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Bracom deixa um sentimento de perda. História que se vai

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
3 de agosto de 2021 - 11h08

Para além do prejuízo para o município, do tradicional negócio que deixa de existir, do fechamento dos postos de trabalho e outras questões igualmente graves – todas já noticiadas – transitar por ali, na movimentada Rocha Leão, e não ver mais a Bracom, traz um sentimento de vazio, de perda… como se alguma coisa estivesse errada ou fora do lugar. Pois é: falta a Bracom. 

A concessionária não tinha um século nem era patrimônio histórico da cidade. Mas até a sexta-feira passada (30) estava ali há 33 anos, vendendo carros da marca Ford, num dos espaços de negócios mais movimentados de Campos. 

E quantas pessoas, hoje na casa dos 50 e poucos anos, não compraram lá o primeiro carro? E antes desses, o menino de 7/8 anos, hoje quarentão, não ficava com brilho nos olhos ao ver e sonhar que um dia poderia ter um? Quantos não entraram para conhecer os novos modelos? Para sentir o gostinho de sentar num 0km? Ou paravam à noite para ‘namorar’ os automóveis pelo blindex? 

E tantos e tantos, milhares, caminharam pelos salões – 2, 3, 4 vezes num intervalo curtinho de menos de uma semana – com a mulher ou marido, filhos, pai e mãe, para ‘ajudarem’ na escolha do modelo que levariam? E poucos anos depois voltavam, de novo 2, 3, 4 vezes, para trocar por outro novinho. 

Espaço aberto, amplo, agradável. Mesas entre os carros com vendedores (as) a postos. Telefones que não paravam. Movimentação frenética. Tudo era feito para não perder negócio. Um desconto a mais… bastava ‘chegar’ no Zé-Francisco que dava-se um jeito.  

O fechamento da Bracom põe fim a uma era. Marcou época e deixa um espaço vazio não apenas naquela esquina, mas também em muitos corações. 

Crise vista por vários ângulos 

O encerramento das atividades era um desfecho há muito anunciado, tendo em vista que diferentes sinais indicavam o quadro que acelerava em direção ao desfavorável.  

Primeiro, a Ford já vinha enfrentando uma reestruturação global, com cortes de custo na Europa, no EUA e na Austrália. Na América do Sul, desde 2013 a montadora acumulava perdas significativas, sendo que no Brasil a situação é ainda pior por ter a maior carga de tributos sobre automóveis – o chamado ‘custo Brasil’.  

Em 2020, a crise econômica causada pela pandemia resultou no golpe fatal, com as vendas despencando 39,2% em relação a 2019. A montadora não resistiu e em janeiro deste ano anunciou o fechamento de 3 fábricas. Logo, não havia outro caminho senão o encerramento paulatino das concessionárias no País.  

Alguns dos modelos de grande sucesso 

Relembrando apenas três dos modelos que foram emblemáticos para a Ford nacional, encontramos o Galaxie – o mais luxuoso carro da marca lançada no Brasil em 1967 e que fez história com seus 5,33 metros de comprimento, farto espaço interno e acabamento de primeira. 

Na década seguinte o Corcel faria enorme sucesso. O que seria o Renauld 12 na Europa, no Brasil recebeu retoques e o nome Corcel. Mais tarde a versão esportiva GT, com carburador duplo, foi imbatível. 

Já em tempos mais recentes, o Fiesta, nas versões 1.0, 1.3 e 1.4, chegou o Brasil em sua terceira geração global e alavancou as vendas da montadora, caindo no gosto dos brasileiros. Compacto, confortável, com bom acabamento e econômico, fez sucesso até a 5ª geração, competindo como um dos carros mais vendidos em sua categoria.  

Fracassaram – Em contrapartida, não foram bem aceitos pelo consumidor, entre outros, o Maverick, o Versailles e Royale, a pick-up Courrier e a versão sedan do Escort. É inevitável reconhecer que o lançamento desses modelos refletiram negativamente mais adiante.