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Pandemia, aglomeração, vacinação, reflexos na economia e saída da crise

Lista de vacinação do posto Terceira Idade teve nome de quem teria tomado a 1ª dose dia 05/01/2021, quando a imunização no Brasil não havia começado

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
12 de maio de 2021 - 17h36

O Brasil se aproxima de meados de maio sofrendo os reflexos de erros, atrasos, incompetência e de muita confusão que marcaram as ações desde o início da pandemia até os dias hoje. União, estados e municípios – todos erraram. As cidades são penalizadas pelos erros que vêm de cima (governo federal e estados) e pelos seus próprios – Campos, inclusive.  

Ainda nesta quarta-feira (12) tivemos a desorganizada lista para a 2ª dose da CoronaVac. Para se ter ideia, a relação de vacinação para o posto Terceira Idade’ consta o nome de Hermitom de Miranda Serqueira (nº 63) informando que tomou a primeira dose em 05 de janeiro de 2021, quando a vacinação não havia começado no Brasil. 

Há casos, também, de nomes repetidos numa lista que não relacionou nem a metade do número de doses que o município recebeu. Há pessoas que tomaram a 1ª dose há 45/50 dias, quando a recomendação do Butantan é que a 2ª não ultrapasse 28 dias. E aí? Estão valendo? E, para completar, com muita aglomeração. 

Em novos depoimentos, o cirurgião cardiovascular-pediátrico, Herbert Rosa Pires, destaca que apesar do Brasil só ter vacinado 18% da população – consequência do atraso na compra dos imunizantes – a AstraZeneca chegou em boa hora e outras virão para reverter o quadro. Mas lamenta que parte da população não respeite as medidas restritivas e persistam nas aglomerações. 

Para o contador Júlio Féres, da Féres Contabilidade, as empresas já deram sua contribuição e daqui para frente qualquer sacrifício terá que ser acompanhado de compensação financeira, tributária e trabalhista. 

Já o economista Ranulfo Vidigal acredita que a saída de Campos da crise passa pela valorização de seu capital humano universitário e de 2º grau técnico e pela re-industrialização do parque produtivo. Para ele, a imunização no mundo inteiro passa pela geopolítica da vacina, mas está confiante que o Butantan e a FioCruz possam ajudar sobremaneira o Brasil.  

Depoimentos 

Pós-graduado em Cirurgia Cardiovascular Pediátrica, com destacada passagem por hospitais de Campos e ora atuando mais efetivamente no Hospital da Criança e Maternidade de São José do Rio Preto, São Paulo, o médico Herbet Rosa Pires lamenta erros durante a pandemia e que o Brasil só tenha vacinado em torno de 18% da população. Contudo, adverte sobre as peculiaridades de cada país.  

Na minha visão esse período tão difícil e que já dura mais de um ano deve ser observado sobre diferentes vertentes. São vários ‘Brasis’ dentro de um Brasil de extensão continental, com população superior a 210 milhões, que enfrenta a mais devastadora crise sanitária dos últimos 100 anos. Sob esse ângulo, cabe refletir se seria plausível a comparação com Israel, que já vacinou ‘todo mundo’, mas cuja população não chega a 10 milhões? Ou com o Reino Unido, que até meados de abril havia vacinado 100% dos adultos acima de 50 anos, mas que está entre os países mais ricos do mundo?  

Lançando mão de exemplo de outra natureza, a Moderna – uma das principais do programa de imunização dos EUA – tem eficácia comprovada de 90%. Antes, falou-se em 94,1%. Já no caso da CoronaVac, que responde por mais de 80% da vacinação no Brasil, a eficácia inicialmente anunciada foi 50,3%, podendo chegar – segundo estudos mais recentes divulgados pelo Butantan – a 62,3%. Vemos, portanto, uma diferença potencial de 30% entre ambas, algo bastante considerável.   

O que estou tentando dizer é que, no meu modesto entendimento, temos que respeitar as circunstâncias e as especificidades de cada país e de cada região. A CoronaVac é uma boa vacina? Claro que sim. Passou pelo crivo da Anvisa com nível de eficácia menor do que agora se anuncia. Mas, salvo melhor juízo, não está entre as primeiras no ranking de eficácia. E mais: devemos nos orgulhar do Butantan e da Fundação Oswaldo Cruz, institutos de excelência, que trabalham para que o Brasil em breve produza sua própria vacina.  

Por outro lado, só vacinamos entre 17% e 18% da população –  o que é pouco – com registros oficiais acima de 425 mil mortos. Nossa imunização começou com atraso, os lockdowns foram fatiados e dispersos, várias cidades enfrentam a falta de vacina para aplicação da 2ª dose e o governo federal não liderou campanha nacional de esclarecimento contra aglomerações, a favor do distanciamento e do uso de máscaras. Isso está tendo um preço.   

Mas, independente de tudo isso, é difícil não reconhecer que boa parte da população alimentou a pandemia ao promover festas clandestinas, lotar bares, fazer carnaval e insistir em desrespeitar as medidas restritivas. Como consequência inevitável, veio o colapso da rede pública hospitalar.  

De toda forma estou confiante que a imunização vai avançar e conter a pandemia. Temos o reforço da AstraZeneca que chegou em boa hora, outras vacinas estão a caminho, há expectativa de novas remessas de insumos do Laboratório Sinovac e, o que é muito relevante, acho que o povo está se conscientizando da necessidade de fazer sua parte para vencer a doença”  – concluiu. 

O contador Júlio Féres, responsável pela ‘vida contábil’ de algumas das principais firmas de Campos e que dirige a Féres Contabilidade, acredita que daqui para frente quaisquer sacrifícios oriundos do empresariado precisam ser acompanhados de compensação financeira, tributária e trabalhista para que se possa, no mínimo, igualar as finanças já “balançadas” das empresas. Podemos exemplificar uma redução do ICMS nas contas de água e luz, um diferimento nos vencimentos dos impostos (já em andamento), como também os chamados REFIS federais, estaduais e municipais”. 

Para Féres, a ampliação da vacinação e o recuo da pandemia darão fôlego ao empresariado com tendência de readmissão daqueles que porventura foram dispensados por falta de recurso financeiro empresarial. O contador destaca que “a engrenagem financeira da economia ficou girando muito lenta, o que reduziu sobremaneira o capital de giro empresarial e a taxa de retorno de investimento. Nesse caso – ressalva – os colaboradores diretos e indiretos são mais afetados”. – advertiu.  

Ranulfo Vidigal, doutorando pela UFRJ, ex-presidente GEAM (Grupo Estratégico de Apoio aos municípios do governo fluminense) e da Fundação CIDE de estatística, acredita que um dos caminhos que Campos deve buscar para sair da crise reside em novos investimentos em serviços de alta complexidade que a cidade já possui:  

Antes da crise sanitária, já ocorria uma desaceleração cíclica na economia internacional. Daí que nosso país se especializar em commodities (petróleo, alimentos e minério) e abandonar a industrialização, foi um problema sério.  

A pandemia escancarou o atraso das políticas públicas, com a volta da fome e da pobreza. Isso exigirá uma séria discussão sobre o papel estrutural da empregabilidade da juventude, da educação para acelerar a produtividade e o apoio irrestrito ao SUS.  

Sobre as vacinas – comentário adicional que você me sugere – a minha visão é que vivemos o que chamo de geopolítica das vacinas. Como as sete economias mais importantes do planeta detêm as grandes universidades, os grandes institutos de pesquisa e as grandes empresas farmacêuticas, elas saíram na frente na imunização.  

Israel é um exemplo. Está com 100% da população vacinada a partir do apoio irrestrito dos EUA, que por seu turno pretende chegar a 70% até 04 de julho – data mais importante para povo americano. Portanto, a geopolítica da vacina funciona de forma marcante.  

Já nos países periféricos, do 2º e 3º mundo, a situação é outra. No segundo mundo o Brasil está se salvando porque tem duas instituições do calibre do Butantan e da Fiocruz, com histórico em vacinação, e que agora vão absorver a tecnologia, principalmente se for adiante a quebra de patentes sugerida pelo presidente Biden. Que o nosso governo errou – errou. Mas não podemos jogar toda culpa na União, porque a questão geopolítica que mencionei é muito forte.   

Na cidade de Campos, oitava economia do ERJ, a saída passa pela valorização de seu capital humano universitário e de segundo grau técnico.  Pelos serviços de alta complexidade que a cidade já possui e pelo planejamento de longo prazo para re-industrializar nosso parque produtivo, mediante a recuperação da produtividade da terra agrícola abundante. Sou otimista com a cidade”.