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UM QUER O OUTRO

Sinais são de que a eleição 2022 seja ainda mais odiosa do que foi 2018 e divida, perigosamente, o Brasil

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
27 de julho de 2021 - 11h37

Por mais que se diga que a antecipação do debate sucessório atropela as ações de combate à Covid e que ao tirar o foco sobre a pandemia inevitavelmente se está enfraquecendo as ações contra a transmissão do vírus – não adianta. As discussões em torno do pleito presidencial de 2022 começaram há cerca de 3 meses e agora estão colocadas de forma indisfarçável. Político, no geral, é assim: primeiro o meu interesse eleitoral, a posição que melhor me favorece, o meu cargo, etc. O resto… quando tiver tempo. 

Para piorar, verifica-se que os candidatos naturais – o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula da Silva – assumem posição antidemocrática ao não considerarem, quase que não admitindo, a pluralidade de pré-candidaturas. Como se fossem donos do processo eleitoral, ‘fecham questão’ de que o pleito será polarizado entre os dois. E ponto. 

Para Bolsonaro, não existe terceira via: “Está polarizado, não vai agregar. Não vai dar certo e também não vai atrair a atenção do eleitor”. Lula da Silva foi ainda mais incisivo: “A 3ª via é uma invenção dos partidos que não têm candidato. Não há polarização, mas democracia contra fascismo. Quem está sem chance usa de desculpa a tal da terceira via”.   

Extremos – Já comentado neste espaço, essa polarização pelos extremos é tão conveniente para os dois quanto desfavorável ao Brasil. Isso porque teremos a continuação do pleito de 2018 – só que desta feita com o próprio Lula – com campanhas ainda mais acirradas e odiosas. Bolsonaro aposta no sentimento antipetista, que remete ao Petrolão – o maior escândalo de propina do mundo – e toda rede de corrupção que teve o PT como protagonista de relação promíscua com construtoras, em especial os confessados delitos da Odebrechet. Além disso, vai bater nos exageros do “politicamente correto”, que em muitos aspectos agride os princípios familiares com boa dose de desprezo por valores que são caros a uma considerável fatia da sociedade. 

Já Lula irá jogar fichas no comportamento autoritário de Bolsonaro, em suas falas agressivas, em seu indisfarçável estilo totalitário que exalta o regime dos militares e nega que tenha havido ditadura no Brasil. Frases soltas rigorosamente contrárias à liturgia do cargo de presidente certamente serão usadas e, em especial, ao que se acostumou chamar de negacionismo da pandemia, com o atraso na compra de vacinas, etc. 

Avizinha-se, portanto, uma campanha não pelas realizações de cada qual, mas pelas transgressões do oponente. Assim, não vence o melhor, mas o menos pior.  

E o que mais assusta é que prevalecendo esse estado de coisas, poderemos ter um Brasil dividido pelo ódio com consequências imprevisíveis.