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Uma longa espera

Ocupação do Palácio da Cultura ainda é cercado por dúvidas

Geral
Por Ocinei Trindade
14 de junho de 2021 - 5h05

O Palácio da Cultura de Campos dos Goytacazes segue fechado e sem previsão de reabertura. Desde 2014, quando a reforma foi iniciada e interrompida várias vezes nas gestões de Rosinha Garotinho e Rafael Diniz, o equipamento público municipal foi considerado concluído e entregue à população em dezembro de 2020. Todavia, sem condições de uso, segundo integrantes dos meios artístico e cultural da cidade. Com a chegada de Wladimir Garotinho ao governo, novas expectativas para a ocupação do prédio foram criadas. Porém, ainda sem uma data definida para acontecer.

Símbolo da arquitetura modernista, o edifício inaugurado em 1973 é referência para uma geração de artistas, intelectuais, professores e estudantes. A Biblioteca Municipal Nilo Peçanha era uma das atividades oferecidas ao público, além de exposições, peças teatrais, festivais de música, poesia e literatura. A nova gestão da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, presidida por Maria Auxiliadora Freitas, alega que vem lutando para reativar o Palácio da Cultura.

“Visitas técnicas já foram realizadas e levantamentos sobre os reparos necessários estão sendo produzidos. O espaço não foi encontrado em condições habitáveis. O Pantheon dos Heróis de Campos passou por drenagem para retirada de água parada, no dia 20 de maio, iniciando o processo gradativo de recuperação do referido espaço que abriga restos mortais do abolicionista, José do Patrocínio e sua mulher, Maria Henriqueta do Patrocínio, do também abolicionista Luis Carlos de Lacerda, e do ex-prefeito de Campos, João Barcellos Martins. Aguardamos, no entanto, condições orçamentárias para a execução dos procedimentos necessários”, informou.

Segundo Auxiliadora, a futura transferência dos setores administrativos da FCJOL será elaborada pela secretaria municipal de Planejamento Urbano, Mobilidade e Meio Ambiente. “Sobre a Biblioteca Nilo Peçanha, parte do acervo se encontra em duas salas do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho. Todo o levantamento será realizado”, comentou.

O Jornal Terceira Via publicou, em agosto de 2018, que parte dos livros se encontrava nas dependências do Teatro Trianon, inclusive sob o palco principal em área destinada à orquestras. Não se sabe até hoje sobre as condições de preservação desse acervo. Obras de arte que faziam parte do Palácio da Cultura não tiveram seu paradeiro informado.

Quando a obra de conclusão do Palácio da Cultura foi entregue em dezembro de 2020, na gestão de Rafael Diniz, a Fundação Cultural era presidida por Cristina Lima. Uma das queixas de artistas sobre o prédio reformado foi a não devolução do Auditório Prata Tavares.

“A questão do auditório, durante a reconstrução do prédio, foi motivo de lamento entre nós, do governo. A gente gostaria de ter incluído o Prata Tavares no pacote que caracterizou o TAC entre a Prefeitura e a empresa que demoliu o casarão do Chacrinha. A gente tinha um teto que seria atingido com as obras elencadas no orçamento. Nunca o auditório esteve incluído no TAC, infelizmente. Ele ficou muito destruído antes da chegada do governo Rafael Diniz. A construtora mexeu no telhado por questões de impermeabilização, evitar os problemas que o telhado sempre apresentou, não esvaziou o auditório, não retirou o mobiliário. Tiraram o gesso e ficou exposto ao tempo à mercê de chuva de sol. Isso causou deterioração do ambiente. A gente encontrou um ambiente de guerra. Não foram retiradas as poltronas, as cortinas. Houve um estrago muito grande quando mexeram no telhado”, afirma Cristina.

A obra de reestruturação do Palácio da Cultura foi orçada em R$ 1,2 milhão e financiada por uma empresa como medida compensatória homologada pelo Juízo da 4ª Vara Cível de Campos em razão da demolição de um prédio histórico da Rua 13 de Maio. A compra de mobília foi prevista por meio de emenda parlamentar do ex-deputado federal Paulo Feijó no valor de R$ 1 milhão. Sobre esse montante, não houve informações por parte do governo.

Depoimentos sobre o Palácio
“O governo do prefeito Rafael Diniz nos últimos dias entregou o PC faltando finalizar algumas obras e totalmente sem mobiliário. Como conselheiro titular da Câmara de Patrimônio Histórico, me preocupo muito com a viabilização dos custos, tanto para ele ser equipado, como para a sua manutenção. Como está hoje, não pode receber a biblioteca nem qualquer exposição. A reforma do auditório não foi feita porque não estava prevista no Termo de Ajustamento de Conduta. Percebo um interesse das pessoas da gestão cultural do governo Wladimir Garotinho em que o Palácio da Cultura seja reaberto com o protagonismo da Cultura. Porque esta questão sempre foi muito cara ao segmento da sociedade civil do Comcultura, não deixar que esta reabertura aconteça tendo a Cultura como coadjuvante”.
Marcelo Sampaio – professor e historiador

“Trata-se de um problema cultural, além de ordem financeira. Nós temos conhecimento de que uma das áreas mais importantes e nobres do interior do prédio, o auditório, está totalmente destruído. Isto já é uma dificuldade para que o Palácio volte a ter grandes dias e servindo à população. É um trabalho que vai demandar recursos. Tudo que diz respeito à cultura e à história em Campos fica no fim da linha, com relação ao aproveitamento de recursos. Se não tivermos verbas extraordinárias, captadas fora do município, talvez até com institutos internacionais, vamos passar ainda muitos anos sem a ocupação definitiva do Palácio da Cultura, que tem uma história respeitada. Ainda tenho esperanças, apesar de estar com 84 anos. Ainda sou um otimista, embora revoltado, que alguma administração dará um fim feliz à obra do Palácio e ao retorno do monumento de José do Patrocínio para lá”.
Vilmar Rangel – escritor e jornalista

“Acho que estamos vivendo a prévia de outras suposições sobre o espaço. Quando estivemos lá, à época do Ocupa TB, estava o caos. Uma coisa vergonhosa, um descaso com o espaço físico total. De qualquer maneira, acredito que teremos mais um tempo com esse equipamento fechado, pois a justificativa é de que ele não está em condições de atender a comunidade. Penso que é preciso diálogo com as pessoas que produzem arte e precisam dos espaços. Apenas dessa maneira os espaços voltados para cultura servirão a todos que precisam e desejam fomentar cultura sem partidarismo. Parece que mesmo sendo uma terra que abriga tantos poetas, escritores, artistas plásticos, atores, não conseguimos sustentar nada de forma verdadeiramente criativa. Independente se está inacabada a obra, o que temos que ter como garantia é que ele servirá à comunidade para abrigar a cultura, a arte”.
Adriana Medeiros – atriz

“A situação do Palácio da Cultura se confunde com a própria Cultura no município de Campos, que vem se arrastando há anos, atravessando gestões públicas, sempre com o discurso de falta de recursos. É o que podemos chamar de desimportância da Cultura. Quando por todo motivo, justo ou não, a Cultura fica em último plano de investimento. Pois, ao contrário do que tentar passar, o custo com a Cultura não é gasto, mas investimento para uma sociedade mais culta e feliz. Para além da estrutura predial, o que devemos perguntar é quais as condições dos livros da biblioteca, do sistema multimídia do auditório e da pinacoteca do palácio. Fora o crime na destruição do jardim projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx. Hoje, a desculpa é a pandemia, mas certamente o cenário sem os males do coronavírus não seria diferente. O Palácio da Cultura é mais um equipamento cultural à mercê da falta de horizontes. Não tão distantes estão o Arquivo Público, o Museu de Campos e o Museu Olavo Cardoso”.
Wellington Cordeiro – presidente da Associação de Imprensa Campista

“Ainda não se sabe como será ocupado o Palácio da Cultura. Se apenas pela cultura, ou se pela tecnologia e cultura. Eu defendo estar a ciência e tecnologia junto com a cultura. Hoje, não vejo por quê essa separação. Mas há um grupo que defende o Palácio apenas com as atividades culturais. Isto ainda está para ser resolvido pelo novo Conselho Municipal de Cultura. O prédio ainda não está em condições de receber, o auditório não está recuperado, ainda faltam torneiras em banheiros, limpeza geral e os equipamentos. Não sabemos, ainda está tudo indefinido. É uma ansiedade da nossa parte da cultura, vê-lo em funcionamento”
Sylvia Paes – historiadora