acidentes deixados pelas ruas: postes de iluminação pública derrubados, muretas da Ciclovia Patesko deterioradas, placas tombadas, muros destruídos, canteiros e jardins invadidos pelos veículos. Cada vez mais os acidentes se aproximam de cenas cinematográficas. Na Avenida 28 de Março, carros capotam com frequência, principalmente em curvas. Em um recente acidente, uma moto bateu na mureta do Rio Paraíba do Sul e a vítima — uma mulher — caiu dentro do rio, em Guarus.

Dor e destruição
Além dos dados alarmantes e das cenas chocantes, há, ainda, a dor pela perda de uma vida ceifada no trânsito. Este é o caso de Adriana Rangel Bueno, de 56 anos. Autônoma, ela perdeu o filho atropelado aos 34 anos. O montador de móveis Felipe Bueno estava de bicicleta, voltando da casa de um amigo, quando teve a vida interrompida por uma colisão, no dia 11 de abril de 2021. Seu veículo foi brutalmente atingido por um carro em alta velocidade, na contramão da avenida Alberto Torres, no parque Leopoldina. O carro era dirigido pelo técnico em enfermagem José Luiz da Silva, de 54 anos, que alegou estar sob efeito de remédios.

“Não estamos vivendo em paz desde o ocorrido. A dor é muito grande. Felipe era um menino amoroso comigo e com o irmão mais novo. Fez 34 anos dez dias antes do acidente e deixou dois filhos, um de três e outros de 11 anos. A casa está vazia. Ele era alegre e presente em tudo. Sentimos muita falta dele. Faço tratamento cardiológico e tomo remédios controlados e fortes por causa da perda do meu filho. Estou destruída por dentro, estou em choque”, lamenta a mãe de Felipe.


A delegada Nathália Patrão — responsável pela investigação — disse que o suspeito mentiu em depoimento e vai responder judicialmente por homicídio doloso, quando há intenção de matar, crime previsto no Código Penal, com pena mais rigorosa que o homicídio culposo — sem intenção de matar — previsto no Código de Trânsito Brasileiro. Ele pode ir a júri popular. Recentemente, a Justiça negou um pedido de prisão do suspeito feito pela Polícia Civil.


Quatro meses depois do acidente, a preocupação da família é que o caso seja esquecido e o acusado fique impune. “Toda semana vou ao Ministério Público acompanhar o andamento do caso. A Justiça é muito burocrática, mas a investigação está caminhando. A promotora garantiu que todo o trabalho está sendo feito da melhor forma possível e nós acreditamos na Justiça”, finalizou Adriana.

Motociclista usa passarela só de pedestres no Centro de Campos

Especialista faz alerta
Para a especialista em trânsito Fabiana Salotto, a imprudência no trânsito é caracterizada pela falta de cuidados. Segundo ela, estatísticas comprovam esta como a principal causa de acidentes. “Os condutores não têm cuidado nos cruzamentos, não respeitam as sinalizações, utilizam bebidas e drogas, manuseiam aparelhos celulares, não usam equipamentos de segurança. Somado a isto, há falhas na fiscalização, o que colabora para este aumento no número de acidentes de trânsito”, disse.

Fabiana Salotto


Fabiana faz um alerta para que a redução no número de casos seja uma realidade. “Deveria haver uma mudança de comportamento e um conhecimento mais profundo das leis de trânsito, não só na teoria, mas também na prática. A atenção, a percepção de risco, a direção defensiva, a cortesia, o respeito ao mais fraco e a educação são fatores que devem ser observados. Estudos mostram que a imprudência é uma escolha consciente e, por isso mesmo, é possível evitá-la”.

Ações da Guarda Municipal e IMTT
A Guarda Civil Municipal lembra que o trânsito em Campos está mais intenso em relação ao início da pandemia. Só no mês de junho de 2021, foram aplicadas 4.411 multas nas ruas. Entre as dez infrações mais comuns, diversas são frutos de imprudência, como falta do uso de cinto de segurança, falta de capacete, uso de telefone celular, transporte de passageiros de moto sem capacete e conversão em local proibido.

Uma comparação do mês de julho nos anos últimos três anos mostra aumento na aplicação de multas pela Guarda Civil Municipal em 2021, apesar do movimento menor no trânsito devido às medidas de enfrentamento à pandemia do coronavírus. Em julho de 2019, período sem pandemia, foram aplicadas 3.318 multas. No mesmo mês do ano seguinte, este número caiu para 3.307. Mas, em julho deste ano, houve um salto para 3.503 multas.

Por meio de nota, o Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) informou que faz campanhas educativas e de orientação periodicamente, como aconteceu durante o Maio Amarelo, com abordagens aos usuários e destacando a responsabilidade que cada um deve ter no trânsito.

“O IMTT esclarece que está acompanhando o índice de acidentes registrados nas principais vias do Município e fez uma parceria com o Corpo de Bombeiros e a Guarda Civil Municipal para registros destes acidentes, para mapear as colisões, capotamentos e demais incidentes, através de um boletim de acidentologia do trânsito, para melhor subsidiar o IMTT com intervenções em todas as vias da cidade e reduzir as ocorrências, já que antes não havia registros específicos. O órgão destaca que a maioria dos acidentes é provocada pela imprudência dos usuários do trânsito”.

Vídeo: Imprudência e desrespeito no trânsito de Campos