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Pelas estradas, literatura e música

O policial rodoviário Nicasio Viana decidiu publicar livros e canções após sofrer grave acidente e encarar a pandemia com coragem

Geral
Por Ocinei Trindade
26 de abril de 2021 - 0h02

Aos 41 anos, Nicasio Viana se divide entre as funções de agente da Polícia Rodoviária Federal, pai de família, compositor e escritor. Em 2021, decidiu abrir o baú de escritos e canções e torná-los públicos. Até o fim do primeiro semestre vai lançar dois livros. O primeiro é dedicado à literatura infantil, “As aventuras de Sarinha: a mudança”. O outro livro, “Poetryficar: a poesia que você precisa”, revela sentimentos e impressões trazidos desde sua infância, em Aracati, Ceará, sua terra natal.

Nicasio vive em Campos dos Goytacazes há vários anos. Apesar de um acidente grave e da pandemia, ele não se abate. A fé, a música e a literatura amenizam dores. Nicasio Viana conta que saiu de casa no interior cearense, aos 16 anos, para servir à Marinha do Brasil. Foram oito anos antes de se tornar policial. Formou-se em Direito e em Informática. “Eu sempre gostei muito de escrever, mas costumo dizer que escrevia para mim mesmo. Alguns acontecimentos recentes me fizeram querer publicar meus textos”. Em 2019, ele sofreu um grave acidente de trânsito.”Estava em minha moto, quando um veículo que aguardava em uma fila resolveu sair de lá sem sinalizar, bloqueando minha passagem. Aprendi ‘a voar’ naquele dia.  Sofri uma cirurgia. Tenho uma placa de aço e vários parafusos no ombro esquerdo. Quando a pandemia começou, eu já estava em quarentena e continuei”, resume.

A única experiência que Nicásio tinha como escritor foi quando colaborou em um capítulo de livro sobre segurança pública. Agora, ele quer mostrar que vai além dos assuntos técnicos, exibindo seu lado infantil e sua verve de poeta, inspirada na literatura de cordel. A data para os lançamentos dos dois livros ainda não foi definida pela editora, mas o autor acredita que acontecerá até junho, de forma remota, por causa da pandemia.

“A obra infantil trabalha, principalmente, a necessidade de superação do medo que as crianças e, até mesmo os adultos sentem de mudar, de tentar algo novo. O livro de poemas trata de diversos aspectos da poesia, da vida, da família, da morte e da esperança, divisão do livro proposta por mim, mas que não é estanque. Muitos poderão achar que um poema que está na seção “Da poesia”, poderia estar na seção “Da esperança”, e não estarão errados. Falo sobre a necessidade de nos adaptarmos às mudanças, mas sem relação direta com do livro infantil”, conta.

A literatura nordestina fez parte da infância do autor, principalmente o cordel e o repente. “Morei muito tempo em uma rua chamada José de Alencar, outro cearense. Claro que não tem como falar de literatura nordestina sem falar em Patativa do Assaré ou Ariano Suassuna, só para citar dois exemplos. Minha relação com a literatura de cordel, além da atração natural por ser nordestino, está expressa em meus textos”, diz. Em um poema intitulado “Nostalgia”, Nicasio exprime: “Dentro de meu coração, nunca saí do sertão, da terra que me gerou”.

Em casa, enquanto se recuperava da cirurgia que fez, e em plena pandemia, Nicasio Viana compôs vários dos 50 poemas que fazem parte do livro “Poetryficar: a poesia que você precisa”. Alguns foram escritos em abril de 2020, como este trecho de “Poesia Infinita. Ele diz: “Na saída pro trabalho, a poesia continua. Ônibus, metrô lotado. A verdade nua e crua. Todo mundo é uma rima. Toda rima nos ensina o que vemos pela rua”.

Nicasio Viana se diz fã do poeta Braúlio Bessa, cearense da cidade de Alto Santo, próxima a sua Aracati natal.  “Eu diria que o nordestino está para o Nordeste, assim como um filho está para a sua mãe. É um vínculo que não deixamos, que não se apaga, não importa o que aconteça. Rodamos o mundo todo,  mas o centro do nosso compasso, o nosso país dentro do Brasil é e será sempre o Nordeste”.

No poema “Xeque-Mate”, Nicásio passeia um pouco por essas memórias geográficas e temporárias. Em uma estrofe ele cita “Neste lugar que tu buscas a mais linda das mensagens, eis o que tu encontrarás, nada além de uma viagem que eu programei amiúde, ainda na juventude, que há muito pediu passagem”.

Música e louvor
Nicasio Viana frequenta uma igreja batista aqui em Campos dos Goytacazes, onde exercita seu lado musical. Ele compôs, produziu e divulgou em plataformas digitais, como YouTube e Spotfy, duas canções “Livra-me de mim” e “Lugar da Naturalidade”. A base das letras é inspirada na literatura bíblica, no livro de Romanos.

“Estou tendo um retorno bem legal com os comentários das pessoas falando que se identificaram com as músicas. O lyric video  também ajuda as pessoas com deficiência auditiva a conhecerem nosso trabalho. Outro single já tem lançamento provável para maio. Estamos trabalhando em um outro projeto (possivelmente um EP ou um álbum com mais faixas) para lançamento no máximo no segundo semestre”, revela.

A inspiração musical vem de seu pai, que cantava nos corais da igreja. “Eu ficava tentando imitar aquelas vozes de adultos. Chegava a ser engraçado. Desde os seis anos eu participava de corais infantis; aos doze anos comecei a estudar piano. Sempre procurei grupos de louvores nas igrejas por onde passei, ou tocando teclado, ou cantando no backing vocal”, conta.

Pós-pandemia
Com 17 anos dedicados à Polícia Rodoviária Federal, Nicasio Viana diz que pretende continuar conciliando o trabalho com a música e a literatura. A Covid-19 trouxe mudanças a todos aspectos da vida, segundo ele, além de baixas na PRF do país, em virtude da doença. “A segurança pública não é algo que a sociedade pode se dar ao luxo de abrir mão. Por isso, continuamos”.

No poema “Teimosia”, Nicasio cita em um verso: “Deus me mande alguma rimapr’eu botar nesse papel. Mas, por favor, não me mande dessa vez mais um cordel. Hoje eu quero uma poesia, criada com maestria, enviada aí do céu”.