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Autismo virtual: alerta para crianças grudadas nas telas

Especialista em genética fala sobre a condição que tem afetado cada vez mais famílias

Geral
Por Redação
25 de abril de 2021 - 6h00
Dr. Isaias Soares de Paiva

O mês de abril se colore de azul para conscientizar a sociedade a respeito do Transtorno do Espectro Autista (TEA). O objetivo é abordar o tema para além da data mundial, lembrada no dia 2, e mobilizar as famílias sobre esse assunto ainda desconhecido e discriminado por muitos. Segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), uma em cada 160 crianças são atingidas por tal condição. Os estudos acerca do autismo têm evoluído a cada ano e, dentro deste contexto, uma questão tem preocupado, e muito, os especialistas: o autismo virtual.
Profundo conhecedor da área genética e geneticista do laboratório XY Diagnose, do Grupo IMNE, Isaías Soares de Paiva se demonstra atento à tal realidade. Ele é mestre e doutor em Genética pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de três instituições de ensino superior do Estado: Unigranrio, Unifezo e Estácio de Sá. Pertence ao grupo de pesquisadores da área genética da UFRJ, além de presidir o Comitê de Genética da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro. “Já sabemos que o Transtorno do Espectro Autista tem uma etiologia multifatorial e suas causas podem ser genéticas ou ambientais. E posso dizer que existe uma pandemia de Covid-19 e uma segunda de autismo. A partir da década de 90, os casos começaram a aumentar. E eu fui observando isso na minha experiência. Cada vez mais tenho recebido muitas famílias que me relatam casos de autismo virtual, ou seja, crianças que estão desde cedo sendo expostas de forma exagerada às telas, sejam de smartphones, computadores ou mesmo a televisão. Isso é preocupante! Bebês que mal nasceram e já ficam ali conectados. Muitas vezes para que a criança passe tempo em silêncio”, afirma.

Zero tempo de tela
O especialista explica que o autismo virtual é consequência do contexto da vida moderna. Porém, o recomendado pelas Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade Americana de Pediatria é que a criança não seja exposta às telas pelo menos até os 2 anos de idade, na fase lactente.  “Essa sugestão se dá justamente porque a criança se interessa por desenhos e estes têm uma dinâmica, uma profusão de palavras e imagens, diálogos intensamente rápidos, com atitudes estereotipadas ou repetidas. O tempo excessivo de tela faz com que a criança entre nesse mundo e o cérebro não está preparo para esse tipo de estímulo, principalmente as crianças pequenas, e os estímulos causam lesões cerebrais. O ideal mesmo é que as crianças até os 6 anos não sejam expostas”, diz.

Observe!
Em relação ao autismo, virtual ou não, o geneticista frisa que a melhor maneira de identificação e diagnóstico precoce é a observação dos pais em relação às atitudes e habilidades dos filhos desde bem pequenos. “Não tolere atraso. Deve-se observar se a criança está atingindo os marcos neuropsicomotores. No primeiro ano de vida: sustentar a cabeça, sentar, engatinhar e andar. Isso tem que acontecer aos 3,6,9 e 12 meses. Se não está fazendo isso, fale com o pediatra. E depois de um ano de idade, principalmente, observar a linguagem. Eu vejo nas consultas crianças com 4 ou 5 anos que não falam uma palavra sequer. Precisa ser investigado e é muito associado ao autismo. É importante dizer que as crianças que têm autismo por alterações genéticas, elas já apresentam sinais desde o início da vida. Mas no autismo virtual, a criança está normal e aí ela começa a ser exposta excessivamente às telas e desenvolve o autismo”, acrescenta.

Atenção aos filhos
Além disso, o Dr. Isaías faz uma recomendação importante: os pais têm que dar atenção aos filhos. “Um sintoma do autismo é a falta de contato ocular. A recomendação é o olhar nos olhos dos filhos. Sabemos que os pais hoje em dia são nativos de tela e aí fica a família toda sem se comunicar. Os pais devem brincar com os filhos e dedicar a eles. Observe o uso dos brinquedos. A criança deve brincar teatralizando a vida. Eu já notei que no autismo virtual as crianças olhavam e sorriam, mas depois da exposição às telas, elas começam a ignorar você e não corresponde. Mas, é impressionante também quando começa a tratar isso. Você identifica o problema, faz os exames, começa retirando a tela e fazendo terapia. Aí a criança vai evoluindo bem. Fique atento, os sinais começam muito cedo”, completa.