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Sinal Fechado

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Opinião
Por Editorial
25 de abril de 2021 - 0h02

Uma das principais canções compostas por Chico Buarque abordando questões sociais urbanas e o drama dos que vivem nas esquinas da vida, vendendo chicletes e balas para sobreviver, ilustra bem a reportagem especial desta edição, escrita pelo jornalista Ocinei Trindade, que retrata a situação de milhares de pessoas que, no curto espaço de tempo entre a abertura e o fechamento do semáforo, tentam rapidamente conseguir ganhar algum dinheiro para sobreviver.
Mas, se contrapondo à canção, o contexto da reportagem é mais amplo. A música do Chico se chama “Pivete” e é de uma época em que quem estava no “sinal fechado” eram menores vendendo alguma coisa. Hoje, em plena pandemia, o problema é maior, e nos sinais estão homens, senhoras e jovens que perderam seus empregos e rendas.
Enquanto a economia não apresentar um sinal verde, dando a largada para a retomada econômica, o sinal fechado para aqueles que estão no vermelho continuarão sendo um ponto de mínimos negócios que pelos menos permitem conseguir alguns trocados para trocar por comida, pois estamos falando de fome.
Definitivamente não é um bom sinal quando nos deparamos nos cruzamentos das ruas com pessoas disputando a janela de um veículo, tentando vender alguma coisa. Quando a janela não está aberta é sinal de que os ocupantes do carro estão em um outro clima, o do ar condicionado.
São realidades diferentes que, mais do que nunca, se cruzam, e é preciso ter a empatia necessária para perceber que, enquanto uns estão com a mão ao volante no ar condicionado, outros estão sob o sol ou a chuva com as mãos estendidas, não pedindo esmola, mas vendendo alguma coisa, até que tudo isso passe. É realmente um sinal fechado.