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A resposta de Alice

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BLOG
Por Eliana Garcia
16 de maio de 2021 - 0h01

Quase todos nós conhecemos a história do livro ou assistimos a alguma versão desse clássico da literatura inglesa, Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll.  É uma narrativa para todas as idades que traz importantes reflexões.

O contexto da obra é a Era Vitoriana, século XIX, marcada pela rigidez da educação e da moral puritana. Tudo que se escrevia para criança, nessa época, deveria ter função moralizante. Carroll não concordava com esse papel pedagógico que atribuíam à literatura infantil nessa Inglaterra cinzenta pela fumaça das fábricas. Toda essa colorgrey produzia pessoas entediadas, fechadas e borralhentas. Carroll escreveu um livro bem ao contrário de tudo isso, criticando toda essa cadeia de produção. São personagens instigantes que tanto evidenciam a tirania e a rigidez da época como a rainha de Copas, como o aspecto sombrio da Rainha Branca, a instabilidade do Chapeleiro Maluco, a Duquesa irritadiça, a Tartaruga falsa entre outros que são criativa e enfaticamente confrontados pela destemida e curiosa Alice.

No início da história, Alice acompanha o Coelho Branco que passa na sua frente e cai junto com ele dentro de um buraco. A partir daí, iniciam-se suas aventuras. Cresceu e diminuiu de tamanho várias vezes, conheceu seres ranzinzas e complexos como a Lagarta, como podemos observar neste trecho do livro:

“ A Lagarta tirou o narguilé da boca e disse, dirigindo-se a Alice com uma voz calma e sonolenta:

– Quem é você?

(…) – Eu… Eu, neste momento, não sei muito bem, minha senhora… Pelo menos, quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que mudei várias vezes…

– O que você quer dizer com isso? – perguntou a Lagarta secamente.

(…)- Receio que eu não possa ser mais clara – respondeu Alice educadamente – Já que para começar, eu mesma não consigo entender o que se passa. E, além do mais, ficar de tantos tamanhos diferentes num só dia é uma coisa que deixa a gente muito confusa.”

A insistência da Lagarta em obter uma resposta pronta e objetiva, nesse belo trecho da obra, é mais uma crítica do autor à sociedade repressiva e mecanicista da época. Já Alice é metáfora para o novo, para a graça, a brincadeira, a mudança.  Alice é como uma semente da revolução moderna que se seguiria.

A imprecisão, na resposta da garota, é sinal do processo de ser gente, pois ninguém é mais o mesmo depois de uma única jornada do sol. E trazendo para os dias atuais, falando de mudanças mais gerais, acredito que ninguém será mais o mesmo depois dessa pandemia da COVID 19, principalmente os mais sensíveis e atentos.