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Todo dia é dia de índio

Na semana dedicada aos primeiros habitantes do país, a importância das tribos é lembrada

Geral
Por Mariane Pessanha
19 de abril de 2021 - 5h40
Graziela Escocard | Pesquisadora diz que é necessário ressaltar sempre a importância dos índios através da história. (Foto: Carlos Grevi)

Eles eram altos, fortes, mantinham os cabelos compridos e eram considerados ferozes. Pelo menos era assim que os viajantes descreviam os índios goitacá, que habitaram a região no passado. Na semana dedicada ao índio, o Museu de Campos criou uma programação especial aos primeiros habitantes do país e em especial às tribos que viveram no município. Uma oportunidade de conhecer um pouco mais os esses antepassados.

A historiadora Graziela Escocard conta que havia na região as tribos Coroados, Coropó, Puri e Goitacá. A tribo goitacá ocupava boa parte das terras da Capitania de São Tomé e seus integrantes andavam pelados. Esses índios eram descritos como antropófagos, ou seja, comiam carne humana. Mas, segundo Graziela, era um costume comum entre esses povos.

“Gabriel Soares escreveu em favor dos goitacá em relação à antropofagia: ‘Nem são muito amigos de comer carne humana como os gentios atrás’. Entretanto, outros viajantes como Simão de Vasconcelos ficam assustados com as ‘rumas de ossadas’ nas portas dos índios goitacá , ‘quanto maior a ruma, maior a nobreza do morador’. O que acontece é que as pessoas se acostumaram a tudo de ruim e bárbaro jogar nas costas do goitacá. O que não significa que eram maus. Era um costume entre eles”, explica.

Mas, como saber qual era a rotina e o jeito de ser de tribos que passaram pela região há tantos anos? Um dos caminhos percorridos pelos pesquisadores e historiadores são as escavações. Em Campos, no sítio arqueológico do Caju foram retiradas cinco toneladas de material arqueológico, o que ajudou a saber um pouco mais dos costumes dos índios. O acervo é composto por material cerâmico de sepultamentos em urnas no solo e ainda de ossos e utensílios. De acordo com Graziela, o cemitério do Caju era uma lagoa e os índios faziam os sepultamentos em seu entorno.

Tribo goitacá| Índios são descritos em relatos históricos como altos, fortes e ferozes (Foto: Reprodução)

Extinção e importância
A extinção dos índios ainda é bastante discutida entre os pesquisadores. Graziela explica que no processo de colonização da região houve muitos enfrentamentos entre os índios e os portugueses. “Teve ainda o uso de roupas infectadas por varíola utilizadas com o modo de afastar os indígenas, combate com armas de fogo contra aos indígenas, que não possuíam tal tecnologia. Cabe ressaltar que o restante da tribo goitacá se assimilou com outras tribos que por aqui existiam também. Isso foi muito comum no Brasil. Forma pela qual os índios tentaram sobreviver e permanecer em grupo, tendo em comum seu modo de vida e sua cultura”, pontua.

Para a historiadora, falar dos indígenas é importante para que todos possam conhecer sua origem e como tudo começou. “Como historiadora, acredito que a nossa história começa com os índios que habitavam a região. Ao contrário do que muitos afirmam, que a história do Brasil se inicia com a chegada dos portugueses”, ressalta Graziela.

Mas, como essa história é contada hoje nas escolas? A diretora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia de Campos (Seduct), Tânia Alberto, diz que o município tem 153 escolas e 81 creches, mais da metade são classificadas como unidades rurais e isso significa que são escolas que trabalham com a matriz curricular diferenciada para educação do campo. E nesse contexto de educação no campo, os povos e saberes são valorizados.

“A compreensão do índio como contribuinte para a formação da etnia e da cidadania brasileira não é de forma alguma questionada. O conceito de que o índio é um selvagem é completamente ultrapassado. A nossa literatura de história está sempre revisando o conceito do índio como sendo os primeiros habitantes legítimos da terra e esse conceito é apresentado para as escolas. Em nossas escolas, quando trabalhamos a temática do índio goitacá, os professores nunca deixam de dizer a coisa mais importante: que eles são legitimamente os primeiros habitantes da região, fazendo alusão ao próprio nome da cidade”, finaliza Tânia.

História | Ossada chada em sítio arqueológico do Caju ajuda a contar a história da tribo.

Apresentação
O Grupo Oficina de Texto Terra da Alegria (Gotta) vai celebrar o Dia do Índio, comemorado em 19 de abril, com uma apresentação de Colar de Trovas da União Brasileira de Trovadores (UBT), feito exclusivamente para os alunos do Gotta. O projeto é ligado à Seduct. Para o secretário da pasta, professor Marcelo Feres, a data deve ser considerada como um motivo de reflexão sobre os valores culturais dos povos indígenas.

Programação Museu de Campos

l Domingo, 18 de abril, às 10h — Exibição de vídeo especial sobre o acervo arqueológico do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes. Participação de Auxiliadora Freitas (Presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima) e Graziela Escocard (Historiadora).

l Segunda-feira, 19 de abril, às 18h — Live com Sylvia Paes (Historiadora e integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Campos) e Graziela Escocard (Historiadora), tema: “Educação Patrimonial e os Vestígios do passado”.

l Terça-feira, 20 de abril, às 18h — Exibição de vídeo especial sobre a localização do Sítio Arqueológico do Caju – RJ-MP-08. Com Graziela Escocard (Historiadora).

l Quarta-feira, 21 de abril, às 18h — Live com Divino de Oliveira (Arqueólogo, membro do Laboratório de Arqueologia Brasileira) e Graziela Escocard (Historiadora), tema: “Escavações Arqueológicas no Sítio do Caju”.